domingo, 9 de julho de 2017

O DIVISIONISMO

Grata seria a alma não ser dividida entre o que nos fazem pensar
Àquilo de que não somos quando bebemos de algo que o sucesso nos manda
A crermos ser uma página que não viramos, um leme que não desperta,
Um farol que soçobra e sua túrgida escuridão de não ter mais energia…

E as lamparinas de nossas condições nos põem à prova quase convictos
Na outra invicta fama que se nos nubla o tempo e, quando chove,
Deixam molhar aqueles que não suportariam o cárcere dentro do cárcere
Como outros não compreendem o que é revolucionar dentro da revolução.

Talvez a quebra de um estigma negro seja o teor da palavra tão sentida
Quanto de sabermos que dizemos muito quando por fazer nada falamos
Ao ocultar de um líder verdadeiro por posição a posição ausente das rochas…

A um dizer-se a uma pessoa qualquer, que o fundo da palavra é a espera
De termos esperança, e que nos mova a uma altura, na mesma que seja
Em que não caiamos além do chão, posto a embalagem de uma garrafa
Encerra em si a água que não tecemos enquanto os dotes de cidadão.

Que seja plena a cidadania, e aqueles que não olham para um cristal
De falsete tímido, aqueles que urgem por temer que não mais temam
Pois o que se diz na ausência de nossas separações não regem tanto
Aquilo que se encontra com o falsete das claves das músicas encontradas…

E quando encontramos uma flecha em um olhar, um colo de gestante,
Um som inenarrável de um povo mais solidário entre as gentes,
Que saibamos que dizemos por vezes algumas palavras algo pisadas
Na dor de um dormente solitário que segura parte dos trilhos a um vagão.

E no cordame de tantos e tantos somos tantos os contêineres de boa fé
Que mal saibamos de onde está um lote de ferro gusa, uma peça de lona,
Um tecido de Madagascar, um panejamento ancestral, uma outra espera
De sabermos que algo de pujança também reside na logística do cristal!

Aí pensamos, quem somos e para que viemos ao mundo, como pousamos
Depois do útero em terra, no leito, quais os calçados que não possuímos,
Quais as mães que não viram seus filhos, o porquê de nascermos em fronteira
Que nos diz que somos de algum lugar, nos atesta, e não vemos mais um país.

Se o mundo é duro como a pedra tão necessária de se endurecer, a ternura
Se desencontra com o medo imposto que nos reserva apenas o pensamento
De que porventura estaremos e estamos nos conflitos criados pelo invisível
Sistema em que agora a moda é ser duro apenas, sem canduras imediatas.

Segue-se a impressão algo latente que nos signifique um pouco mais
Do que aquilo que parece que não merecemos de tal cansaço e loucura
A que submetem os mais fracos por estes serem muito mais fortes e justos
Em seu código de honra, humanismo e conduta, perante esse jogo irreal.

Esta poesia tem um endereço, tem um registro, está no leito digital
Escutando-se em todas as linhas, e que estas sejam um grande cruzar-se
Em que pensemos que na verdade não separe nunca o significado princípio
E algo do verbo último, quem sabe, que caiba ainda na linha primeira…

E eis que o poeta sofre um sofrimento quase moribundo de sua costela
Que não vem a ser um influxo de todos os sofrimentos desabalados
A um retorno do que não se retorna, pois assim é: não há supremacia
Nem jamais seremos superiores a quem quer que seja, seja lá o que for!

Na mesma vértebra de crucifixões lembremos de que os atalhos inexistem
Pois são outras linhas estas, desencontradas, e teremos que urgir
Para que fechem os caminhos pela retaguarda de nossas impressões
Antes que os lobos devorem a inconsciência que querem recriar.

Seguem-se as pedras em alguns cais de não uso, na profética e angular
Pedra em que pousamos um pensamento algo, de não sabermos quase
A que ponto poderíamos soletrar a palavra louco sem vertermos
Uma lava quente sobre os costados já curvados de todos os enfermos.

Pois bem que sejamos, e que nos baste que nos avaliem sintaticamente,
Pois das palavras que sejamos o verbo outro que muitos não compreendem
Quando nosso verdadeiro desejo será apenas versejar versos de um tempo
Ao qual devemos lutar para nos resguardar de nossa memória a cultura popular!

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