Tantos
sofrem, meu Deus, que sei eu sobre o sofrer… Há que se ter em
vista que presenciar o sofrimento humano é quase como um lugar
qualquer, e nos tornarmos empáticos com isso faz a diferença entre
sermos humanos ou quase animais, postos não sermos estes, já que
não somos superiores a nenhum ser sobre a Terra. De sofrer-se há
cátedras, há gentes que sofrem todos os dias, mal pagos,
explorados, doentes, injustiçados, por vezes quiçá vítimas de um
sistema nefando, que exclui, que compete com os mais fortes no páreo,
que emparelha cavalos mal treinados com alazões puro sangue sem
contendores à altura. Quem dera o poeta não sofresse, mas a doce
ilusão é pensar que quando estamos totalmente felizes, dentro desta
esfera material: copulando, nos intoxicando, viajando a esmo sem nem
saber exatamente para onde, usufruindo tudo, enquanto a vida vai
passando e não teremos construído nada além de castelos
vulneráveis porquanto matéria em si, dinheiro, acumulação e votos
orgiásticos sem a performance sequer de saber de onde vem uma
riqueza que não perdurará no altíssimo céu, que espera aqueles
que sofrem, quando se doam para si mesmos a retórica de existir com
tantas as dificuldades da vida e as suas carestias.
Sim,
a vida é dura, é condição sobremaneira díspar do que pensamos
que somos porquanto termos um lar, filhos bem situados, e gentes e
gentes na miséria. Não, diriam alguns, estão na miséria porque
não souberam aproveitar as oportunidades, nessa condição abjeta de
não saberem nem ao menos viver, mas que nos sirvam com sua força de
trabalho, pois através dela, a dizer devidamente explorada, eu teço
o meu império. Mas que houvesse um império, mas um império de se
sentir lisonjeado, qual não fosse, algo de real estatura, de monta
maior, que estaríamos quiçá mais orgulhosos. Com Roma quiçá, o
que revelou-se uma realidade imperial: inteligente, respeitadora de
certas culturas, um vaso que não se rompesse, mas com um erro
recorrente, ter colocado o Filho em sacrifício. Errou grandemente e
os povos que foram responsáveis pelo erro de se ter morto o Messias.
Quem
sabe a crítica seja uma ilusão tamanha, quem sabe todas as gerações
possam encontrar a similitude com algo que lhes dê esperança. Não
haveria de haver divisores de água, nem o rancor de estarmos
esperando um desfecho de algo para ver quem alcança uma salvação
esperada. Certamente o sofrimento é um modo existente em todas as
classes, pois a doença e a velhice passa por ser uma certeza, e o
homem e a mulher não surgem para uma vida no paraíso, pois este
nosso mundo é como se fora uma passagem, mas se torna uma passagem
cada vez mais estreita pelos vales que contém as dificuldades do
planeta.
Quem
dera esse monólogo fosse mais do que se dizer o previsível, mas a
conclusão que tira este que vos escreve, e que sofre o suficiente
para compreender as latitudes existenciais dos seres em geral, talvez
saiba de certa cátedra onde mais valeria um sofredor entrar no reino
dos céus do que uma colocação importante nesta selva material
fosse resultar na certeza de uma boa garantia que viesse a acontecer
em um futuro que se torna previsível, porquanto resultado de Kala, o
tempo eterno...
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