sábado, 3 de novembro de 2018

TONALIDADES


Vamos a ver uma superfície escarlate, mesclada com um amarelo cromo
Em que o pincel duvida e freme, a mais um tom, uma pincelada maestra
Como um nó que se desatasse antes de reaprender qualquer realismo
Mas na atitude quase impressionista das manchas e complementaridades…

Vejo um céu de ultramar, mais claro nos limites das nuvens, um tom rosa
Sobre os cortes dos pés de Cristo, um alvejar no rumor de uma foto de noiva
Em noites que acompanham aquele tom do azul da Prússia quase negro
Que promete alguma estrela, meio que em tatuagem de fogo no ato seguro.

Os corpos que se amam, quem sabe, se o amor não fosse a tonalidade atonal
Que uma prédica não ensaia o verbo, mas que na barba de Pissarro possui
Um toque de Gogh no predizer de outras frentes tão gigantes quando a posse
Que se dá ao menos na historicidade motriz que a arte embala em mundo primeiro.

O canto de tonalidades rubras, o azul que esmaece na poesia dos ventos,
Haveria quem apostasse na loucura azafamada do poeta, mas que este sobrevém
Como em um drone que retira do romantismo qualquer sinal de nostalgia,
Ao menos em que quando um encontro nos fazia quase perder noites de sono!

A noite cai no jardim de um poeta, vai sucumbindo o chá chinês em uma casa,
Verte a feliz bebida de conhaque barato na dimensão mesma das alturas,
Onde pode-se ver o encontro da montanha com o mar, sem saber-se tanto
Se o que há no encontro são cercas, ou se os cães do mato podem se banhar…

Em vida da palheta do artista assiste um cenário quase estimulado pelo som
Que emana do coração de pedra desabrochado pelo rancor coletivo e que,
Nem sempre, sobra a limalha sagrada do material que o ferreiro fabrica
Nas noites em que o mesmo rancor está separado por quilômetros afora.

Verbo de artista, verbo louco de uma luz profunda em que o sofrimento há muito
Ancorou as desditas do mesmo encarceramento de um corpo frente ao limite
Onde a mente encontra-se apaziguada por uma tonalidade abstrata do non sense
Que poderia ser traduzida pelo gesto da linha e a pretensa tonalidade dos pontos.

O que se dirá se dissessem que um dia, a arte florescesse nas mãos dos artistas
E que homens, mulheres, velhos, adultos, crianças pudessem ao menos praticar
Algum ensinamento que construísse, quem sabe ao menos as bíblias dissessem
Uma nova maneira do crente possuir uma ferramenta para ao menos expressar-se!

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