sábado, 10 de agosto de 2019

INFORMAÇÃO



          Sala grande de almoxarifado. Um senhor contador sentado em um terminal à esquerda, e Cornélio pergunta:
          - Você sabe quem é?…
          - Do que, quem sabe o que?
          Clodoaldo sabia exatamente o que fazia no depósito, e as mercadorias iam e vinham, ele contabilizava, jantava e ia dormir, no meio da aritmética e suas planilhas, de si não era por tanto.
          Prosseguiram, e Cornélio insistia:
          - O homem, caro, sabe alguma coisa dele, algum dado, uma informação qualquer?
          - Mas que homem? São tantos…
          - Ah, você nem se apercebe que não há tantos homens, assim, com a empáfia de assumirem que são homens, aqueles que vivem incomodando por serem mais… Digamos, diferentes…?
          - O senhor vai ter que insistir em outra freguesia…
          - Então pode ser você? Talvez…
          - Eu sou um contador, apenas. Sei das minhas contas, do meu ofício.
          - Por ventura, Clodoaldo, sabe que dia é hoje?
          - Claro que sei: sábado, quatro da tarde.
          - É sete de setembro, algo lhe diz sobre?
          - Independência ou morte, patrão, essa foi a frase, e no entanto…
          - No entanto, o que?
          - Nada, senhor, de acordo, Pedro I foi um grande cara… Ish, a gente é que mistura as coisas na questão das datas. Porém seu Cornélio, eu devia ter alguma folga nesses dias. Sei, estou só brincando.
          - Nada, meu caro. Quer dizer que você não sabe o nome, nem quem é, nem quanto nos deve e nem quanto nos emprestou…?
          - Realmente não. Nem sei do que o senhor está falando. Só sei que registros de alguém que nos deva… Quanto? O senhor não faz nem ideia?
          - Bicho, era no mercado paralelo.
          - Assim já era, seu Cornélio, eu não sei de seus andamentos ilegais.
          - Você tá insinuando algo?
          - Não, jamais, só estou dizendo que registrados estão muitos clientes, e de memória eu sei que alguém deve, ou empresta, mas dever e emprestar não coaduna com as entradas e saídas, assim como input e output. Assim funciona o nosso sistema, caro senhor.
          - Se você realmente não sabe, nem em registro ou um olhar sequer no homem, quem sabe deva estudar mais o comportamentalismo para saber como se procede um sistema que se preze.
          - Desculpe senhor, sem ofensa, eu não trabalho aqui para tapar buracos…
          - Então recolha as suas coisas e vá engrossar as fileiras. Está demitido.
          Clodoaldo refez seus dias no silêncio, viu a frieza de dois anos em uma gaveta de escritório, sacou de seus pertences e saiu, na resignação da satisfação de abandonar um emprego que sabia ser no mínimo altamente suspeito. Mas ele sabia que em seu pendrive já estava garantido um outro...

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