quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A SAÚDE MENTAL E O PENSAR


          Quem dera se muitos cidadãos vulneráveis mentalmente soubessem pensar com a devida categoria de seguir conhecendo filosofia, a poesia, a arte mesma como meio transformador, encontrando na realidade substâncias objetivas para prosseguir encantados com as coisas da Natureza, humana ou não... Essa vulnerabilidade mental pode ser referenciada como pessoas em geral, pois na verdade muitos de nós estão vivendo com rotinas algo desastrosas, ou em dependências do que outros pensam ser certas. A leitura com solidez, com algo que necessite um mergulho nas letras, um foco mais intelectualizado, a ampliação vocabular e gramatical, é um processo que leva o ser a uma saúde mental, mas a variação de leituras, o engrandecimento cultural e artístico, a noção da história e suas diversas maneiras de ver o mundo, faz realmente a diferença em uma contemporaneidade global e plural como a nossa. Nessa atitude de cotidiano não vale a lei do menor esforço, como ver apenas um programa televisivo e achar que domina a sintaxe existencial, mas reza por um esforço intelectual que seja progressivo, e que no mínimo leva a referências mais consistentes sobre a vida e o mundo onde vivemos, quando soubermos finalmente que não vai ser apenas a religião que nos conceda a visão da cultura de todos os povos, ou aquilo que paulatinamente porventura alcancemos pouco a pouco. Pode ser que um enfermo mental enfrente duras dificuldades – ipsum facto – e que sua realidade seja bem mais penosa do que a do “outro”. No entanto, para que aquele tenha mais conforto e se sinta mais incluído pensarmos na saída religiosa nem sempre é a solução, pois oficinas de trabalho de arte, artesanato, noções básicas de produção, afeto e ternura sempre foram boas terapias para os que sofrem da doença psíquica, e toda a ação que busque essas práticas devem ser bem-vindas, sob o escopo de iluminação e esforço. Pensar-se que a ajuda ao mais necessitado tem que vir somente das frentes da religião, não se poderá consentir que é na abertura da percepção material e espiritual que se gera um conhecimento, uma prática de manufatura, ou a necessidade atávica do homem pela expressão artística.
          Quando se inicia um programa ou iniciativa para se montar algo que beneficie um grupo de enfermos, ou se vincula a atividade com uma instituição, o pensamento desse começo deve ser consistente o suficiente, há que se medir a operacionalização, as limitações de cada ser atuante no processo e manter distância dos óbices que surgirem contra a criação desse tipo de iniciativa, que pode ser dinâmica em seus diálogos internos para a sua consecução, ou vir de respostas que demandem mais tempo para tal. É como lançar um grande navio à água: antes é preciso projetar e fabricar a embarcação, pois qualquer rachadura no casco o põe a pique. O pensamento gera, rende frutos no processo das iniciativas, quais sejam privadas ou não. O tipo de atitude que se pensa para melhorar a saúde mental do próximo, ou de quem está do nosso lado, é situar o ser na consciência ou, melhor dizendo, trazer o ser para a vida concreta, ou mesmo proporcionar a arte como função de expressão, brotando de sua psique este tipo de lavor.
         Por fim, a faculdade de pensar é inata, e muito faremos a nós mesmos se pensarmos com intensidade, se especularmos filosoficamente sobre qualquer tema, se descobrirmos na Grécia ou na sua subsequência os gênios que deram esteio para o pensamento ocidental, se nos aproximarmos do Oriente, ou se questionarmos as próprias contradições que se revelam em seus próprios diálogos. O bom de se pensar no pensar, é ter em mente que todos os seres humanos, para alcançarem a totalidade ou os fragmentos que a tecnologia tem a lhes oferecer, hão de compreender que esta parte da premissa de que há um conhecimento sobre a aplicação em tudo o que se traduz por técnica, e que esse conhecimento de ordem tecnológica é apenas um dos lados do imenso icosaedro de nossa espécie nos dias atuais…  

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