Estamos
acompanhados, e no entanto vemos não mais ao entorno, e esse encontro não
necessariamente produtivo entre um smartphone e o que habitamos, ainda que –
importa muito – estejamos nas ruas, é nas mesmas ruas que encontramos os
olhares. O celular moderno nos capacita muito em produzirmos nosso lazer,
nossos amigos, nossos afazeres e negócios. Funciona mais como um contato humano
mas, para economizar créditos, muitos se restringem ao wifi, estando como
navegando entre um estabelecimento e outro para encontrar contatos só
verdadeiramente possíveis através do celular. Nossas vidas mudaram com esses
novos celulares, e em muitos países eles são como que um outro membro de nossos
corpos e inteligência. Podemos pedir um prato na França que o aparelho traduz o
pedido, podemos rabiscar um desenho para outros apreciarem em questão de
minutos. A foto é instantânea, a mensagem não é paga com o whatsapp, e tantas
vantagens, que não enumeraremos todas. Vantagens relativas na relação entre o
poder do conhecimento e o trabalho em si, as vertentes do uso e a capacitação
mais efêmera do sistema que se chama pioneirismo, ou a luta em se fazer algo
novo, “lançar” o navio ao mar: launched... Isso se torna importante àqueles que
não possuem muito capital de lançamento de uma empresa, e tem que contar com o
assenhorear-se de seus clientes de modo ferrenho, com todas as atualizações
necessárias até mesmo para o convencimento, e os modais de “criatividade” que
impulsionem seus negócios. Empresas como o Sebrae fornecem as diretrizes,
prestam um grande serviço àqueles que querem começar uma micro empresa, por
exemplo. No entanto, a cada dois anos a grande parte dos empreendedores micro e
pequenos soçobra. A luta no mercado é desigual. Como na computação e seu
surgimento: hoje é necessário muito mais conhecimento e atualização e ser mais
especialista do que, há um tempo atrás, o próprio diagramador de um jornal, por
exemplo, recebia enquanto era pioneiro na tecnologia de desktop Publisher, uma
terminologia da década de 90 para traduzir o trabalho do computador na
diagramação, confecções de peças gráficas e tudo que a isso se relacionava.
Hoje muitos se aventuram, como por exemplo um dono de estabelecimento comercial
o faz pela facilidade de encontrar em bibliotecas piratas uma miríade de
desenhos prontos a serem copiados ou utilizados ipsis litteris. Em resumo, hoje
vivemos uma sociedade onde o conhecimento passa a ser a única possibilidade
àqueles que ainda possuem um capital, ainda que mais irrisório, de crescer
enquanto ainda for novidade, pois outros tentarão copiar a receita e ganharão a
concorrência com qualidade ou preço. É um clichê, pois fazer um aplicativo, por
exemplo, já se tornou a moeda corrente neste início de século e a robótica já
se torna a separação do manufaturador, com o operador, na mesma transcrição
onde o antigo desktop Publisher já entrou no ostracismo enquanto mercados
virgens de demanda – o que se torna automática a confecção de uma peça gráfica
de uma pequena loja, por exemplo – e o operador da robótica vira como um
indivíduo que seja virtuoso na programação para operar, através da matemática e
do conhecimento lógico, um software ou aplicativo usual.
O
mercado acaba por virar em camadas, em que muitos não precisam de qualidades
sociáveis ao extremo, porquanto manufaturadores de algo a ser utilizado por
departamentos comerciais e logística, enquanto trabalhos indispensáveis de
trato pessoal, como o comércio, reiteram a qualidade do humanismo enquanto
fator agregador de competência, o que demanda dois tipos de inteligência, a
intelectual e a emocional. Sem falar na afetividade que, se não estiver de
acordo, coloca em xeque a possibilidade de qualquer trabalhador conseguir se
colocar e se manter – na luta de foice em que o vulnerável perde – dentro de
suas funcionalidades.
As
camadas citadas agora são – diferentemente de conceitos mais antigos – intercomunicáveis
através dos displays, do que são abertamente um caminho para a fusão numérica
de letras, sons e imagens, em que em alguns casos funcionam para o diálogo
entre esses níveis, ou que na maioria aproxima aqueles que estão sintonizados
em algum canal cultural já predeterminado, no mais das vezes, no caso do nosso
país, no midcult, ou nas novelas abertas das noites, do descanso, do paradoxal
encontro das massas com o que está, mas não com o que é... Isso pode alienar a
população, mas infelizmente é dentro desse sistêmico paradoxo que devemos nos
aprofundar para compreender o que é uma tecnologia da informação e, igualmente,
o que acontece nos terrenos da linguística e as suas possibilidades quase
inquisitoriais em tempos que um byte equivale a uma letra, e um gigabyte, ou um
pequeno pendrive de oito gigas pode acumular oito bilhões de letras. Um
terabyte coloca um trilhão de letras dentro de uma caixa de sapato de uma
polegada de altura, portátil, com um processador que encontra cada frase que
encontra na rede por vezes na velocidade de busca de trinta milhões de termos pesquisados
em questão de menos do que três décimos de segundo. E ainda traduz, e ainda
soletra, em um maravilhoso algoritmo que encanta e seduz, e que poderia ser
muito útil na profundidade de pesquisas nas escolas brasileiras. Isso é valor,
antecede o montante que foi investido naquilo que principia, dando os costados
na frente da realidade que não podemos ignorar, posto que um gráfico de uma
fala transcende os dados estatísticos e exaustivos das crises cíclicas do
capital, porquanto saibamos que o rotor que move a engrenagem das novas
tecnologias rege o pressuposto de termos o conhecimento mais aprofundado de sua
dimensão. Ou ficaremos perdidos enquanto aqueles que se prepararam mais e melhor
para recolher o que estamos recolhendo como conhecimento daquilo que nos
importa mais, que é a compreensão de nossas sociedades e a limpeza da poeira
acumulada de nossos olhos, quando verificamos que estar revestido ou imantado
de uma cultura às avessas nas Américas será melhor quando compreendamos a fonte
dos dominadores da tecnologia mundial para apreendermos como termos um país
mais livre, ao menos com alguma ciência em progresso nos caminhos que aos
poucos possamos trilhar com nossas próprias pernas, com os nossos sistemas e apps.
E o entorno, que a rua é tão e tão importante quanto um olhar de que emana luz.
Estudemos muito, o estudo é a roda que nos gira e, nos intervalos, que seja,
que haja os intervalos, pois não, que ninguém é uma pedra estática, a não ser
um bom guarda quando guarnece seu posto.
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