terça-feira, 28 de maio de 2019

O VISÍVEL E O INVISÍVEL


          No que resta a algo, as sobras quiçá de um alimento, se for oferecido ao Supremo, será sempre sagrado, como prashada que come-se sabendo em se purificar. De um punho cerrado para uma luta não há lugar conforme do visível, posto não alimento, violência, atitude de regresso, que impinge sofrimento. A que muitos pertencem à categoria da violência, e esta, quando se compra uma arma, não aparece na bala o estrago que se faz na carne, mas apenas a predisposição afoita de querer usá-la na coragem e na covardia do ódio. O invisível torna-se visível na compra da arma, na aquisição, no treinamento compulsório, haja vista o alvo ser uma silhueta de um ser humano. Quando se pretenda usufruir da segurança de si mesmo, na verdade se está agindo conforme uma visibilidade em que muitos querem a crença de estarem muitas vezes defendendo o mal com o bem, a rigor, o trocadilho insano, que seja, o bem pelo mal. O ato da arma é de pressão inequívoca, tanto por se estar na zona sul, o permitido matar, ao que esteja na periferia, o permitido morrer… A insolência, o álcool, as drogas e aquela posição da sobriedade fria que gera a permissibilidade de uma intenção dolosa fere o princípio máximo da dignidade humana. Mas nos falamos sempre o que está em pauta grandemente que é a questão religiosa. A princípio não pode haver religião, ou o ato de “religação” com a vida, com o espírito se não houver atitude sincera, porventura se em uma escritura se aprende a dissimulação, a hipocrisia, qualquer caminho turvo ou tenebroso para se conseguir uma pretensão de utilizar a mesma escritura como recurso de uma “maldade necessária”, a sociedade onde isso ocorre é profundamente contaminada pela ideia parva da ignorância, onde o bem se confunde com o mal e a ação de fins que justifiquem os erros demanda que se descarte esse processo desde suas raízes podres, posto nenhuma religião que pregue a maldade como caminho pode ser denominada religião por si, muito menos quando utiliza a palavra de Jesus Cristo. O ódio a algum manifesto de pensamento, o tolhimento da cultura de um povo, o sacrificado modo de que a pobreza é inferior à riqueza, a relevante negação da arte popular recrudescem fantasmas que se tornam visíveis a olho nu: decrépitos na intolerância, decrépitos na ignorância, mesmo com letras infinitas de leitura única. Quando Jung falava na vontade de poder de um ser humano já quebrava o processo psíquico do que o poder pode fazer com o indivíduo, e como esse poder pode vir a ser utilizado pela maioria, ou uma coletividade com peso e força, avizinhando nuclearmente uma reação muitas vezes totalitária e assustadora. As diferenças que fazem aumentar a idiossincrasia da sociedade, e a convergência ou divergência saudáveis de opinião, o debate contínuo e a conquista de se fomentar mais espaços para a filosofia, as artes e a literatura fazem de um povo a soberania existencial mais do que necessária, porquanto essencial. Essa é a visibilidade onde muitas vezes a discussão e a releitura do que está certo ou errado, mira no pressuposto de que um cidadão por vezes sequer tem interesse de se imiscuir nesses assuntos, uma tomada existencial que sempre deva ser respeitada, mas a dignidade material é fundamento indissociável na construção de um dinamismo de mercado e da mitigação da desesperança que afeta todas as classes sociais, algumas pela concretude da situação, e outras por sensibilidade humana e preocupação com os rumos de nossas nações. Não importa quem é quem, se somos diferentes por convicções por vezes ou sempre discutíveis – quando estas se posicionam sem flexibilidade e soerguem coativas –, mas há que se observar que as fronteiras aparentes desse processo que querem fazer parecer complexo não têm muita razão de existir, posto um sapato que está sendo fabricado na Itália pode aparecer, na outra ponta, dentro de um brechó de uma Igreja, onde um ex faminto pode estar bem calçado. Tem-se que admitir que uma guerra comercial nada tem a ver com o liberalismo ou a globalização, posto o oposto destes é intervencionismo estatal, e quando verse quase ou aparentemente invisível sobre uma população carente, tornando a sua vida mais dura, aparece como rocha marinha que afunda o barco mais solene que se pretenda na tentativa quase absoluta de se navegar sem rumo, com o leme travado pela popa.

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