quinta-feira, 16 de maio de 2019

AMIÚDE



Do que seja uma vírgula, uma noite passada ao acaso,
Das fronteiras dos que se desejam e se evitam,
Do mar e suas multidões de rochas,
Do ponto final até a reticência…

Não que não fôssemos, pois porventura somos ainda
E nos fazemos pulsar qual ribeiro e sua correnteza
Que escoa, que verte do olho d’água e que sabe
O que se há de saber sobre a terra, ou quase nada!

Do pé escalavrado que pisa o asfalto,
Da mãe que entristece a mesa vazia,
Do filho que possivelmente possa
Ter um estudo que seja, um libertar.

Que se dissesse do simples e transparente
Tapete de vidro em meio ao concreto
Nas laterais do prédio uma mão obreira
Que permanece infatigável e não desiste.

Da grama rente ao piso e suas formigas,
Do tilintar do rico em meio ao seu níquel,
Da prostituta que esquece seu preservativo
Em uma gaveta onde lembrou-se do batom…

Urge a urgência mesma do tempo
Daquele em que nos viramos
Quase do avesso no sentir da fronte
Que perpassa na frente de nosso ato..

Seremos quase loucos ao afirmar
Que ao recrudescer da fera
Dá a nossa reiterada vida
Um passo a mais no fremir da alma.

A quem não seja tonto de quebra
Vem a linha da roda quase viva
E carrega um tanto do sacrificado
Porém de não se saber exato.

De tantas coisas e detalhes anexos
O mural da inspetoria se ressente
De assistir que nem tudo se resolve
Em páginas restritivas ao acaso.

Na selva onde encontramos o quê
Porventura não sabemos a causa
Daquilo que seja pronomial
Ao verbo que nos indique uma voz!

Ressente-se o marulho das ondas
No quebrar de nossas proas silentes
Onde o querermos ainda algo a mais
Nos verte como que na rua desnuda.

O manifesto de Brèton, maravilha
Dos sete mundos imanifestos
Da história desconhecida onde
Jung já houvera do arquetípico.

Mas que no comportamento
Há salas espaçosas de estudos
Que revelam não sabermos quando
O externo se faz presente fora do imo.

Uma releitura das faces promete
Identificar sentimentos, mapear,
Instigar curiosas serpentes
Que veem, no braço girante, ameaça.

Não, que os anéis nos revelem
O nosso casamento sagrado
Com tudo o que se promete
Naquilo que seja consagrado.

A ver, uma dança tupiniquim
Mostra a quem quer ver maior
O samba que da síncope marcada
Retrai a anticultura nefasta e nua.

Muito se diz do que não queremos
Quando algo se remonta no querer
No sentido lato dos desejos
Que deixamos anoitecer nos colos!

O poeta segue sempre, apesar,
De se crerem outros com adagas
Quaisquer que sejam por fora
Daquilo continuado de, por arma, crer.

Não se ressinta que no alvorecer
Teimarmos em crer na paz
Que seja, em um átomo de luz
Onde o sol reverbera dentro e fora.

O que se pense ser medido
Não encontra o fato de mensura
Quando se dite que de modo vil
Queira saber-se da dimensão de Deus!

Não se conta a hora de se perder
Algo que já se ganha no espírito,
Posto ciência devocional resida
No alimento oferecido ao sagrado.

Nisto de ver, veremos o céu
Nublado como pode o real de ser,
Visto que veremos o próprio azul
No infinito de nossa possibilidade.

A cada estrofe de um pensar manso
Se saiba da força em encontrar amiúde
Um vento que emana de um sorriso
De uma criança ao menos alimentada.

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