sábado, 29 de setembro de 2018

O RENUNCIANTE


         De tanto se fala do poder, que nossos escapes por vezes são de se fugir da menor possibilidade dele. De qualquer modo, nem todos os querem, e assim são os que renunciam a essa vertente. O ato de renúncia vem de uma modalidade em que a fama não pode se equiparar com a mesma existência que vê essa mesma fama dentro do espectro do falso ego. Em tese, o renunciado pode vir de uma religião, esta mesma que encerra dentro de seus variados aspectos a riqueza espiritual que surge de potência interna do indivíduo, e suas associações com outros devotos. Acontece uma transferência de postura que muitos possuem de arrogância, para o oposto, que é a humildade, tão necessária em todas as classes sociais, em todas as ingerências sociais, mesmo fora da opção religiosa. No entanto, há que se reiterar que essa questão da fama pode ser de duas pontas: boa e ruim, dependendo de como a sociedade por vários motivos acaba por destruir ou não a fama, tornando-a execrável por vezes, praticamente quando esta pessoa que a possui passa a não atender às demandas de poder e interesses particulares, em que os veículos de comunicação, que são a engrenagem sistêmica do processo da irradiação dessa maquiagem em que muitos se tornam, muitas vezes trabalham no viés do que antes era plausível, e, de acordo, amigável ou mesmo verdadeiro. Pode parecer confuso, mas em síntese, o que antes era rei vira mero peão ou, mesmo tendo se empenhado por uma causa gigante, é ignorado pelos sistemas de comunicação pois vai contra o interesse que a mídia representa na sociedade, como ancoragem da solicitude aos poderosos. Essa coisa que não se mexe, isso de estar-se de acordo com um tipo de comportamento tele guiado, vira conforto em um tipo de Olimpo de neon que caracteriza a blindagem dos meios de informação e comunicação em países outrora emergentes e agora mais e mais pauperizados, como o Brasil.
         O renunciante passa a ser raro nos dias de hoje, em que o ascetismo praticamente não existe no modal de nossas sociedades modernas. Sempre há uma conotação sexual quando um homem ou uma mulher despontam em suas carreiras tornadas famas. A curiosidade dos cidadãos anônimos passa a ver nos ícones das historietas e da ficção que imita a vida – tal como material de indução, pois promete a que sejamos praticamente peças da mesma história – vê nos olhos da tela seu futuro e pouca identificação com si mesmos, na realidade por que passam cotidianamente. O renunciante renuncia – quando autêntico – ao véu da ilusão em nossas sociedades, a cobertura material de Maya. Pode parecer uma abordagem simplista, mas não importa onde o renunciado esteja, se no campo, na floresta ou na cidade. Ele certamente aparece mais aos olhos de Deus e rechaça a fama materialista, sua tipificação do resultado, e passa a prestar serviço amoroso a Krsna, mesmo que saibamos que na verdade isso independe de qualquer religião, e sim da postura perante o mundo e sua consciência planetária e universal, enquanto consciente dos deveres de estudar e pregar a consciência da bondade e da providência divina. Tanto um judeu como um muçulmano, um católico ou budista, um umbandista e um espírita, todos somos aptos para servir a algo. Essa vocação do serviço devocional é latente no ser humano e, como no exemplo de São Francisco, serviço aos seres outros que habitam este planeta é uma consagração idealmente maravilhosa!
          Se um homem ou uma mulher de bem servem ao país, à sua pátria, querendo o melhor para seu povo, este modo de serviço possui a histórica legitimidade, tanto é válida a intenção e o efetivo trabalho para tanto. Há que se pensar em uma sociedade pluralista, na aceitação incluso do ateísmo. A troco de sabermos o que possui diferenças no modo de se estar de um bom Estado, de uma Nação consagradora, tanto é válida a crença como o ateísmo ou o agnosticismo, pois o que importa é que ninguém pode estabelecer verticalmente a ordem em um país assolado pelas incertezas, pois essencialmente isso só poderá vir da União dos diferentes, e não da concepção beligerante de que internamente tenhamos que criar campos de batalha, de brasileiros contra brasileiros, pois não podemos ser o retrato algo criado sinistramente dos erros e truculências de países que por vezes consideramos mais ricos e portanto mais inteligentes, como um padrão que se possa copiar dentro de nossa realidade. Não há a menor possibilidade do funcionamento dessa argumentação interpretativa, pois não seremos jamais a repetição da insanidade institucionalizada, haja vista já não termos mais espaço para o regresso.


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