Estava
um sol meio tímido na rua, quiçá no mar se apresentasse distinto,
mas qual, era quase o mesmo sol das manhãs daquele outono. No Sul as
folhas não representavam com sua queda o que se esperasse da estação
e, no entanto, o vento nas palmeiras era cúmplice de seu próprio
tempo em que por vezes seu ruído se confundia com o bramido do mar.
Alice havia voltado de São Francisco dos Estados Unidos da América
e algo havia de ressentimento com Adriano, que sequer a buscara no
aeroporto. Se encontraram meio a contragosto dentro de uma
lanchonete, em Florianópolis, e o país meio que fervia por si, meio
que possuía o vento dentro de si… Aquela viagem, suas jardas e
jardas obscureciam a facilidade da distância e Alice não sabia que
Adriano não curtia viajar, nem mesmo por estradas, mas adorava
caminhar seus caminhos. Quem dera fossem falar de outros caminhos,
mas os quilômetros igualmente poderiam ser jardas no caminho do
andarilho, ou do praticar-se a caminhada, qual não fora, alguns
simples passos a perscrutar lugares. No caminhar de Adriano quem dera
um quilômetro de entendimento de uma paisagem mais longa fossem três
ou quatro seus passos, para algures, quem viesse, a ver, que a cada
passo vinha uma nova percepção, em outro passo outra e, quem dera
aprouvesse a muitos, nunca nem os postes seriam os mesmos a cada
minuto, ou a cada segundo a conformação de uma borboleta em seu
voar inquieto.
No
entanto, muitos se deslocavam de um ponto a outro conforme
mapeamentos, respostas eletrônicas e mesmo sabendo de certas
distinções da percepção humana, só o que pertencesse a tais
respostas por vezes era-se compulsoriamente o valor de algo, onde o
comportamento gerava a riqueza da ação e o objeto eletrônico o
universo consoante a se gerir algo de Deus de estamentos onde o gesto
usufruiria da resposta supracitada do clicar, e onde um futuro
igualmente linear estaria nas mãos de uma tecnologia 5G, o que vem a
dar no grego naqueles que não possuem sequer um rádio amador…
Pois
se Adriano rimava alhos com bugalhos, de qualquer modo não era pobre
e possuía um celular razoável, na própria conformidade de algum
meio, porém para ele não tão importante, porquanto mais invasivo
do que a respiração que prezava tanto. Estava sentado em uma mesa
quase central no estabelecimento, várias (duas ou três) câmeras no
teto diziam ser uma boa lanchonete. Alice o vira na mesa. Acenou a
ele, e a coisa parecia irreal, tanto o tempo que estiveram distantes
um do outro, cada qual com sua história. A eles não parecia muito o
encontro de um homem e uma mulher assim – de público – quaisquer
que fossem, sem muitos ensaios, mas efetivamente ventilava a
possibilidade de ser algo sincero, o que talvez de certo modo ferisse
expectativa de espectadores profissionais. Daqueles que olhassem por
mera curiosidade, ou seja, tal homem não está mais single,
tal mulher seja uma parceira que calhasse, o que falam, o que se diz,
ou que tudo não passasse de um mero filme às avessas de uma trilha
ficcional. Pois que a busca incessante da informação já fazia
parte daquele mundo onde tudo valia por esse simples critério. Esse
jogo algo de blefar, essa cautela desmedida de não ser quem se é.
Novos tempos, e parecia ao mundo haver dois times, com todas as suas
variantes estratégicas, ou em um xadrez insípido onde há rainhas,
peões, cavalos e xeques. Onde um olhar terno ou cinematográfico
pode ter sido ensaiado em um suposto treinar-se ou mesmo na
cumplicidade de um espelho. Daí que porventura Adriano visse em
Alice uma mulher, esse era o seu universo de integridade onde o
absoluto em seu caráter lhe dava a dimensão de um não blefar com
as pessoas, de garantir alguma verdade que porventura ainda se
pudesse ter, no código certo da conduta certa. Ou talvez a ilusão
de toda uma questão social de linhagens redobradas revisitassem
missões para as quais O Príncipe de Maquiavel se tornava
acessório indispensável nas cartilhas de certos procederes. No
entanto, Adriano continuava single, e isso talvez extenuasse
alguns sujeitos de diversas orações coordenadas ou assindéticas,
posto estas serem mais traduzíveis ou, na simplificação extrema,
não de um haver demasiado complexo, posto sem qualquer injunção
esperada: um elemento de palavra, um período, como se basta a um.
Nessa simplificação quase motora, o que estaria já não estava
tanto, e o olhar de Alice já não era mais o suficiente, pois
existencialmente naqueles tempos, o nulo estava vindo antes do
carnal, do selvagem, o nulo querendo existir, e o selvagem abrindo
passagens sobre o nada.
Não
que fizesse muito sentido, mas ambos começaram a conversar sobretudo
naquela estação de inquietações diversas, naquele outono de
folhas verdes ainda:
-
Olá, querida, tudo bem?
-
Há quanto tempo meu caro… Volto de viagem… Estou repleta!
-
Bem se vê, você me parece um pouco europeia.
-
Tardo nisso, Adriano, tenho apenas algumas fotos para mostrar.
-
Quem dera, se eu pudesse, mas tenho que fazer um bico.
-
Diz-se que no país muitos estão assim...
-
Eu não fujo à regra. Pera lá, o whatsapp…
-
Logo vi, também trouxe o celular.
Começou
a dedilhar. Estava com muitos compromissos. Deveria ir a um coquetel
de abertura de uma exposição virtual. A nova câmera certamente me
havia reconhecido com o reconhecimento facial, e Alice não se dera
conta de sua própria imprecisão. Eu não havia lhe dado maiores
pistas sobre como eu andava, nem quais as jardas inquietas passavam
sob meus pés, não havia, portanto, qualquer sinal de intimidade
sobre qualquer assunto. Maravilha, a coisa se passava assim… Era um
Admirável Novo e velho Mundo! As notícias vinham e a última
bem quentinha, e a última altissonante era que havia um novo
Presidente em um lugar da América, e que porventura utilizavam para
ele uma ferramenta que jamais saberíamos ao certo o que era, pois
demandava um uso quase ilimitado, em qualquer plataforma.
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