terça-feira, 10 de setembro de 2019

O RECURSO DA IMAGEM


           Propriamente, a imagem é sensorial ao olhar, tão logo não o possuíssemos seria mera ilusão encontrar a atrativa questão do belo. É um recurso grandioso, é tema de expressão na arte, é ciência em uma cirurgia, e é a crítica mais facilitadora posto se encontrar mais literatura, fora do braile. Uma dádiva é o comportamento do olhar mesmo, supracitado… Quem dera esboçássemos em nossos rudimentares silêncios o que nos revela uma fotografia, um gráfico, o Universo que temos nesse campo, sem sabermos que a visão compraz o retorno do que se vê, na abertura de uma manhã, ou no despertar do sono em que fechamos nosso canal perceptivo.
           A imagem ponteia a maior parte dos recursos do que aparenta ser real, naquilo que é belo, mas que por diversas razões, nem sempre é indicado, quando porventura acreditamos na apropriação, primeira, e no compasso de espera, segundo, ou quando tudo o que pensamos ser de nossa propriedade passa pelo mundo tátil, terceiro elemento cabal da compreensão do que se torna a gama de sentidos. Tanto no plano afetivo material, como na subjetividade onde a imagem compreende a interpretação, e o gestual compreende o ato reflexo do tempo, um filme emergente, uma série de treinamento, ou mesmo uma sincera e espontânea atitude algo rara, nos tempos de hoje, em que se joga tão abertamente com os sentimentos causados pela percepção e seus insights retroalimentadores. Pudera sermos tão certos de atitudes várias, ou que essas mesmas atitudes não fossem tão previsíveis como inteligências limitantes por seu foco, embasadas no perfil iterativo. Compreende-se a atitude colaborativa algo que seja de focos mais secretos, onde um grupo se mantém coeso na versão de um trabalho, mas que não abre muitas vezes ao universo das humanidades quanto de se esperar que esse mesmo trabalho não se traduza no jogo, no brinquedo que se anuncia como emoção alheia. O processo elucidativo do jogo torna-se um painel onde brota a velha questão de antigas receitas, onde um batom atraente pode significar a estampa de um reflexo, de uma aproximação, até mesmo de algo que pudesse ser traduzido por amor, essa tradução relativizada por uma civilização onde se joga até com os sentimentos mais essenciais dos seres em geral. Onde, genericamente, possamos afirmar que, com os animais, talvez exista uma maior franqueza de caráter, pois estamos declinando para certos absurdos as relações humanas e as permissões algo equivocadas em que alguns grupos não aceitem ver em um par amoroso a latitude de um sentimento mais verdadeiro. Os casamentos passam a durar menos, a não aceitação de alguns sacrifícios ocorrem fora da amplitude da doação e do compartir a vida, com suas dificuldades, e as relações cada vez mais se tornam liberalizantes, no próprio reflexo social de envolver as conquistas econômicas, políticas ou sociais, com a escolha de um parceiro/a.
          Os recursos da imagem são como molas que refratam o próprio caráter, nesse universo algo já mais frágil nas relações entre os sexos. Quiçá as novas interações com o outro/a sejam mais coerentes na forma e no modo, o que isenta de preconceitos da ordem de gêneros, posto combater coisas que refletem o andamento de uma sociedade, dentro de um panorama ocidental de liberdade existencial, é como proibir a uma máquina de usar seu combustível. Não há como tolher as vidas pelo que se apreende como realidade visual ou comportamental, haja vista que na esfera dos valores temos por cá, na sociedade contemporânea, coisas absurdas que se comportam mal e que vão contra a valoração da vida, não apenas em sociedade, como na existência – que deve igualmente ser respeitada – de outras espécies com o direito de usufruir do planeta. E a nossa, mera intrusa em assuntos que não deviam estar na pauta na forma como tem se comportado em relação à Natureza.
          Que se concluam os estudos imagéticos na área da ciência, que os exames sejam feitos à luz da tecnologia, mas se valer de prerrogativas praticamente institucionalizadas nas contendas na ordem de informações lidas, ou apreendidas, não passa a um critério de excelência na construção cabal de um viver mais inteligente – qualitativamente – no cenário globalizante de nossa Era. A identificação de algo, de um ser, de uma prática ou de uma teoria baseada no que se vê, é estar alheio aos filtros das sinapses mais coerentes que devem fazer parte de nossa massa encefálica, pois, do homo neandertal ao sapiens a evolução não foi muito rápida, e do sapiens a outro talvez não seja mais possível dentro do que se vê e do que se sente, bastando um gato, por vezes muito mais esperto e solidário, dentro de sua indiscutível forma de mamífero com genoma congenial!
          Quando passamos a utilizar os displays de modo a ausentarmo-nos do tato com o ser humano, é significativo que passamos a depositar o nosso afeto a algo mecânico, e basta saber se quando passamos a encontrar a alegria por nós pensada em estarmos afeitos apenas à tecnologia, estamos nos afastando de nossa identidade humana, depositando por vezes a barbárie permitida nos recursos visuais da rede. Encontrar vértices quase reais já se torna uma questão relevante, quando ignoramos que ao nosso lado o sofrimento humano nos olha pelos flancos dos celulares…  

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