quarta-feira, 25 de setembro de 2019

AS CLASSES OBJETIVAS


         Será sempre leviandade afirmar que não haja relativização dos conhecimentos. Um indivíduo pode pertencer a uma realidade onde não se pode adquirir o saber da ciência, mas pode viver melhor e mais intensamente do que o sapiente. Talvez haja uma distinção semântica entre sapiência e sabedoria. A partir do momento em que o índio de uma determinada tribo sabe melhor sobre o muito da Natureza, aquele doutor que nunca deixa a sua sala, rodeado de livros, quem sabe nem desconfie que o seu objeto de estudo na verdade se distancia do que é uma existência onde a catalogação perde para a vida do mesmo indígena, parte intrínseca no que se sabe do tronco, do aparente, do visível, muitas vezes…
        Uma casa pode estar repleta de gentes de posses, e estas gentes resolvem por vezes suas questões de negócios, onde o ilícito pode passar a ser normal e previsível, e ignorar o fato por parte de gentes que não estão e nem são objeto de cuidados e atenções judiciais, reitera a mesma impunidade que move a infantilidade em que se torna o cidadão que faz algo errado pensando que tira vantagens no mesmo sistema de que faz parte, como uma espécie de puppet. Quando se jactam de furtar-se a redimir a falta encontrando outras e outras vias da ilicitude, por vezes ruminam o respeito que a mesma sociedade eticamente falimentar lhes reserva. Não se trata de apontar o dedo, se trata de verificar que em cada lote de muitas casas as tramas revelam a carestia do bom senso, da honestidade, e não da faculdade inata de se obter prazer – principalmente regado a um bom destilado – em passar o outro para trás, em cometer maldades, em ofender, sendo que esse retrato viral apenas revela a fraqueza de uma defensiva da ignorância, como uma roda viva, um moto perpetuo dos termos mais fáceis, da selva competitiva, de tomar-se por um lado e esperar dar o menos possível a quaisquer nos diálogos retroalimentadores da contradição que se torna iníqua. A perspectiva de se ter conhecimento de uma atitude vencedora torna-se mais factível e saborosa quando se passa adiante o conchavo com um si de autoridade em que se arrogue e, no entanto, visceralmente ilusória. Passe ao comando de mais maturidade não reativa, porquanto vez e voz de uma questão que atravessa a vida de muitos, e onde a mitificação do poder se torna a grande ilusão de quem possui recursos ou ganhos maiores. Uma sociedade onde as diversas classes em questão não objetivam razoavelmente seus propósitos dentro da máquina em que vivemos, com seus padrões de engrenagens e a modalidade integradora, esta que não pode estar vinculada a nenhuma substância que atrapalhe seu correto funcionamento.
         A classe objetiva propõe, dentro de seu escopo limitado, a própria condição de que essa limitação se torne a fronteira de se tornar consciente da posição em termos de organização e menos tempo gasto com firulas existenciais de ordem competitiva, pois suas concorrências são muitas vezes uma realidade concreta onde um rebaixamento não deve sofrer reveses existenciais, pois não há muito espaço para especulações no arbítrio da engrenagem supracitada, posta, de fato. Daí a necessidade do diálogo dinâmico entre essa imensa fuligem que existe na mente de muitos, descobrindo-se que buscar o conhecimento vai de encontro não propriamente de aquisição de informações, mas de trocas de conhecimento e energia depositada em trabalho e tomada contínua e dialética com uma consciência majorada, posto ser no prego que se prega, no tijolo e sua fiada, no pão e suas regras panificadoras para mais ou para menos e em uma empresa lançada como um barco: antes remo, depois motor. Paulatino deve ser o crescimento, pois o fracasso minorado de pouco investimento refaz o moral das partes onde um consumo deve estar profundamente vinculado com a realidade. Há que sempre negociar, pois se houver empatia entre os diversos tipos de diálogos, confronta-se o painel de uma classe alta podendo falar com uma gente de base proficuamente, dentro de um tipo de sedimentação econômica onde se encontrar com a vantagem de poder dialogar fora do rotulo que emane de qualquer conotação existencial mais ilusória, como estar-se profundamente vinculado com sistemas religiosos, a não ser que se queira ser cura, pastor ou monge.
        A religião une as gentes, um tipo de amálgama silencioso que conquista os espaços, mas objetivar conhecimento científico com a receita infalível de que só há saída existencial dentro desta ótica pressupõe deixar de lado alguns conceitos como a lógica indivisível, condição sine qua non de se estar preparado para um pensamento mais amplo e exato sobre o trabalho e suas diversas modalidades. A condição em si de se preparar a obra com planejamento, de se organizar com frequência, de modo nada conservador, posto a vanguarda da prática de se saber o que vale como conhecimento, e como galgar etapas dentro da construção de uma sociedade melhor, dependerá em qual os fatores relevantes, dentro de um tempo sagrado onde a tomada de consciência do universo político e econômico torna mais objetiva uma classe, dentro do espectro individual e na necessária projeção à coletividade. Esse tempo em que queremos acreditar em algo com sede, e podemos certamente ter fé em nós mesmos e praticar essa eterna luta que tem a ver com o amálgama por vezes de chumbo que encerra um tipo de dentes quebrados nas estranhas e muitas vezes arcaicas engrenagens que necessariamente todos temos que tornar aptas e azeitadas. Sem isso, não crescemos em mudar certas estruturas, mas tornamos todo um sistema corruptor e, de modo causal, incrivelmente obsoleto.

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