sábado, 2 de junho de 2018

A CONTEMPLAÇÃO

         A beleza de um motivo da Natureza por si pode ser objeto de um olhar acurado no modo mesmo contemplativo, ou em um perscrutar-se de ideias, de insights e descobertas a bel prazer, qual não fosse infinito o domínio dessa mesma Natureza. O mesmo olhar atento, fora do box digital, essa pequena obra da ciência que aparentemente nos leva, enquanto máquina, a pensarmos em um outro infinito, o domínio das informações e iteração com elas, de modo a recebermos em nosso olhar o objeto poderoso de comunicação, que se pretenda obviamente mais raro sairmos desse espectro e abraçarmos as coisas que estão imediatamente ao nosso lado. O conhecimento mais aprimorado depende de como vemos o que a maior parte das pessoas ignoram, mesmo em geografias mais urbanas, onde o concreto é mais presente: nas calçadas, no asfalto e nos prédios. Mesmo que tenhamos algo da ciência em compreendermos que a obra humana nos pareça a última palavra com seus modos invasivos no habitat de outros seres, haveremos de saber que seres distintos e com algo nível de sobrevivência convivem simbioticamente com o concreto que correntemente avança – mesmo que de modo desordenado – pelas urbes afora. Agora, se conceituarmos que para o futuro tudo estará sinteticamente resolvido através da digitalização de nossa consciência, estaremos incorrendo em separar os ofícios entre quem está ou não inserido nessa grande ficção, o que não deixa de ser uma população que passa a trabalhar fora dos meios digitais, como grande parte dos operários e camponeses e aqueles que vivem a ciência de modo superlativo, relativizando certezas de acordo com um sistema que se impõe cada vez mais na perspectiva de que – em um país como o nosso – essa divisão se pronuncie igualmente separando gerações e distanciando o diálogo entre elas. A contemplação passa a ser um aglutinante sincero entre as gentes, gerando na Natureza, construída ou não, uma comunhão existencial necessária. Essa mesmaA comunhão que o Espírito busca sempre através da vida, e que suas palavras permaneçam incólumes, pois sempre será o sal da mesma vida…
          Entre o belo e o ideal da beleza está continuamente o diálogo que incorre na então busca da representação entre o que é real e a expressão mesma da arte que representa o onírico, mesmo sendo realista, no que vem a ser faculdade de resgate para que se deixe fluir o anímico, o espiritual, dentro da estética e dos valores culturais humanos. Essa noção de que a arte norteia a natureza humana é tão atávica quanto os primeiros registros em Altamira e Lascaux, registros esses que conferiam algo de mágico na vida pré civilizatória, porquanto séculos e séculos depois vemos uma certa mágica quando aparentemente o computador vira um registro de mapas informacionais que recebemos – aqueles que têm acesso – espetaculares avanços científicos em tempos estonteantemente menores. A arte torna-se raridade enquanto o fazer artístico, dentro da construção mesma do anima humano, seus sabores e venturas, no fluir da expressão do espírito, seja ela razão ou intuição, pintura, escultura, artesanato, desenho, literatura, etc. Para citar meios em que de modo quase alquímico resgatemos as raízes perdidas como homo faber que somos.

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