terça-feira, 5 de março de 2019

A IDEIA COMO FUTURA CRIATIVIDADE



            Não adianta ignorar-se algo por ignorar, simplesmente... Uma nova notícia sempre é informação, e o fato de relacionar-se com ela remonta uma opinião de cada qual: isso é a mais pura verdade. No mundo das ideias, no entanto, o pensamento expresso pode revelar a olhos mais atentos algumas relações cerebrais até então adormecidas pelo consonante olhar, a perícia de se ver alguma ideia estrita, no sentido lato, ou ao menos na tentativa de se fazer perceber, mesmo que se sustenha em uma limitação rudimentar, mesmo que na plataforma da lucidez. Em uma verdade talvez encoberta, temos muito a aprender com a Natureza, mas essa assertiva parece chuva no molhado. O que ocultamos em nossos comportamentos ou posições perante o nosso entorno é que por vezes acreditamos piamente que estamos certos sobre quase tudo. Isso obviamente vem a dar nos costados da religião que pode abraçar ou explicar a Criação dentro de suas escrituras – aqui por citar as grandes religiões do mundo e seus cânones –, mas apesar disso não podemos jamais descartar o conhecimento que a humanidade consagrou às suas próprias descobertas científicas, mesmo porque se torna enfadonho tentar relacionar cada aspecto do engenho humano encaixando-o em contexto ou explicações escriturais; mesmo que estas realmente possuam a sua relevância e a imantação decorrente da fé, que sempre será uma força ilimitada e indizível.
            A ideia pode ser resultado dos insights religiosos, pode ser mais do que apenas uma criatividade artística ou similar, mas a completude do homem e da mulher vem a ser talvez a própria complexidade em que variados contextos relativizam a explicação final da existência. Nada como a psiquiatria para compreender a Natureza humana, seus diversos aspectos e a faculdade inerente de, através das medicações, tornar o sofrimento psíquico mais suportável, ou a grande questão da mutabilidade existencial humana. Esse é um lado da medicina, que por sinal hoje já atravessa por milhares de insumos tecnológicos onde a pesquisa moderna avança progressivamente para que tenhamos melhores qualidades de vida aos idosos, por exemplo, com fatos de cura que, há um século atrás, pareceriam verdadeiros milagres, mas graças à ciência se tornam corriqueiros e mais acessíveis. Esse fator tecnológico infelizmente pega desprevenido aquele que pertença a gerações díspares, ou seja, como classes comportamentais que relegam o diálogo consoante com o fator total e integrado naquilo que já o é, para lacunas onde o mesmo diálogo trava a possibilidade flexível do conhecimento, em sua dinâmica e interpretação que não seja necessária apenas de acordo com conceitos e rótulos já há muito dispensados dos novos pensamentos e das releituras positivas do que se aproveita dos antigos. Há uma dialética permanente e nada contraditória naquele possível ermo de quem pensa com os dois hemisférios cerebrais. Essa passível abertura conectiva seria o mesmo que comparar uma caixa de fósforos para as conexões eletrônicas com um isqueiro que acende mais de três mil vezes, que seria a conectividade dos neurônios, ou passivamente comparar uma lâmpada com o sol. Para se ter uma exata dimensão do processo de sinapses cerebrais, são combinatórias impossíveis de mensurar ou registrar, qual não seja talvez de pontuais regiões do comportamento humano quase observável! Heureca, temos muito a aprender...
            Do mesmo modo em que deve-se respeitar as injunções de quaisquer lados, a ortodoxia em ciências como a economia não será sempre a melhor coisa a fazer, nas questões da lógica do próprio mercado. Obviamente, o pão caseiro não possui embalagem agregada, assim como todos os produtos vendidos por peso, a não ser pelo uso continuado do isopor e do plástico: altamente dispensáveis, mesmo porque esses usos passam a estimular a contenda entre ricos e pobres pelo uso do óleo negro na estratégia da geopolítica mundial. Cada bandejinha encerra uma reciclagem ainda incipiente, e o mundo e sua destinação do lixo inorgânico enfrenta reciclagens que devem acompanhar de forma cabal a velocidade do processo do descarte industrial, e novas embalagens de cunho eletrônico que muitas vezes possuem potencial poluente cada vez maior. No entanto, refere-se à embalagem dos produtos que são pesados, frutos da agroindústria. Se um produto agrega em si uma demanda em potencial, se o anúncio coloca a questão do investimento em se criar um desejo do verbo em inglês restrito de se possuir, de se ter: o have, fica fácil de se saber por que às vezes as questões de linguística estão profundamente relacionadas com o dito mercado: market, em inglês. O marketing passa a ser a ciência da publicidade, e a recriação do desejo de se ter algo a mais do que apenas a função a que se destina o produto ou objeto de consumo. Nesse contexto é que novas embalagens são criadas, até o ponto da virtualidade do objeto como algo que não se pega, não é material, mas presta um serviço qualquer, dá um apoio, transforma uma viagem em um diálogo no display... No que seja a tela, onde se dá a conectividade entre os novos modais de comunicação estes que já possuem um poder muito forte em mobilizar opiniões ou atos em favor de algo onde há contradição, que pode ser chamada de fake. Esse fenômeno apresenta-se como modalidade indispensável para a manipulação de alguns tipos de comportamento social, de atos, de revolta, ou mesmo de acesso ao poder. O mercado continua a ser o domínio do acesso livre aos bens, mas essa liberdade é relativizada pelos próprios bens esses, que possuem níveis de hierarquias possíveis dentro do seu espectro do valor. 
            Em síntese, a grande embalagem vira um modo existencial, onde fatalmente a ilusão com relação com relação à privacidade, a uma vida pessoal mais íntima flerta com a possibilidade de expor essa mesma e intensa ansiedade íntima para muitos que sequer participam ainda desse status, onde a fama se recria em uma linha de tempo, onde a linearidade se revela no mesmo modal produtivo de antanho, onde a participação do ser criativo é subentendida, e onde a solidão é preenchida com alguns toques nas teclas de uma esperança algo efêmera. Parece que cabe aos criadores das redes sociais negociarem informações como quem vende chicletes, em um mercado de retrocesso para aqueles que necessitam concretamente de melhores oportunidades, afora a questão da religiosidade que ajuda quando compõem grupos solidários, mas se torna excludente para os que são  rotulados de ímpios ou descrentes.
            A principiar um novo milênio, tragédias como a de Brumadinho entre tantas outras ainda em potencial de ocorrerem no futuro, tragédias como explosões de violência que vitimam inocentes e agentes de segurança, uma educação solapada sobre incertezas de ambos os lados e vitimada pela negligência ao se pagar mal os professores, não deveriam estar ocorrendo, pois que se atenda mais fortemente os anseios populares, e que tente se eximir de culpa aquele que acredite que pensar no povo é questão ideológica – se achar que seja possível não ser culpado por isso.

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