quarta-feira, 12 de setembro de 2018

OS TONS QUASE COLORIDOS


         Passam os dias com a tonalidade da ausência… Não que a tonalidade não proponha, mas de fato a cor significa demasiado. Algo das vestes escuras, do dark na noite, dos cinzas que se travestem do colorido pouco, não muito, quase nada. Há que se ver que para alguns a roupa pode ser um comportar, uma estampa por vezes é um libelo ou a assunção do que não seria tão importante, haja vista o panorama mundial esteja exibindo muito alarde, aquele de modo fartamente ilusório. Resta ao vivente que se jacta de possuir a razão um rebatimento de suas próprias culpas. Lógico é que o comportamento tem sediado e limitado a existência cotidiana dos seres que somos, tão sedentos de plataformas que possibilitem o desenvolver-nos. No entanto, os dias prosseguem cinzas de quaisquer partes, ou vermelho, como rótulo de diferenciação, ou a agressividade e a violência como moeda corrente, em máfias de esquerda ou direita, de centro, de norte a sul, do Chui ao equador, que se teima que a solução não será encontrada antes de sabermos quem ganha uma eleição onde a simples tomada de poder dá um break, acelera o valor de moedas estrangeiras, tece acordos unilaterais com costuras futuras e dar-se-á assento no grande trono de um Brasil em mais um reinado, isso se houver súditos que permitam o resultado. Por vezes a figura do líder é um homem, mesmo com partido pífio, em outras um partido mais forte e um sem candidato, ao menos na opção possível, dentro dos novos padrões em que os poderes constituídos o permitam, pois há castelos irrefutáveis, e o do poder executivo é um mero detalhe.
         Segue-se o padrão das cores, pois vestir algo pode parecer dissonante, uma ausência do terno que intimida, ou mesmo um fraque na calada das reuniões de alto nível em noites regadas à champanhes e caviar, sediados por vezes em bunkers fechados por toda a segurança do mundo, qual não seja, um dito e mero condomínio para poucos. E o preto é fascinante, a gravata pode ter uma tonalidade de um cinza prateado, como as joias de uma coroa com o fascinante borrifo da prata ganha por alguma personalidade bem festiva: no mesmo caráter… Por outro lado, temos as cores da carestia e da miséria humanas: cores noturnas de papelão, cabeças em desalinho e tortas por álcool e drogas, a cor fria do sem compaixão que passa, a cor túrgida, como uma navalha na carne, do preconceito, a razão que desconhece a resposta, o direito a não ter trabalho, a alcunha de vagabundo, o êxodo, a desesperança e o vazio. A grande questão sartreana, de qual seria o tempo da razão, qual seria a motivação por vezes de elucidar uma práxis retórica ad juris, porquanto nos termos em que a conciliação da razão com a subjetividade humana não cabe! Parece o mundo feito de alguns castelos que edificam suas próprias pedras, na reconstrução de paredes invisíveis, onde as imensas salas darão cada vez mais espaço para o barbarismo, liderado ou não, pois a liderança que exerce um comando único sobre seus cidadãos é algo que beira o colapso da mesma razão, e que esta seja de alguma cor, por dentro, onde as crianças saibam ao menos que seus adultos por ventura nunca saberiam ler, mas que os podem ensinar agora. Justo, um pretexto ao menos de um agora de merecimento, de cultura, educação, gesto e amor mesmo àqueles que os poderes revogam no esquecimento.
         As cores que o sol prisma na água, na maravilhosa água do Vale do Rio Doce são as mesmas que o carmim do ferro mesclado com a lama espelha aos olhos de qualquer observador de qualquer continente. O calor varre nossa obra de um museu gigantesco, ao menos uma estampa de um museu em uma camiseta, na urbe daqueles que jamais deixarão de usar na sua aparência o que é apenas quase algo, quase cor, quase sapatos, quase botas, frações de um tempo, história do sem infância, ou infantes sem muita memória… Dessa prerrogativa de cores de frequência previsível e pouco alternada, de um comportamento onde considera-se uma crítica como ousadia insana antes de lê-la, aproxima a questão de um mundo onde as diásporas continuarão e as guerras fincarão pé na memória que servirá a pretensos resultados sinistros dentro do futuro que se avizinha.
        No entanto, a primavera pode trazer flores aos nossos jardins, no que os cupidos se ergam sobre as fachadas das nossas esperanças, e um bom futuro, ao menos no que envolve e àqueles que pensam no bem do próximo, com reverência aos mais velhos, com a reeducação do agressor, e um retorno a uma democracia de paz e desenvolvimento nacional, podemos ter certamente a sensação de estarmos assistindo a um documentário sobre as flores que nascerão nos vales do mundo! Talvez muitos não gostem da primavera, mas quando cuidamos do jardim no inverno, ela aparece com um sol mais gigante.

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