sexta-feira, 4 de maio de 2018

NÃO NOS AVANCE A CARESTIA

           Quem somos neste mundo redondo e gigantesco, tão grande que tudo parece um grande plano, onde a esfera gira a muitos perceberem o sol, em suas lavouras, ou nas cidades, sem dar-se exatamente conta do que a ciência tem revelado à humanidade desde o tempo mais remoto. Têm-se a impressão do mesmo tempo em que, ao suceder uma informação de trilhões de byte por segundo, há na estação das chuvas a espera que esta realmente venha, espera de meses por vezes, para garantir a colheita de alguma cultura. Por ventura que há a colheita quase certa da soja e da cana de açúcar, mas em outras a mandioca passa a ser rara. O tempo relativiza muito, quando de uma greve as dificuldades por que passa uma categoria transfere a dificuldade para muita gente, que depende do serviço, mas a greve é o único modo de fazer com que algum direito pelo menos seja obtido, ou que se abra um diálogo assim, na forçada. A greve, esta mesma que encontramos nas ruas, as manifestações, são instrumentos ao menos para o diálogo, se transforma em um tipo de valor. Está certo que as mídias sejam alinhadas com os governos mais conservadores no neoliberalismo, e portanto algo como uma manifestação seja contra um governo mais voltado ao povo, a aquelas dão a cobertura plena, e o inverso não acontece. Mas a greve, quando afeta diretamente o próprio povo, e deste as classes mais favorecidas, são veiculadas pela mídia e recebem a crítica, dentro de uma espécie de engrenagem onde há um tipo de ação e suas negativas. Ou melhor dizendo, o zero e o um, quando estamos recebendo da informática o funcionamento da lógica dentro de seus sistemas, e fazendo praticamente o espelho de nossas realidades dentro dessa mesma razão, ou lógica simplista, como se queira chamar. A carestia não sabe bem desse criativo modo de ver as coisas. Ela exaure as massas, boicota o próprio cansaço com mais esforço, faz revidar uma luta de cunho muito mais individual, pois as famílias que se multiplicam na linha da miséria e da pobreza muitas vezes não possuem referências concretas de como reivindicar suas questões: não possuem muitos mecanismos, muitas vezes seus trabalhadores são autônomos, não possuindo nem a garantia de se aposentarem. Dá-se a carestia para um indivíduo, mas toda a relação deste com o sistema depende de seus esforços, seu trabalho, quando se sustenta peremptoriamente que mesmo a vida honesta dentro da extrema injustiça social se dá por vencida, nos padrões desiguais da concentração de renda. Como não negar isto? Será que se fala na entrelinha algo diferente? Não. É isso, um retrato nítido de um país como o nosso. Essa condição há que estar de acordo com uma premissa que o bom senso humano estabelece: há que se melhorar, a piora desse quadro é insanamente proscrita, deve ser proscrita qualquer ação de governo ou não que tente segregar mais a nossa nação e espalhar esse conceito nefasto à sociedade brasileira.
           Ter mais condição de desenvolvimento humano é logicamente a razão que nos coloca frente a frente com desafios difíceis porém não impossíveis. Se porventura colocássemos o valor do caráter humano, seus fatores, seus bens pessoais enquanto vivência existencial, se super valorizássemos a arte como meio de compreensão com a lavra, com o fazer, com o construir, como um diálogo com a matéria animado pela vida anímica, espiritual, versando unir no coletivo e na expressão individual, será que não mudaríamos portanto uma sociedade onde a virtude e a honestidade viraram sucata? Estes refugos têm a chance que esperamos, e talvez o trabalho alternativo, a vida em uma única comunidade onde aceitemos as fronteiras que separam cada indivíduo do outro em modalidades competitivas onde a lei do mais forte prevalece e os mais fracos acabam por serem dispensados, ou enjeitados frente a conquistas inócuas onde o proceder segue prosseguindo falso e temerário, onde por vezes só vislumbramos a luta que dizem lutarmos, e as greves, e os protestos tornam-se uma aparente saída, sempre no viés político. Um artista ainda é uma grande antena para o mundo, e encapsularmos sua vida trazendo-o para o mundo digital, funcional, como profissão, tirá-lo do lápis, dos pincéis e transferir a vida da expressão para algo chamado de design, ou utilitarismo, é no mínimo desprezar a leitura que muitos poderiam fazer com um talento maior sobre os problemas, as felicidades, ou a consciência mesma da vida, das formas, da estética e do fruir maior e mais espiritual que a carestia cerca para uma questão onde não encontraremos todas as respostas, pois mesmo um governo mais voltado ao aspecto social por vezes carece de deixar espaço a essa tão importante falta que nos faz a arte: sua expressão, seus modos.
           Resta a nós sabermos que não basta sermos preocupados com o andamento social, se dentro de um desenvolvimentismo exacerbado não deixarmos espaço tão necessário à arte, à poesia e à literatura. Esse é um grande alimento quando pudermos nos situar em qualquer lugar, uma sociedade totalitária revela por vezes a perseguição implacável a quem tenta criticar ou expressar o que sente ou pensa de seu entorno, na expectativa de não necessariamente ter que recorrer à política. Por esse encontro com a arte devemos saber que qualquer cidadão do mundo deveria ceder espaço a ela, já que há pessoas que se tornam enfermas por não possuírem o escape natural de sua alma artística quando lhe tolhem a expressão, ou reprimem a arte e os artistas de modo a que sofram a segregação e o preconceito, que são da natureza mais brutal à existência cultural de qualquer nação.

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