terça-feira, 27 de agosto de 2019

SEREMOS MELHORES…


         Se há o que para ser bom, se nos cumprimentam dizendo: tudo bom(?). Esse período não possui relação – por vezes – em que o interesse real seja que estejamos em uma boa felicidade. Mas como, qual seria a felicidade ruim? Justo, aquela que não é justa! Dentro da justiça, no entanto, o estofo é grande e processos gigantescos por vezes vão e voltam como um labirinto interno, lembrando Kafka e sua genial obra. Mas seremos melhores se reinventarmos muito de nossa gramática, aí incluindo os meios digitais, o grafite, a caneta, as pesquisas da ciência e os paradigmas religiosos. Podemos ser, sim, melhores, e para isso temos o famoso conteúdo, não só interno como algum tipo de ligação ao engenho, à criatividade, à expressão, à literatura e às artes visuais. Ser melhor é virtude, sabendo-se que o caminho por vezes é denso e difícil se REALMENTE quisermos avançar, não apenas espiritual, como materialmente. Tudo tem seus trabalhos, seus diálogos, seus pressentires, a noção básica de um conhecimento, o apreender, o viver, a questão existencial de cada qual. Ser quem se é hoje nos tempos modernos que se nos apresentam com todas as novidades tecnológicas, acaba por não ser exatamente o ser que passa em nosso imo, em uma importante atitude meiga e sincera, afora estarmos muitos de nós mitificados por questões de rótulos e de poder.
         Como dizia Carl Jung, a vontade de poder é um estigma cruento, que nubla o ato da psique, transtorna por vezes quando não é alcançada, e estorna quando no-la possui o ser, como algo atávico, surpreendentemente reptílico, em que nossa ulterior humildade fica relegada ao ostracismo de não nos surpreendermos quando – mesmo na questão religiosa – ficamos arrogantes por nos sabermos mais fortes quando do predomínio de um ato que reforce a fé dirigida, constitucional no poder, de querer ser a maioria, de não compreender que religião é opinião também, e pertence ao domínio da escolha particular, individual. Essa questão do indivíduo na sociedade é a condição de perpetuação do universo crítico e humano, da mesma escolha citada para algum fim, da isenção da manipulação em todas as suas frentes, e da compreensão do universo humano como fator de transição da barbárie para o humanismo. Se porventura compreendermos que mesmo aquilo que um escritor escreve passa por uma revisão e uma dialética do ato de ter ou querer escrever, reler o que se processa mentalmente, e arguir sobre uma conotação, um sopro de significados, ou uma retórica equivocada em seus princípios e origens, fica melhor, para um conjunto da obra, um reflexo do que se escreve antes, no mesmo diálogo do resultado posterior, na ida e na volta, na interpretação, como em um voo de andorinha: imprevisível e entusiasta.
          A coleção de escritos é, na verdade, uma grande frente de conhecimento, onde o purismo da filosofia permite a análise, os silogismos, a lógica, a razão, e outras vertentes do pensamento humano. Tudo aquilo que ameace a integridade do livre pensamento – quando este não insiste na incitação do ódio – deve ser evitado. Por paradoxal que possa parecer, dá a impressão de que vemos tantos discursos de ódio hoje no mundo, que aqueles que prezam por falar sobre a paz vêm a ter olhares mais atentos e desconfiados sobre esse famigerado e “anacrônico” discurso. Quando Cristo prega a paz, muitos acreditam ou pulam para os conflitos do Velho Testamento… Ou quando o Sumo Pontífice fala sobre, rechaçam o catolicismo com todas as – aí sim – anacrônicas histórias, muitas vezes inventadas, sobre as atitudes da Igreja no passado, que nada mais significam sob a égide do que hoje se torna a grande comunhão. Citar-se essa passagem é justamente apresentar as questões de dissensão religiosa, como a falta de reconhecimento de muitas templos evangélicos com relação à chamada idolatria, e a intolerância com o Candomblé. Nosso país possui uma das maiores populações negras, e as religiões de matrizes africanas tem encontrado duras repressões por parte de grupos intolerantes, racistas, praticantes de violência, no que se pasma, em nome de Deus, muitas vezes. Passemos para os indígenas, e estes enfrentam não apenas a intolerância através de forjadas conversões, como igualmente interesses gananciosos em seus territórios.
         Seremos melhores se agirmos no modo da Bondade, da compreensão e do cuidado de nossa Casa Comum, que é o nosso planeta, seu lado global, holístico e espiritual. A partir do instante em que as manifestações violentas, a agressão bruta, o recrudescer do ódio contra grupos mais autênticos, e as relações de poder que embarcam em viagens contra o pluralismo e a igualdade de direitos, muitos não serão vistos como gente de bem. Essa vigilância da justiça e seus órgãos no sentido de permitir e estimular as premissas humanas dessa ordem, da bondade como modalidade de ação, é o calor de uma lâmpada tíbia no começo, virando paulatinamente nosso norte, ou seja, transformando-se um sol necessário e pungente para que haja luz sobre os povos, para que se aqueçam no conforto moral, e que se levante a esperança para a nossa mãe Terra! Esse quadrante inominável, toda essa geometria precisa da sensatez, passa pela questão de estabelecer critérios profundos não apenas na solidariedade continuada entre os povos, mas igualmente na pertinência de se tomar consciência de que algo erra grandemente quando a riqueza se concentra como hoje na mão de meia dúzia de grandes bilionários. Jamais haverá crescimento material sem a justa distribuição de renda, não teremos de onde vender e nem de quem comprar. As coisas se processam com o que já temos até então, e elevar o mercado interno é tarefa de gente competente, pois não adianta acrescentarmos riquezas potenciais e exploratórias de uma terra que tende a se tornar cada vez mais árida com o tempo, quando nos comportarmos sangrando para os mais ricos o que sobrou da riqueza do mundo. É verdade que o valor não é tão flexível quanto a moeda, mas a corrida do ouro, como se processou nos EUA, trouxe um rastro de violência, desmatamento e construção unilateral da minoria branca que resguarda para si a sua pífia representação. Um mundo onde se aceita os apartheids que recrudescem nas migrações não está preparado para ser mais bondoso se a mentalidade dos seus líderes não deixarem um pouco de lado a sede por sexo, dinheiro e poder.

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