sexta-feira, 20 de julho de 2018

A CORREÇÃO DE VALTER


            Valter tinha sido nomeado comissário havia quatro dias e trouxera toda a documentação para a mesa. Um quadro de anotações ele utilizara para esquemas gráficos e frases que lhe eram importantes para elucidar questões relativas a alguns operativos. Sabia do transe em que alguns lunáticos sentiam pela proximidade da lei, mas tentava não ir muito às ruas, pois sua cabeça pensava melhor com um micro computador, um bom binóculo e seus marcadores de texto, além obviamente de recolher ou analisar evidências através de imagens, como fotos, mapas e grafismos outros que não apenas os triviais, mas a natureza intrínseca de algumas mensagens, telefonemas para um subordinado, ou mesmo em ligações para outras cidades, onde as ocorrências tinham a ver com o sítio, ou o lugar mais aproximado ou distante de seu distrito. Houvera um recrudescimento de violência em alguns pontos do bairro, e se fazia necessário estar mais atento para a possibilidade de contendas ou enfrentamentos. No mais, a rotina era sua vantagem, pois não lhe importava estar a viajar muito, ou mesmo a descansar e tirar férias de suas funções. Aliás, a rotina parecia ser a sua chefe, algo de se estar em casa sem estar, de ver os conhecidos, os passantes, fremir pela tranquilidade de uma paz, que a ela sempre pretendia, irremediavelmente não gostava do conflito e nem da violência, por isso não portava armas, e sempre preferia que seus homens nunca o fizessem, a não ser em último recurso, como algo inevitável.
            As câmeras de vigilância de algumas ruas teriam nova programação, e os chamamentos de urgência agora eram feitos de cinco bases, onde se cobria exatamente a área necessária, que ia de Franco Matoso, uma comunidade perto da região do Brejo, até a grande avenida Francisco Carlos, pois a metrópole havia consentido com a Prefeitura ampliar a atuação da Força no entorno das vicinais da capital. O seu trabalho anterior havia sido o de ampliar o andamento da segurança hospitalar, no ir e vir, quando de sua função como apaziguador nos conflitos que impediam o acesso das populações mais pobres às unidades de tratamento de transtornos mentais e postos de saúde do Sistema de Saúde do Estado, que demandavam a ajuda necessária, inclusive da força militar. Esse seu andamento em reforçar a vigilância, dialogar com os habitantes das comunidades da periferia, permitir livre acesso aos postos de saúde e incrementar os benefícios e adaptação em sociedade dos portadores de males psíquicos, através dos Centros de Atenção, e a visível competência operacional que sua patente lhe conferia na corporação, definiram em sua carreira brilhante um posto na inteligência tática em comandar mais atentamente uma área de atuação maior e com definições duvidosas para que sua atuação organizasse todo o papel de segurança pública na região afetada. Essa predisposição em organizar e redefinir meios de atuação da segurança pública em pouco tempo teve progressos em índices positivos e diálogos mais abertos a toda a população.
            Valter possuía ele mesmo um critério de adaptação às dificuldades, com aproveitamento máximo quando ainda com pouco efetivo, exigindo de seus comandados o máximo de valor possível, e com a humildade e o diálogo aberto e franco com a tropa como um todo. A ideia de trazer técnicas de treinamento que desse exemplo na corporação e nas instituições como um todo, de aproximar os agentes de segurança da comunidade era para ele uma condição sem a qual não se poderia manter uma ordem de consenso no quartel. O treinamento de seus soldados teria que ser mais rigoroso, não apenas no sentido de rigores clássicos e quase espartanos, mas na faculdade de disporem de educação arejada com relação à filosofia e cultivo das artes, do artesanato, música e ciência. Cidadãos do seu próprio tempo, pois não haveria a menor possibilidade de seus soldados estarem fechados em aplicativos eletrônicos, se não tivessem o conhecimento do que é o conceito da cidadania em teoria e na prática e do humanismo como pilar fundamental do conhecimento entre as pessoas.
            Valter consagrou-se capitão, incrementando e adaptando seu modal de operações, recriando outra rotina, enquadrando entradas e saídas em que o crime organizado se fazia na rota que fluía pelas vicinais, criou centros de reabilitação para viciados, restabeleceu sólida hierarquia, organizando cabalmente o setor que lhe fora designado. Como um exemplo de adequação aos propósitos de bons resultados e lucidez em resolver casos mais complexos, seu distrito tornou-se referência na metrópole, gerando frutos em outros lugares como uma questão administrativa bem equacionada. Sua visualização se tornou fundamental no processo, e sua correção um exemplo de humanidade na administração da segurança pública.

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