segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A PRODUÇÃO CULTURAL

            Há quem diga que a cultura se produz, mas, no entanto, há momentos em nossas nações em que a identidade se perde. O que venha ser a produção cultural ou mesmo o conceito tão amplo da cultura? O cidadão indígena merece o título da cidadania se considerarmos o processo civilizatório uma demanda em que o respeito à característica antropológica não evanesça de modo a ignorarmos a maneira de viver dos mesmos indígenas com seu peculiar modo de ser. A cultura reside nos morros, nas favelas, nas vilas miseráveis, no trôpego caminhar de um mendicante, ou mesmo culturalmente se dá a contra cultura, quando se contesta todo um sistema, no que isso possa se dar com a desobediência civil e outras formas de protesto, quando o copo transborda depois de uma simples gota... A maneira de ser de um civil ou de um militar não pode ultrapassar o germe da separação, posto a categoria de cada qual se estampa, e os civis enumeram uma infinidade de ocupações, enquanto os da guarda encampam apenas os seus próprios pareceres, suas idiossincrasias particulares onde, igualmente ao restante da sociedade, há aqueles que são de mérito justo e outros que se deixam corromper, lastimosamente. Isso é um fato, erraríamos se o negássemos. Por aqui devemos pensar: que tipo de corrupção afeta uma aldeia indígena, frente ao garimpo onde, por paradoxo que é, a busca do ouro corrompe deveras, como sabemos do fato histórico aqui, em nossa América, se for citar um exemplo cabal e irrestrito. Portanto, nada mais ausente do humanismo frente à avalanche do poder econômico, que pode ser capaz de matar, de tão municiado que está e se apresenta com a truculência travestida de desenvolvimento.
            Perdem-se na memória os momentos em que o país possuía um movimento artístico tão forte, e como a censura em determinada era tolheu de forma tão excludente todas as formas de expressão, cabendo ao povo brasileiro agora uma retomada para resgatar a memória do arcabouço da arte, independente do grande teatro da tentativa excludente que revela no futuro o cerceamento da produção de peças culturais, seja nas artes visuais, escultura, instalações, teatro e cinema. Sem citar a literatura e a filosofia, irmãs gêmeas estruturais. Precisamos ser mais fortes do que o mais forte, ter a têmpera necessária e mantermo-nos atentos, como um improviso nesse grande teatro que deve assumir a postura internacionalista. Se, digamos, oito pessoas nos acompanham no Brasil enquanto, no exterior, milhares nos acompanham, a cada período, a cada brecha, podemos crer que não estamos sozinhos. A globalização é fato inconteste, imperecível e inevitável, e o mundo anda curto dentro de nossos celulares e computadores, mesmo que ainda estejamos em um isolamento férreo como na atualidade. Na realidade, depois desse isolamento forçado em decorrência da pandemia, registremos nossas reivindicações, pois só e apenas estas podem estabelecer acordos favoráveis e, acreditemos, em nome de Jesus, que deve haver – como Ele pregou –, melhor distribuição das riquezas, pois não há mais como conviver com a diferença daquele que ganha bilhões e outros que mal possuem água nos seus barracos. 
          
No entanto, o que nos moverá para manter grupos primitivos – neste nosso conceito ocidental do que se supõe o seja – e a produção cultural é uma mola de tração que nos impulsiona mesmo enquanto estamos mais fracos... Mesmo que se imponham tarefas árduas, penitenciais, de austeridades redobradas nessa fortaleza de caráter que se chama força e resiliência em todas as classes de bom senso. Para que possamos ao menos conviver com o caos em uma luta interna, na ativa espera pontuada de ações que resolvam melhor o resguardo – a um principiar, somente – de nossas instituições democráticas, no que verse uma grande marcha para que comunguemos da mesma base de sustentação de cada qual, em um panorama que pode parecer complexo no início. O caminho saudável psiquicamente está na ação em consciência – em uma religião ou não – luminar que possa nos posicionar na retomada de negociações e acordos nessa estranha transição que a muitos não parece levar a lugar nenhum, e a alguns pode levar a toda uma esperança, porquanto cidadãos no processo de participação inequívoca para as mudanças importantes nas estruturas do Brasil.

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