segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A MEMÓRIA E A MATÉRIA



Veste-se o tempo de uma aura incansável, quando o que nos permitimos
É prosseguir no sem nome de tudo – no muito quase – distante ou não
Do que se possa talvez dizer daquele ser escondido no breu do asfalto.

Veem-se passadas, rútilas e formigantes, na própria circunstância do teto
Em que um para conquista-lo sobe o degrau da propriedade de um metro
Sentindo-se príncipe enquanto não desalojam de vez suas esperanças.

Dorme um negro quase morto, em um chão enrolado com coberta rota
Em que o travesseiro é quase um calçado: festins de sapataria, ou tênis
Conforme a gravidade do que lhe tenha dado a fome em preservar o bem.

A matéria vira cárcere da poesia, e que não nos remonte qualquer ideia
Qual não seja a versatilidade do olhar de um animal, o ruminar da pena
De um pássaro em sua gaiola, quando lhe dá de manhã o canto sem fêmea.

Não, que a visita não fosse tão íntima, mas de outra gaiola em generoso,
Os profetas de suas liberdades aproximam os namorados em jaulas
Para admirar a música do pássaro cativo que transforma a prisão em voz!

No assobio humano de seu conterrâneo igualmente quase inumano
Passam seres sem memória, cativos na imensidão de suas rodas tortas
Quanto de perscrutarem os carros nas curvas da imensidão de uma quadra.

E veste-se a matéria de natureza capital, crua e disforme, não encaixada,
A matéria que no entanto existe, por vezes capitaneada por escalas de buscas,
Por vezes na memória do tato em que o catador recorda que havia lata no lixo.

E, mesmo que o sacrifício do poeta seja farto o fruto de seu labor que inflame
A paixão dos inocentes que vivem não no limbo da antessala de vésperas,
Mas em um degrau corriqueiro onde uma mulher linda lhe dá o de comer...

Posto na matéria o poeta não come quando se sabe que o comer de verdade
É de obtenção altamente difícil, como em uma luta sem tréguas, sob a ofensa,
Em modais típicos em que suportes da liberdade fazem parte apenas da memória.

Dois meses não perfazem solução próxima ou distante, a vida não se completa jamais
Quando um sabe que dita a sombra do tempo mais necessário enquanto conserta a casa
No exemplo cabal de que ao menos façamos da casa uma arrumação secreta de que seja lar.

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