domingo, 30 de agosto de 2020

FRICÇÕES MANUAIS

Talha-se uma obra, um remeleixo algo de porém
Que não se redima de pronto, culinária vaga e concreta,
Ardor de uma vasta mecânica, altruísmo do voluntário,
Peça andante como Quixote, as mulas do andarilho outro,
Cavalos no sopé do monte, entranhas de um vaticínio,
O gesto das mãos no que se aqueça mais o inverno!

Resta saber o pontificado de nossa grande questão
Que resida na forma silenciosa de uma consecução
Onde tece o orvalho tênue em uma trama de ordens.

O vento sopra forte, a cada casa um barco sonante
Dos muitos – ou poucos – dinheiros que move o nó
No motor que, à revelia, continua dando dos seus
Quando gira uma manivela no centro do convés!

E se come um pouco de lautas refeições, mede-se
Um tempo com o armistício tão esperado do nada
Na crueza do que se vira na TV, ou que não se assiste
Porventura por não estarmos situados nas séries…

E um lauto jantar também responde a uma ervilha
Que seja, fazer um milagre de multiplicar esperanças
Com os cordéis que deixamos esquecidos em mãos
Na fricção de uma xilogravura, na reprodução da tinta.

Reféns não seremos de um passado que já nos deu as caras
Quando as mãos friccionaram os papéis, de tantos textos
Que agora não há de se possuir a pétrea responsabilidade
Que se espera das gentes que pretensiosamente pensam
Em produzir história a partir de rancores estagnados.

Que se esqueça a desdita, que turvem os olhos na fricção
De manuais onde não se encontra nada além de uma doutrina
De cunho de ideolatria que não se encontra sem o neologismo…

A partir do mesmo instante em se friccionar humildemente
A ventura de um trabalho artesanal, veremos surgir do barro
Uma cerâmica tão linda que remonte o patrimônio ad aeternum
Que se resguarde para sempre em culturas milenares ao povo da Terra!

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