sábado, 11 de maio de 2019

CRUZANDO A ESTRADA



          Andei por algum tempo, pensei em ir a uma farmácia, sei lá para que, talvez um composto de guaraná que me garantisse um pouquinho de energia… Estava com o celular: muitos do outro lado, e a rua eletrônica lembra uma avenida, com muitos faróis, secos, sem o brilho, desses que a gente vê que estão por trás do muro, se houver um, como tantos e tantos, mas qual o que, na farmácia nos convidam a entrar, não há muros nem trincheiras. Estas, nas filas que se enfrenta no descaso de uma medicina que isenta de culpa seus agentes, pois que falta o salário, falta a convivência salutar, um diálogo que seja, que não se ausculte sempre… Oxalá!
           Passei a tomar um café de viagem, não, que não havia parado de fumar o tabaco, e o pitar me faria estar de acordo com uma ilusão mas, concretamente, a ausência da nicotina havia me havia tirado os talentos da carteira. Como em Roma: Roma, cidade aberta de Fellini, um grande, e o processador de texto ainda teimava em colocar Fellini grifado como palavra inexistente, assim no colo de nossa ignorância, ou quiçá na ignorância algo parva do algoritmo. Quem sabe um algoritmo da reserva, da taba, da região indígena. Não, não poderia haver o jogo de jogarmos com um ninho de selva, havendo-se no entanto de se falar em guerra, pode-se? Taí uma tag-question… Talvez não muito bem formulada, mas segue-se, o caminho que cai na estrada, em um simples estepe, um algo de se não saber, o diâmetro do quilômetro, assim, de celular na mão, ou o que não há, e se há haverá de ser… Igualmente, o porém, o talvez! A se falar de um talvez, quem sabe no enquadramento dos rótulos haveria uma explicação: fascismo, nazismo, comunismo, socialismo, judaísmo, evangelicismo, catolicismo, pera aí, evangelicismo não dá, não existe, quem sabe, testamentismo, também não existe, mas vem a dar no cristianismo, o que nomeamos, e o que se sabe, mas que não se separe muito o Antigo do Novo, o moderno e o contemporâneo, pois os tempos são modernos na contemporaneidade, isso de se colocar, quase um locutório a se rogar para sermos um pouco mais adultos. Violência, ciência, paciência, renitência, penitência, existência? Seremos a partir de sufixos quase latinos e, no entanto, anglo na alma ou na medula que nos impõe a floresta sem flores de concreto? Um dia não sairei a caminhar, terei que romper meus próprios monstros que deixei adormecidos em cada esquina, mas quando uma gaivota ao longe, mesmo em um filme, quando um cão meu ou sem dono me acena com o rabo, torço para que não seja ilusão, mas apenas a face de que, nesta selva de cidades, encontramos outras almas viventes, e que me dê a licença o meu Senhor São Francisco, pois minha alma se dobra a esse grande homem santo. Que faça de mim seu seguidor, que segure os pássaros por mim, mas falemos de engrenagens, que melhor sei das máquinas como pecador que sou, como o homem mais caído da Terra, o devoto último que está marginando os erros, e que caminha ao lado dos infelizes, pois a minha única felicidade é criar uma aura melhor para os sofredores, que seja, posto sofrer também, e são todos, agora pedindo a licença aos que fazem uso do prazer desmedido, que não partilho desse prazer, pois já me foi dado esse quinhão e essa porta aberta, já me foi dada toda a tentação humana, e não partilho disso, mesmo que me ofereçam em uma bandeja de prata o cristal da imortalidade, se é que haja tamanha insensatez.
         Na estrada, apenas isto, estarei na estrada de uma esquina, a ver uma gorda, a compartir do sorriso de um louco, a presenciar uma vítima de si mesmo, a acenar para o vento que bate nas bananeiras, a compartir igualmente da rebeldia daquele nas palmeiras, a ver quiçá o sétimo império cair, sem saber a ordem e nem se existiram cinco, a ver, que Roma se reconstrua e que uma criança possa brincar sem ter seus pais de leões de chácara em um parque, que possamos caminhar na mesma estrada onde não usem o carro como arma, e nem a arma para conseguir um carro… Simples, é simples a vida, e é – meus amigos – como se apresenta, neste pedacinho de algo que se chama município, fronteira de um estado, capital ou não, veste, ponte, queda, circunstância, rodo, vassoura, sabão ou petróleo e gosto, posto começar a caminhar agora pensando em uma engrenagem suja do óleo podre de sangue, assim, me parece, perdoem-me os meus sacrifícios. De sacrificada vida vamos vivendo, nos penitenciando e, no entanto, levando a esperança para aqueles que gostam de meter um feijão por goela, que amam se alimentar e aos seus, que detém em seus músculos a força de seus espíritos e que lutam bravamente contra a única possibilidade possível de se ter a condição necessária em momentos críticos por que atravessa o continente, dessa luta pessoal ou impessoal de se ter a fé em saber no quê, que seja, no tambor, no pandeiro, na bíblia, no trabalho mas, por um amor divino, nunca no crime, pois para isso já há inferno em terra crua, já há muros, já há guerras. Por um acaso, não suportaríamos nem mais um tipo de napalm, quanto mais quente não é bom, isso é fato concreto, e jamais será de merecimento que algum soldado esteja em linha de frente com um irmão continental para contingenciar interesses de usurpadores de nossa moral e de nossa cultura. As fronteiras só existem por convenção, todos habitam o mesmo planeta. Portanto, a espécie é toda de uma mesma família, de um tipo de ser da casa comum...

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