Não
há complexidades no modo previsível em que as pessoas se comportam
no mundo. Há um quê de competição e suas variantes, há o mito
que gera a inveja, há a quebra dos mitos quando outros são
realocados, e as carapuças diversas das personagens em que cada ser
humano busca, em uma sociedade praticamente escancarada em cenas,
imagens, informações, dados e perfis, todos buscados por
experientes pesquisadores que trabalham aquém de suas próprias
engrenagens. Algumas poucas letras dariam para listar verdadeiros
campos fornecidos por bancos de dados, e cada ser se talha, quando
abatido ou ser vivente, humano ou não, nessa mística descomplicada
dos códigos de barra, dos CPFs, das contas bancárias, em síntese,
em um enquadramento X, factível e explicável a quem está dentro da
urbana sociedade de consumo. Brutalidade à parte, o brutal é
previsível, é de contato ou não, vira coação, vira por vezes
lutas insanas onde o respeito torna-se costume de grupos ou engenho
da hipocrisia, tornando-se palavra vazia, propósito anacrônico,
amor platônico ou de Onã. À parte, a libido torna-se igualmente
motivo de violência, ciúmes incontroláveis, interesses abjetos, ou
compensação da aproximação da senilidade na busca por poder e
riquezas para compensar a abjeção do homem contemporâneo, em cópia
simples do que foi o alvor da riqueza baseada na exploração
histórica, tantas vezes tornada realidade em tipos simbólicos de
antropofagia escalar. A motivação torpe pode ser traduzida por meio
dos sentidos humanos e sua cegueira com relação ao entorno,
ampliada enormemente pela dependência afetiva dos meios eletrônicos,
e sua impotência sistemática em se tornar algo por hora realmente
válido. Uma retroação da invenção de Gutemberg, ou dos primeiros
jornais da grande imprensa, em que Balzac tão bem retratou nos
costumes tão válidos dos tempos das prensas de impressão, da
literatura e das editoras, em seu “As Ilusões Perdidas”.
Afora
a complexidade que se reúne em torno de um tronco secular, onde
economicamente as sociedades mudam conforme tendências que se
alternam, vive-se, infelizmente hoje em dia, um mundo regresso em
seus modais exploratórios do homem pelo homem e do homem em relação
à Natureza. Que se grife a Natureza como um conjunto onde o homem é
subconjunto daquele, pois não é a Natureza que deve estar a serviço
do ser humano, mas justamente o inverso. As questões econômicas
onde a espécie tíbia como a nossa navega em torno de si mesma são
motivos os mais diversos para se estabelecer um contraponto onde
estamos a querer que o planeta se nos obedeça, mas o látego dos
desastres naturais e de doenças mentais endêmicas aceites como
modus operativos normais no andamento de certos comportamentos sem
escapes culturais nos revela a fragilidade em que passamos a
acreditar em certas crenças medievais.
Houve
um tempo, mais precisamente no século XVIII e no início do século
XIX que as transformações dos meios em que se processava a produção
das riquezas e o surgimento da burguesia nascente, onde a corrida ao
renascimento da tecnologia permitiu enormes avanços econômicos, em
que a cultura e o engrandecimento dos encontros com diversas
civilizações permitiram uma mescla entre o novo e o antigo, entre o
Europeu e o Asiático, igualmente o espelhamento das Américas como
sedimentação – ainda que rudimentar – de novos processos de
civilização. O andamento das máquinas, das novas modalidades de
transportes, como os navios a vapor e as ferrovias baseados com a
queima do carvão mineral, anteciparam um recrudescer de problemas
que podem ter se cronificados, mas que de um lado positivo tenderam a
alicerçar novas formas de se ver o mundo, com a mudança de
paradigmas produtivos, e o acesso aos impressos e uma maior
popularização das artes, onde passou-se de românticos idealistas
ao realismo e naturalismo, grande movimentos artísticos nas artes
visuais e na literatura. Quando James Watt inventa a máquina a
vapor, quando Edson cria a lâmpada, e tantos outros frutos do
engenho maravilhoso do homem irrompem no processo de recriação de
recursos e inovação de meios, começa a irromper o desejo de
possuir mais e mais, recriam-se famílias de atitudes de etiqueta, e
a Inglaterra e a França despontam com carrilhões dessa nova
ordenação econômica e política no planeta.
Desde
o primórdio da civilização na Mesopotâmia com a invenção da
agricultura a questão humana abraça um desejo essencial que toma
corpo com as novas técnicas da ciência: as novas descobertas, os
novos recursos de produção que vai desde o utilitário na arte até
a busca desta com a fabulosa tradução cultural dos povos. Tornar
tudo muito complexo faz parte de engenho do pensamento mais
rebuscado, mas toda a tecnologia e sua busca faz parte da espécie em
crescer e dominar a matéria, com todos os meios que possam plasmá-la
em busca dos interesses de ganho, desde o próprio nascimento
helenístico até Roma e o pensamento Ocidental. Esse surgimento do
pensamento grego é que remonta as origens da moderna e sempre
atualizada busca pela perfeição e pela beleza. No entanto, quando o
ideal e a busca da beleza – tanto material quanto espiritual – se
revela na criação de prejulgamentos ou pensamentos preconcebidos, a
fim de se isolar o próximo, independente de suas crenças ou de suas
tendências existenciais, é que o ser humano começa a encontra uma
perplexidade em torno de si mesmo e dos seus que justifique qualquer
modo de violência, culminando nas guerras. Essa questão é o que
torna toda uma sociedade bestificada dentro de uma simples
contradição, onde o bem encontra-se com si mesmo na prática
altruísta da segregação, mas que na verdade é um ponto crucial
que enfeixa a simplicidade humana na eterna tentativa de se ser
complexo, através do ego que compense a maldade justificada.
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