segunda-feira, 13 de maio de 2019

TEIMA O TEMPO



Tem o tempo que teima em teimar,
A teimosia de um relapso, o nexo que termina
Quando o mesmo tempo recrudesce na rua
E um viandante nos pede um cigarro, suado,
Na própria fronte de quem oferece, azedo,
No tom de mossa, um tom de quem não vê
E que creem o dó de um quixote que seja
A mais de não poder, pois que usa barba ilegal
Posta não retocada na última barbearia fechada!

Na colina que sobe, venha o passo inquieto
No sobranceiro caminhar, na teimosa perna forte
Que teima, que queima no joelho, quase rompe
Em uma ilíada em que dante convocaria aqueronte
Para percorrer depois da entrada ao Inferno!

Pois que teime e queime a esperança a um ou dois
Que sejam, estarem juntos por um acaso
E que um é pobre e o outro é rico, qual não fora,
Talvez não estivesse caminhando naquela altura
De um dia proibitivo do caminhar, do risco
De estar vivendo no Sul, assim mesmo, em sul.

Qual norte que fosse de estranha bússola
Nas genitálias do vento que se reserva
A ver que o som da tempestade não se escuta
Na mesma latitude em que o verso empresta
A arte de um caminhar seco que diz que o tempo
Aquele se reserva ao direito de caminhar chuvoso…

O olhar da fantasmagoria do voo negro
De um pássaro corviáceo distante do seco mar
Distante léguas de qualquer ruido a dizer
A qualquer legado de um dia o ultrapassar
Da noite que tece lânguida a companhia ao poeta!

Dita-se nuvem, dita-se sombra, diz-se negócio
O que não seja, pois sobrevive o ímpio
Quando vê que no crente possa residir a montanha
Que se desfaz em um tonel de carvalho a ser
Tudo aquilo que a memória historiada em Lei
Relembra que um dia a tessitura de seu linho
Predizia melhores dias, quem sabe, ao longo
De toda a trajetória inacreditável
Que talvez haja tido infância na história infame.

De difamar se difama, ao léu,
De dizer crostas de ferida se fere, ao céu
No palato de nossas falas, o desejo cru
De ser quem não se é, de um despejar
De palavras inutilmente arrevesadas
Pela taxa de normalidade aceite
Porquanto tente-se do justo, jogue-se da lei
Aquele que não sabe se proteger
Do que não perdura tanto, um sistêmico
Cacoete que ensombra o ignorar
De um gesto qualquer que roga ao criador
O ente criado por si, o ser que é mecânico
Em um icônico mastro interrompido,
Uma meia lua histriônica,
Ao menos o que se deseja que o homem
Seja porventura alguém normal
Para poder responder á casualidade
De uma relação desigual
Com a normalidade.

E a análise vem de roldão, como em espera
De se esperar uma nuance sólida como o fato
E a ciência de se encontrar ao menos a brecha
Em que se supõe o xadrez vencer a listra
Ou os tabuleiros virarem linhas que não encontram
Nem mesmo a superfície daquele tempo que se diz
Onde a semiótica encontra-se com a lenda do não
Se estar adiantada a lógica por aquela suplantada…

Não que não se prega a filosofia, pois o almanaque
Sossega quando o filme for feito de encomenda
No achaque que se pegue ninguém, pois o que quer
A poesia é ser encontrada com a transcendente
Palavra que não pode ser significada, e não!

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