sábado, 8 de julho de 2017

AS PEQUENAS IMPRESSÕES

            Estamos acompanhados, e no entanto vemos não mais ao entorno, e esse encontro não necessariamente produtivo entre um smartphone e o que habitamos, ainda que – importa muito – estejamos nas ruas, é nas mesmas ruas que encontramos os olhares. O celular moderno nos capacita muito em produzirmos nosso lazer, nossos amigos, nossos afazeres e negócios. Funciona mais como um contato humano mas, para economizar créditos, muitos se restringem ao wifi, estando como navegando entre um estabelecimento e outro para encontrar contatos só verdadeiramente possíveis através do celular. Nossas vidas mudaram com esses novos celulares, e em muitos países eles são como que um outro membro de nossos corpos e inteligência. Podemos pedir um prato na França que o aparelho traduz o pedido, podemos rabiscar um desenho para outros apreciarem em questão de minutos. A foto é instantânea, a mensagem não é paga com o whatsapp, e tantas vantagens, que não enumeraremos todas. Vantagens relativas na relação entre o poder do conhecimento e o trabalho em si, as vertentes do uso e a capacitação mais efêmera do sistema que se chama pioneirismo, ou a luta em se fazer algo novo, “lançar” o navio ao mar: launched... Isso se torna importante àqueles que não possuem muito capital de lançamento de uma empresa, e tem que contar com o assenhorear-se de seus clientes de modo ferrenho, com todas as atualizações necessárias até mesmo para o convencimento, e os modais de “criatividade” que impulsionem seus negócios. Empresas como o Sebrae fornecem as diretrizes, prestam um grande serviço àqueles que querem começar uma micro empresa, por exemplo. No entanto, a cada dois anos a grande parte dos empreendedores micro e pequenos soçobra. A luta no mercado é desigual. Como na computação e seu surgimento: hoje é necessário muito mais conhecimento e atualização e ser mais especialista do que, há um tempo atrás, o próprio diagramador de um jornal, por exemplo, recebia enquanto era pioneiro na tecnologia de desktop Publisher, uma terminologia da década de 90 para traduzir o trabalho do computador na diagramação, confecções de peças gráficas e tudo que a isso se relacionava. Hoje muitos se aventuram, como por exemplo um dono de estabelecimento comercial o faz pela facilidade de encontrar em bibliotecas piratas uma miríade de desenhos prontos a serem copiados ou utilizados ipsis litteris. Em resumo, hoje vivemos uma sociedade onde o conhecimento passa a ser a única possibilidade àqueles que ainda possuem um capital, ainda que mais irrisório, de crescer enquanto ainda for novidade, pois outros tentarão copiar a receita e ganharão a concorrência com qualidade ou preço. É um clichê, pois fazer um aplicativo, por exemplo, já se tornou a moeda corrente neste início de século e a robótica já se torna a separação do manufaturador, com o operador, na mesma transcrição onde o antigo desktop Publisher já entrou no ostracismo enquanto mercados virgens de demanda – o que se torna automática a confecção de uma peça gráfica de uma pequena loja, por exemplo – e o operador da robótica vira como um indivíduo que seja virtuoso na programação para operar, através da matemática e do conhecimento lógico, um software ou aplicativo usual.
            O mercado acaba por virar em camadas, em que muitos não precisam de qualidades sociáveis ao extremo, porquanto manufaturadores de algo a ser utilizado por departamentos comerciais e logística, enquanto trabalhos indispensáveis de trato pessoal, como o comércio, reiteram a qualidade do humanismo enquanto fator agregador de competência, o que demanda dois tipos de inteligência, a intelectual e a emocional. Sem falar na afetividade que, se não estiver de acordo, coloca em xeque a possibilidade de qualquer trabalhador conseguir se colocar e se manter – na luta de foice em que o vulnerável perde – dentro de suas funcionalidades.
            As camadas citadas agora são – diferentemente de conceitos mais antigos – intercomunicáveis através dos displays, do que são abertamente um caminho para a fusão numérica de letras, sons e imagens, em que em alguns casos funcionam para o diálogo entre esses níveis, ou que na maioria aproxima aqueles que estão sintonizados em algum canal cultural já predeterminado, no mais das vezes, no caso do nosso país, no midcult, ou nas novelas abertas das noites, do descanso, do paradoxal encontro das massas com o que está, mas não com o que é... Isso pode alienar a população, mas infelizmente é dentro desse sistêmico paradoxo que devemos nos aprofundar para compreender o que é uma tecnologia da informação e, igualmente, o que acontece nos terrenos da linguística e as suas possibilidades quase inquisitoriais em tempos que um byte equivale a uma letra, e um gigabyte, ou um pequeno pendrive de oito gigas pode acumular oito bilhões de letras. Um terabyte coloca um trilhão de letras dentro de uma caixa de sapato de uma polegada de altura, portátil, com um processador que encontra cada frase que encontra na rede por vezes na velocidade de busca de trinta milhões de termos pesquisados em questão de menos do que três décimos de segundo. E ainda traduz, e ainda soletra, em um maravilhoso algoritmo que encanta e seduz, e que poderia ser muito útil na profundidade de pesquisas nas escolas brasileiras. Isso é valor, antecede o montante que foi investido naquilo que principia, dando os costados na frente da realidade que não podemos ignorar, posto que um gráfico de uma fala transcende os dados estatísticos e exaustivos das crises cíclicas do capital, porquanto saibamos que o rotor que move a engrenagem das novas tecnologias rege o pressuposto de termos o conhecimento mais aprofundado de sua dimensão. Ou ficaremos perdidos enquanto aqueles que se prepararam mais e melhor para recolher o que estamos recolhendo como conhecimento daquilo que nos importa mais, que é a compreensão de nossas sociedades e a limpeza da poeira acumulada de nossos olhos, quando verificamos que estar revestido ou imantado de uma cultura às avessas nas Américas será melhor quando compreendamos a fonte dos dominadores da tecnologia mundial para apreendermos como termos um país mais livre, ao menos com alguma ciência em progresso nos caminhos que aos poucos possamos trilhar com nossas próprias pernas, com os nossos sistemas e apps. E o entorno, que a rua é tão e tão importante quanto um olhar de que emana luz. Estudemos muito, o estudo é a roda que nos gira e, nos intervalos, que seja, que haja os intervalos, pois não, que ninguém é uma pedra estática, a não ser um bom guarda quando guarnece seu posto.

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