Não
haveria como nem porque fazer funcionar a Marta, um novo robô que
talvez fosse inventado, se não houvesse uma pontinha de mentira. Mas
seu trânsito navegaria bem não fosse a falta de contato orgânico
com a terra. O sal que faz o nosso contato com a terra em nossos
meridianos, bem dito. O robô estava em projeto na Índia, e os
matemáticos exemplares tentavam um algoritmo de inteligência
artificial, na expressão da língua inglesa, algo equivalente a
tentar-se formular um tipo de função inespecífica mas, ao mesmo
tempo, com utilidades, como a tarefa de recepcionar uma classe de
gente em um gesto impessoal, mas com o látex similar à textura da
pele e a organicidade da ilusão como ferramental primoroso e ao
mesmo tempo secundário. Tamanha é a tecnologia que o propósito de
se fazer um objeto quase vivo transcende à acepção mesma da
ciência e seus experimentos. Uma deliberação mecanicista entre
tecnologia e sociedade dispõe de vieses que podem interromper o
processo mesmo da criação onde a ruptura entre um robô e um gadget
portátil torna-se o irromper da alavanca ou do osso feito arma –
rudimentar em nosso processo evolucionário – para uma nave
espacial um reducionismo onde as coisas em seu espaço onde o humano
passa a ser rudimento, e a nave um tipo de ídolo dentro de um totem
interminável do consumo enquanto técnica considerada um meio de
libertação, ou fuga de uma realidade regressiva que se escreve dia
a dia como inercialmente irreversível.
Marta
era um contraponto, uma conquista, não precisaria alimentar-se do ar
irrespirável de Delhi ou Beijim, nem disfarçar-se no meio das
caravanas de imigrantes… Seria apenas uma instalação, como algo
de arte tornado substrato, o suprassumo da realidade ausente do
ícone, uma abstração quase sem o necessário nexo que nos
transforma em seres, no que do ser não fosse, no diálogo constante
com o tempo que vai conquistando as irrefreáveis veias da
irracionalidade. Não haveria porque ser a outra peça de vanguarda,
nem a apresentação de um novo mundo, posto seu látex ainda era de
um dinossauro fossilizado, óleo: motivo, razão e apresentação de
um tempo hábil em que o próprio talento seria queimado dentro da
não memória cultural do homem ou mulher que a criaria… Quiçá um
trânsito ao nada, um nada dizer-se, uma nação que negasse seus
deveres ambientais em nome do assassinato peremptório e ignoto dos
Direitos Humanos Universais: proclamação única e indissociável!
Sem nada, sem futuro, o futuro vindo, se auto ditando, prescrevendo
abjetamente o que seja melhor ao arroubo nacional, quando a
desnacionalização significasse o ambiente próprio em que uma arma
valesse mais do que uma vida. A maldade valesse mais do que um
princípio, uma ofensa valesse mais do que o perdão, que o valha,
ridiculamente postos os fragmentos dessa antimatéria... Essa busca
incessante da liberdade econômica com a participação do Estado
nos assuntos que imiscuem a mesma liberdade pela adoração de um
critério algo insano por questões nem tão válidas, quanto o que se
pretende de uma sociedade que se queira denominar livre. Algo
silencioso remonta o ar, pois que o respiremos, com a sede do ar, com
o encontro da Natureza. Esta é a beleza de não precisarmos decidir
futuros dentro de uma cápsula espacial que nos levaria – junto a
uma criatura como Marta, a robô – para o destino de Marte, pois
Vênus, como planeta, não alcançaremos jamais com a tecnologia de
carnes ou pele sintética feita de petróleos...
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