sábado, 24 de novembro de 2018

O BELO E O ESPÍRITO



            A observação do belo é algo que talvez o vulgo não alcance na dimensão mesma da percepção mais acurada dos sentidos. O belo espiritual seria uma transcendência ao pragmatismo material, quando muito, se aceitarmos apenas a Natureza Material como objeto de lógica fria sem levarmos em conta o animismo ou a visão mística de uma realidade. O Mistério é algo quase intangível, mas revela a atenção pertinente ao canto missioneiro. Até onde se pode arguir o fato, o belo e sua contemplação dão as margens para a criação – espelho da alma – e o próprio reflexo da Natureza como realidade anímica e movida igualmente por leis materiais. A matéria subjetiva dá espaço a que se realize a compreensão de um fato artístico, ou mesmo a acepção do entorno na via direta em que surge a mesma condição da apreensão do visível, enquanto matéria estática ou dinâmica. De modo tal que surge concomitantemente a versão de que encontramos na imagem reproduzida por meios eletrônicos o mesmo que se veria com a percepção humana, o que restringe muito a compreensão mesma da capacidade de nossos sentidos e sua dimensão tridimensional, a citar, na visão completa do olhar humano.
Na visão de um filme temos a repetição de uma realidade posta na tela, onde o bidimensional é percebido através desse display. A leitura assaz repetitiva desse modo de olhar tem por consequência uma adaptação forçada ao bidimensional, enquanto que aqueles que compreendem o espaço tridimensional participam da não adaptação forçada a um único tipo de visão, considerando aqueles que estão sempre ligados aos gadgets, e não os que criam ou entendem cientificamente o processo da produção cinematográfica atual, com os recursos que fazem os estúdios enriquecerem através da computação gráfica, sendo ou tendo a ilusão de serem controladores ou sabedores do sistema tecnológico atual, mais do que o usual.
            Tantas são as técnicas computacionais hoje em dia que o conhecimento que traduza os seus domínios caracteriza ou confere um tipo de poder emblemático, pois insere cabalmente na sociedade desenvolvida aqueles que dispõem de tipos de segredos – quando encaram dessa forma – do universo da informática: seus padrões, seu labor.
O modo de feitura de algo na informática já torna concreta a materialização de muitos aspectos produtivos, transformando informações em conhecimentos, e estes na confecção das indústrias ou da arte visual e tátil. Essa mudança de paradigmas nas sociedades da globalização por vezes torna não muito viável o surgimento de pequenas empresas com alto valor agregado, de caráter regional, pois as ideias mais empreendedoras nessa plataforma tecnológica geralmente vêm já com roupagens externas, internacionais, ou seja, as grandes empresas praticamente incorporam os pequenos negócios quando estes se revelam lucrativos.
No entanto, fomentar, dentro de um país com necessidades reais de desenvolvimento, uma capacitação tecnológica de ponta, com investimentos rigorosos na educação e suas universidades, é o caminho de se equalizar os meios com os seus coadjuvantes e principais atores. Nessa medida e circunstância cabal é que nos surpreenderíamos se dentro de um país como o nossos o belo passasse a ser apreciado por um número cada vez maior, em um público interno e com capacitação produtiva, não apenas das artes visuais como da compreensão dos aspectos de tecnologia que hoje parecem herméticos ao grande público. Seria uma versão continuadora de processos fabris importantes, ou seja, mais e melhores do que termos que saber apenas se vamos prosseguir com progressismo ou conservadorismo, colocando rótulos onde se perde um tempo rigorosamente valioso com questões de maquilagem. A rigor, o contato da tecnologia e sua mescla com a contemplação do belo artístico ou funcional, vem a consentir espiritualmente em uma sociedade que não tenha que compulsoriamente acreditar verticalmente no tipo de função a que premeditadamente se pensa ser verdadeira ou não. Das crenças se funde o próprio Mistério, que vem a dar na ciência transcendental da tríade, na existência do Espírito, na força mesma da vida que é gerada, na crença multifária de um Criador. Na duração da mesma vida, em qualquer modal religioso que deve ser respeitado, pois é essa a relação de respeito que deve haver entre as pessoas de bem, e não qualquer oposto que sirva a demandas não consensuais.

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