Na verdade, pouco seríamos sem o
advento do Senhor Caitanya Mahaprabhu na era da Idade Média ocidental, dentro
da Índia. Pois que deixou seus ensinamentos, e Prabhupada os trouxe em sua tradução
para o Ocidente. Com o que dizemos, não seria suficiente enumerar suas
qualidades, posto encarnação de Krsna como o Avatara Dourado. Sabemos pouco da
Índia, e uma questão filosófica que me parece maravilhosa é a constatação de
que o Absoluto Supremo gera suas infinitas partículas de vida como o Sol gera
seus subprodutos sem alterar-se, à sua temperatura ou forma. Daí vem a vida
aqui na Terra, ou desde Brahmaloka a Patalaloka, em todos os níveis destes
nossos mundos materiais. Esse pressuposto filosófico-religioso é aceito por
muitos níveis da devoção, mas aceitar Caitanya e seu advento como um princípio
de tentativa de salvarmos algo em uma era dourada é condição de pelo menos
pesquisarmos a respeito, pois hoje diagnosticar ou especular sobre o que se diz
ou o que se pretende conhecer no mínimo é uma perda de tempo sagrado... Quando
nos perdemos abraçando-nos ao tronco de Freud ou mesmo de Marx, saibamos que um
pouco do conhecimento transcendental é uma condição importante, pois na
apropriação das riquezas ou conhecimento da matéria falta-nos perceber que
somos animados por um espírito, no mínimo, e a realidade das religiões nos faz
saber que devemos escolher sempre uma que seja mais aproximada do conhecimento
da própria ciência, ou seja, tomarmos ciência do Absoluto. Esse mesmo Ser que
transcende, onde não há dualidade, por onde nos desapegamos, a saber, que um
que sofre da penitência sabe que não sofre quando está servindo ao Supremo.
Como um preâmbulo de fé estejamos ciente dessa posição, não necessariamente
igual ou superior a qualquer vida que esteja lendo este excerto, pois não deixa
de ser apenas uma posição – repito.
Em uma prática há diversos modos de
nos encontrarmos em uma veia mais contemplativa em relação ao que nos cerca,
sendo uma cidade de concreto armado, ou mesmo uma ilha, ou montanha com suas
miríades maravilhosas da Natureza. A preocupação com os nossos companheiros de
jornada é recorrente, mas estejamos cônscios de que hoje em dia, em qualquer nível,
obviamente alguém pensa em sua segurança, não apenas financeira mas
existencial, e sempre foi assim em todos os níveis e todas as sociedades. No
entanto, como em uma hierarquia, que desejemos o melhor ao próximo e nos
situemos no modo da bondade, pois este é um ensinamento que gera melhor
entendimento aos povos, se obviamente irradiarmos isto para aqueles que pregam
a intolerância e injustiça. A prática filosófica começa aí, e não apenas um
devoto pode pensar assim, mas que seja uma postura global, que a nós no serviço
devocional pretendemos a Era Dourada na Terra, ou seja, algo que transcenda em
termos de salvação do planeta, contrapondo-se à tendência de muitos acharem que
estamos no fim dos tempos, o que gera o regresso entre diversos povos e uma
corrida ao “sagrado” que se torna efêmera enquanto pregos em versículos ou
capítulos, ao que poderíamos lutar para melhorar a situação de muitos, e não
esperar pelo pior, ou pelo messianismo quase escatológico da ortodoxia.
Digo algo na minha acepção,
justamente porque me considero efetivamente um homem religioso, distante de
qualquer tradução muito simplificada, já que não busco a salvação, mas o
serviço eterno ao Senhor, sem merecimento e sem causa, nascimento após
nascimento, onde quer que tenha que voltar, por aqui mesmo em um futuro de
Kali-Yuga pungente, se for assim meu desígnio. Alguns homens se acostumaram a
níveis de dificuldade meio extremados, quando por vezes têm que ascender sobre
o prisma da lucidez, tornando-se meros instrumentos de Krsna. Meu intento é
fazer com que ergamos uma coluna de prestigioso e inequívoco progresso, não
apenas nas conquistas de ordem social na questão material, mas igualmente na
relação deste ser social com a sua inclusão espiritual necessária àqueles que
estão nessa senda, afim de promover o progresso nesse sentido. Se não houver
essa possibilidade, que me escutem outra hora, mas que seja dado o testemunho
de um homem que já sofreu razoavelmente neste mundo e, mesmo no sofrimento,
considera escola tudo o que vive, embasado agora em uma escritura que diz muito
em sua acepção sobre o mundo.
Que seja dada uma largada, talvez o
debate entre as vertentes religiosas, talvez algo a se propor nesse sentido, o
que muito nos resguardaria a compreensão da idiossincrasia do próximo, e não a
intolerância que por vezes tem suas origens na ignorância e falta de
oportunidades em que o ser individual e coletivo perdem a sintonia e inserção,
quando alicerçam suas metáforas existenciais por vezes em programações e
historietas de folhetins francamente escusas. Para se mais exato: as séries e
novelas, sua exposição desenfreada de violência e ardis. Isto trata-se apenas
de uma colocação e opinião, nada mais. Que revisem seus conceitos, é o que
muitos querem para um país melhorar. A introdução de sistemas alternativos de
vivência cotidiana, o retorno às raízes culturais, a busca de informação
dinâmica e coerente, os ensinamentos a partir das bases populares, tudo isso é
uma troca salutar, e convenhamos, que este humilde autor seja Hare Krsna, isso
não impede que se pense a respeito de todos os assuntos, pois a mera
especulação apenas fecha o ciclo onde a verdade não respire: a falta que nos dá
o encontro do diálogo e do cultivo sincero do conhecimento e seu compartir
saudável nesse sentido...
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