domingo, 16 de julho de 2017

FIAT LUX

            Torna-se quase encontrar um diamante, mesmo bruto, em uma calçada, de mais de um quilo que seja, a raridade de encontrarmos hoje a manifestação verdadeiramente popular na mídia brasileira. Há um fato que corrobora esses vácuos em nossa cultura: a industrialização da tecnocracia como modal de negócios em que se amplia a falta de oportunidade aos pequenos produtores em face de gigantescos grupos estarem à frente da produção cultural – midcult – do mundo, em que alguns pequenos copiadores ainda acreditam que irão ascender social e economicamente para configurar empresas de quaisquer portes, mesmo não sendo pioneiros na grande empreitada de encontrar os cascalhos de lata que sobram de rebarbatários, como nas ruas os que catam para diferenciar, alguns de caminhão e outros quase inexistentes garimpando os resíduos deixados no panorama social, espelho de nossa economia em falsetes.
            A ficção ponteia como uma grande nave sem sombras no mar da ilusão, pois raro é o realismo crítico, raro é o existencialismo, como raro é um bom e estruturado filme de ficção científica, como houve em Kafka, Huxley e Orwell. Muitos querem um fator real na sua produção, mas não se consegue o resultado que seja maior do que meros ensaios ornados com efeitos especiais, em que o texto perde cada vez mais para o caudal imaginativo do non sense proposital, e verte-se sobre os ombros de quem poderiam mais estar esclarecido a mesma ignorância de que “dizem” que impera nas massas trabalhadoras. É hora de um aprofundamento em questões realmente importantes para a existência da compreensão de que estamos girando em torno de um eixo que tem um pouco a ver com a predominância de estarmos abrindo espaço para a prática fascista do ser. Esse ser que não é e que pretende militarizar a vida como se esta fosse uma novela policial incessante, um jargão de não sabermos mais nos portar sem pensar que estaremos tropeçando nas próximas máfias em que passamos a acreditar como modos de ação na vida.
            A não expressão nos revela a carestia em que os equipamentos grande ou pequenos – em alcance – nos tolhem e suprimem de nossas vidas a arte com antigos suportes e instrumentos de linguagens, tornando-nos meras interpretações digitalizadas nas coleções de um futuro sem passado. Na verdade, tomar ciência aos grupos mais desfavorecidos de como se processa um filme na atualidade, como exemplo do uso da computação, revelaria a multiplicação do conhecimento dos jovens brasileiros, ampliando o debate cultural entre as classes e oportunizando saídas mais humanitárias do que esta militarização forçada e irreal à qual muitos inocentes estão se submetendo, seja buscando a saída política, seja se alienando em substância, seja em dolos e mais dolos, ou na supremacia que pensam alcançar, acreditando em heróis ou em fantoches, como o superman. Restaria a nós cidadãos o fato de que devemos segurar a vanguarda da arte como um quartel de resistência, se formos falar do mesmo modo, se assim desejam que sigamos. No entanto não estaremos mais aptos, enquanto artistas, a desferir palavras chaves, ou ignorar solidariedade àqueles que precisem conhecer o que já sabemos. A construção do aprendizado vem de uma solidariedade maior do que a expectativa em receber... Não há um modo de ser, não há um método de conquistarmos um objetivo, apenas devemos saber que ao menos um aluno que tenha um pouco ou bastante tenacidade aprenderá mais para si mesmo. Como na arte, pois o rabisco nunca será apenas relativo àquele que põe termos por comparações. A literatura de ensaios igualmente, buscarmos as referências é importante, mesmo que dentro de um passado, de nossa própria história, e não é tão importante por vezes uma formação, pois essa quase obrigação tolhe do povo com menos formação a possibilidade de expressão e veiculação de sua voz. Aprendamos com tudo, gente que deseja muito da vida, aprendamos com a própria vida... Não vale que a percamos sem termo dito o suficiente, que nada mais é do que o infinito enquanto estivermos vivos e com nosso ritmo, pobres ou ricos, operários ou empresários, comerciantes ou sacerdotes. Apenas sejamos mais patriotas. Apenas isso, pois a vida não se apresenta apenas nos festivais, sejam da crise ou da bonança! Se a arte chamar-nos que nos apresentemos, pois é através dos instrumentos de expressão da cultura popular que ao menos reaprendemos os processos de manufatura fundamentais para a sobrevivência de nossa memória patrimonial, antiga e presente em tempos obscuros como os nossos. Fiat Lux!

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