quarta-feira, 4 de julho de 2018

GIRA A MANIVELA

            Visto o mundo como um imenso motor em que a eletricidade move conexões em torno de milhões e milhões de pessoas em informações, segue-se um canto de cigarra quando nos aproxima o verão, seguem-se outras coisas, por mais que não seja algo de percepção. Não estamos compulsoriamente vinculados a qualquer sistema, não devemos nos impor existencialmente àquilo em que nos tornamos objetos de consumo em uma economia de mercado onde a iniciativa particular seja a única parte crédula de toda uma população. No entanto, essas estranhas caixinhas que carregamos já fazem parte da sintaxe do comportamento global e temos por consequência disso o fato, o acesso, mas não o comprometimento de que sejamos necessariamente os coadjuvantes de um processo muito maior do que o dito fato. Um processo que sempre nos parece estar urgindo por atualizações, onde o valor dessas maquininhas seja limitante do que se possa usufruir ou daquilo que muitos não possuem esse padrão, fator esse de descriminação àqueles que não estejam conectados ao sistema da informática. Essa separação não deve ser a ausência do que conhecemos, mas a presença do que temos de sólido porquanto esse modo de olhar repõe a ausência mesma da raridade, porquanto parece estarmos em um grande sono enquanto acontecem coisas bárbaras no seio da nossa sociedade. O modo de se estar na rua e trazer para cada qual um registro de um passeio não é o único processo que por vezes torna o homem produtivo na acepção crua de que a janela por onde vemos a realidade tenha que efetivamente passar por um símbolo de curtir, como se nos reduzíssemos à audiência pura e simples de uma coisa que poder render popularidade grande como – em ambos os casos – apenas a manutenção de seguidores, em uma manivela que não gira.
            A construção de um prédio pelos operários é um exemplo de como se erguer efetivamente algo concreto, independente, o que agrega na questão de sociabilização no mano a mano o fator antes de tudo apolítico, onde nunca se pensa no sindicato, a não ser que deste se precise. E variados modais da agricultura familiar, onde o minifúndio gera do alimento para as cidades, há situações em que a rede da net sequer chegou até esses rincões, onde o acesso depende de veículos tão somente, onde a comida é preparada com fogão a lenha, onde os filhos ajudam no trabalho. Já nos grandes latifúndios produtivos, como os plantadores de soja, por exemplo, a mecanização já traz embutida em seus sistemas recursos os mais diversos, dispondo de poucos trabalhadores e uso de muitos pesticidas, como algo que já se apresenta com perfil usual nos índices de intoxicação pelos consumidores de produtos da lavoura de maiores índices produtivos. Ou seja, os equipamentos de tecnologia informatizada não são utilizados para evitar a toxidade dos pesticidas e seus usos contínuos, mas na pauperização do solo de apenas uma ou duas culturas, sem a rotatividade necessária do cultivo. Muitos, por causa dos erros desenfreados e inumanos das iniciativas de demanda do mercado, voltam a uma modalidade mais perto da terra para poder produzir seus próprios alimentos, haja vista que em países da América Latina os abusos dos governos são os mais frequentes e diversos. Pois a manivela da engrenagem pode rodar em outros motores, dar a partida a que não sejamos uma massa anódina, sem cultura, inerme porquanto sem forças, sem a possibilidade de mudar para melhorar nossos processos que vêm das raízes da terra, ou mesmo de uma betoneira que ergue as nossas vivendas. Para isso giremos as nossas manivelas, na relação inequívoca do fazer, do construir e do expressar.
            Repensando os nossos costumes e a nossa cultura, perceberemos que nada pode ser mais importante do que voltarmos os nossos olhos para uma releitura de nossa história, a ver por mais inóspito a alguns seja o território do saber, é apenas a partir deste que espelharemos o nosso lócus em uma era tão profunda de transformações como a nossa atualidade. Não podemos jamais pensar que em termos de Poder o vale tudo seja a mola que nos impulsione, pois sempre será a hora de agirmos com mais solidariedade e menos egoísmo, de mais compartir e menos sectarismo, e o encontro de gerações pode ser manancial rico de possibilidades de não apenas reconhecer o outro, como respeitá-lo, e deixarmos de estar em uma posição de contendas, estas onde o que se oferece é o risco de viver sem a paz necessária. A mesma paz que transcenda alguns problemas que nos parecem insolúveis, mas que através dela lutemos pelos direitos que devem ser inerentes ao processo evolutivo de seres que somos neste novo século, e nos séculos que ainda não surgiram, por toda a eternidade. Que se há uma pequena fração que nos dite o certo, usemos as boas novas para fazer ressurgir as esperanças de que não apenas o país mas o mundo saiba superar as crises cíclicas e humanitárias que assediam o propósito de vivermos melhor neste mundo maravilhoso, azul como o mar...

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