O VISÍVEL E O INVISÍVEL
No
que resta a algo, as sobras quiçá de um alimento, se for oferecido
ao Supremo, será sempre sagrado, como prashada que come-se sabendo
em se purificar. De um punho cerrado para uma luta não há lugar
conforme do visível, posto não alimento, violência, atitude de
regresso, que impinge sofrimento. A que muitos pertencem à categoria
da violência, e esta, quando se compra uma arma, não aparece na
bala o estrago que se faz na carne, mas apenas a predisposição
afoita de querer usá-la na coragem e na covardia do ódio. O
invisível torna-se visível na compra da arma, na aquisição, no
treinamento compulsório, haja vista o alvo ser uma silhueta de um
ser humano. Quando se pretenda usufruir da segurança de si mesmo, na
verdade se está agindo conforme uma visibilidade em que muitos
querem a crença de estarem muitas vezes defendendo o mal com o bem,
a rigor, o trocadilho insano, que seja, o bem pelo mal. O ato da arma
é de pressão inequívoca, tanto por se estar na zona sul, o
permitido matar, ao que esteja na periferia, o permitido morrer… A
insolência, o álcool, as drogas e aquela posição da sobriedade
fria que gera a permissibilidade de uma intenção dolosa fere o
princípio máximo da dignidade humana. Mas nos falamos sempre o que
está em pauta grandemente que é a questão religiosa. A princípio
não pode haver religião, ou o ato de “religação” com a vida,
com o espírito se não houver atitude sincera, porventura se em uma
escritura se aprende a dissimulação, a hipocrisia, qualquer caminho
turvo ou tenebroso para se conseguir uma pretensão de utilizar a
mesma escritura como recurso de uma “maldade necessária”, a
sociedade onde isso ocorre é profundamente contaminada pela ideia
parva da ignorância, onde o bem se confunde com o mal e a ação de
fins que justifiquem os erros demanda que se descarte esse processo
desde suas raízes podres, posto nenhuma religião que pregue a
maldade como caminho pode ser denominada religião por si, muito
menos quando utiliza a palavra de Jesus Cristo. O ódio a algum
manifesto de pensamento, o tolhimento da cultura de um povo, o
sacrificado modo de que a pobreza é inferior à riqueza, a relevante
negação da arte popular recrudescem fantasmas que se tornam
visíveis a olho nu: decrépitos na intolerância, decrépitos na
ignorância, mesmo com letras infinitas de leitura única. Quando
Jung falava na vontade de poder de um ser humano já quebrava o
processo psíquico do que o poder pode fazer com o indivíduo, e como
esse poder pode vir a ser utilizado pela maioria, ou uma coletividade
com peso e força, avizinhando nuclearmente uma reação muitas vezes
totalitária e assustadora. As diferenças que fazem aumentar a
idiossincrasia da sociedade, e a convergência ou divergência
saudáveis de opinião, o debate contínuo e a conquista de se
fomentar mais espaços para a filosofia, as artes e a literatura
fazem de um povo a soberania existencial mais do que necessária,
porquanto essencial. Essa é a visibilidade onde muitas vezes a
discussão e a releitura do que está certo ou errado, mira no
pressuposto de que um cidadão por vezes sequer tem interesse de se
imiscuir nesses assuntos, uma tomada existencial que sempre deva ser
respeitada, mas a dignidade material é fundamento indissociável na
construção de um dinamismo de mercado e da mitigação da
desesperança que afeta todas as classes sociais, algumas pela
concretude da situação, e outras por sensibilidade humana e
preocupação com os rumos de nossas nações. Não importa quem é
quem, se somos diferentes por convicções por vezes ou sempre
discutíveis – quando estas se posicionam sem flexibilidade e
soerguem coativas –, mas há que se observar que as fronteiras
aparentes desse processo que querem fazer parecer complexo não têm
muita razão de existir, posto um sapato que está sendo fabricado na
Itália pode aparecer, na outra ponta, dentro de um brechó de uma
Igreja, onde um ex faminto pode estar bem calçado. Tem-se que
admitir que uma guerra comercial nada tem a ver com o liberalismo ou
a globalização, posto o oposto destes é intervencionismo estatal,
e quando verse quase ou aparentemente invisível sobre uma população
carente, tornando a sua vida mais dura, aparece como rocha marinha
que afunda o barco mais solene que se pretenda na tentativa quase
absoluta de se navegar sem rumo, com o leme travado pela popa.
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