quarta-feira, 8 de maio de 2019

MODALIDADES REVERSAS



          Os sinais que expressamos podem assumir funcionalidades outras do que a própria intenção de dizermos algo a alguém, ou de elucidarmos com sucesso algum enigma, algum mistério onde a solução não depende tanto da inteligência, mas sim da intuição. Como um ponto, uma vírgula onde não imaginamos que esteja mas, ampliando as possibilidades, o mistério pode ser uma boa razão para se escrever algo, que seja, uma história, uma expressão de arte. Nas modalidades diversas dessa arte da literatura está o reflexo por vezes de elucidarmos o que queremos dizer com o fato novo da história, com o recorrer das letras, ou com o engenhoso desenho… Podemos, se quisermos, lidar com a arte como premissa básica da existência e como companhia inviolável do ser criador com os suportes de suas criações. Por mais que estejamos estritos a qualquer sistema normativo, apesar disso o voo é grande se depender do espírito sublime que a arte confere na expressão dos nossos atos. Nada é mais rigoroso do que estarmos navegando sobre o mar da arte, quando se sabe que – mesmo sem ter a vida regalada de prazeres mundanos – pode-se recriar um espaço dentro dos limites da fronteira do conhecimento, igualmente, pois a filosofia é um recurso literário que igualmente nos remete à beleza do ser… E por si as fronteiras do conhecimento dão sempre um respaldo àqueles que são curiosos por saber e diligentes no aprendizado, para não citar a vida da religião, que é o esteio maior quando se respira fé através dos poros!
          Um poeta, quando está escrevendo, pode atingir os píncaros do prazer, pois para ele a felicidade suprema em termos de arte é construir seu poema com o ímpeto da realização, com o mote da cultura, com cada vírgula, cada verso, cada bloco de letras a construção inequívoca da arquitetura suprema, conquanto na filosofia estará presente, no seu movimento reverso de saber que na prosa existirá a poesia, e que na filosofia a modalidade aparentemente é reversa, mas indica igualmente um índice de sinalizações onde se faz presente o conhecimento das mesmas letras. Então que a fronteira se refaça, que não haja muita distinção, pois onde está a tese esta a antítese, e onde reside o nexo está seu contraditório. Onde está a ofensa está a bondade, e onde está o ignorante, reside perto a sapiência. Podemos errar crucialmente com relação ao mundo, ao país, às mesmas fronteiras que na verdade não passam de convenção humana, tornando por vezes a existência difícil em muitos lugares, mas tudo faz parte de uma energia suprema, como as pérolas são ensartadas em um cordão. Mesmo uma mentalidade diligentemente beligerante nos fará optar pela paz, pois quem reside nesta está em comunhão com a Natureza, seja ela espiritual ou material.
         Pois bem que a grande poesia vem do Bhagavatam, o Purana imaculado, e quem conhece esse texto sagrado pode saber que está situado transcendentalmente, e que todos os artifícios mundanos para tirar os homens de seu estado original de conhecimento e transcendência tendem a fracassar. Este archote do conhecimento é maior do que as trevas da dualidade, da reversão do Eu, da matéria nada sutil que domina os sentidos, do falso Ego que mina o estar-se de acordo com um andamento maior e mais importante da nossa experiência com este planeta provisório, onde já enfrentamos o início da Era de Kali. Devemos estar cientes que atravessaremos grandes oceanos de desavenças e hipocrisia, mas temos que possuir o mesmo grau de consciência que nos fará não retornar mais a esta condição quase infernal de vida. Para nos libertarmos do Samsara – o oceano de nascimentos e mortes – temos que adquirir o conhecimento transcendental que Krshna – e só Ele – confere aos devotos e devotas deste mundo de passagem! A não ser que o homem passe a respeitar o seu próximo, a não explorar do modo como tem feito a forma de vida humana nesta selva de matéria, se o homem não aproveitar uma era de mais luzes que ainda temos pela frente, não se pode pensar que o mundo terá soluções... Nem reversas e nem de lado único, de um modo que seja, pois antes de tudo há que se ter respeito por si e por todos, considerando todos os seres vivos como iguais a nós, que estamos desperdiçando nossa forma de vida privilegiada para destruir o planeta e cometer maldades contra o próximo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário