Quem
somos neste mundo redondo e gigantesco, tão grande que tudo parece
um grande plano, onde a esfera gira a muitos perceberem o sol, em
suas lavouras, ou nas cidades, sem dar-se exatamente conta do que a
ciência tem revelado à humanidade desde o tempo mais remoto. Têm-se
a impressão do mesmo tempo em que, ao suceder uma informação de
trilhões de byte por segundo, há na estação das chuvas a espera
que esta realmente venha, espera de meses por vezes, para garantir a
colheita de alguma cultura. Por ventura que há a colheita quase
certa da soja e da cana de açúcar, mas em outras a mandioca passa a
ser rara. O tempo relativiza muito, quando de uma greve as
dificuldades por que passa uma categoria transfere a dificuldade para
muita gente, que depende do serviço, mas a greve é o único modo de
fazer com que algum direito pelo menos seja obtido, ou que se abra um
diálogo assim, na forçada. A greve, esta mesma que encontramos nas
ruas, as manifestações, são instrumentos ao menos para o diálogo,
se transforma em um tipo de valor. Está certo que as mídias sejam
alinhadas com os governos mais conservadores no neoliberalismo, e
portanto algo como uma manifestação seja contra um governo mais
voltado ao povo, a aquelas dão a cobertura plena, e o inverso não
acontece. Mas a greve, quando afeta diretamente o próprio povo, e
deste as classes mais favorecidas, são veiculadas pela mídia e
recebem a crítica, dentro de uma espécie de engrenagem onde há um
tipo de ação e suas negativas. Ou melhor dizendo, o zero e o um,
quando estamos recebendo da informática o funcionamento da lógica
dentro de seus sistemas, e fazendo praticamente o espelho de nossas
realidades dentro dessa mesma razão, ou lógica simplista, como se
queira chamar. A carestia não sabe bem desse criativo modo de ver as
coisas. Ela exaure as massas, boicota o próprio cansaço com mais
esforço, faz revidar uma luta de cunho muito mais individual, pois
as famílias que se multiplicam na linha da miséria e da pobreza
muitas vezes não possuem referências concretas de como reivindicar
suas questões: não possuem muitos mecanismos, muitas vezes seus
trabalhadores são autônomos, não possuindo nem a garantia de se
aposentarem. Dá-se a carestia para um indivíduo, mas toda a relação
deste com o sistema depende de seus esforços, seu trabalho, quando
se sustenta peremptoriamente que mesmo a vida honesta dentro da
extrema injustiça social se dá por vencida, nos padrões desiguais
da concentração de renda. Como não negar isto? Será que se fala
na entrelinha algo diferente? Não. É isso, um retrato nítido de um
país como o nosso. Essa condição há que estar de acordo com uma
premissa que o bom senso humano estabelece: há que se melhorar, a
piora desse quadro é insanamente proscrita, deve ser proscrita
qualquer ação de governo ou não que tente segregar mais a nossa
nação e espalhar esse conceito nefasto à sociedade brasileira.
Ter
mais condição de desenvolvimento humano é logicamente a razão que
nos coloca frente a frente com desafios difíceis porém não
impossíveis. Se porventura colocássemos o valor do caráter humano,
seus fatores, seus bens pessoais enquanto vivência existencial, se
super valorizássemos a arte como meio de compreensão com a lavra,
com o fazer, com o construir, como um diálogo com a matéria animado
pela vida anímica, espiritual, versando unir no coletivo e na
expressão individual, será que não mudaríamos portanto uma
sociedade onde a virtude e a honestidade viraram sucata? Estes
refugos têm a chance que esperamos, e talvez o trabalho alternativo,
a vida em uma única comunidade onde aceitemos as fronteiras que
separam cada indivíduo do outro em modalidades competitivas onde a
lei do mais forte prevalece e os mais fracos acabam por serem
dispensados, ou enjeitados frente a conquistas inócuas onde o
proceder segue prosseguindo falso e temerário, onde por vezes só
vislumbramos a luta que dizem lutarmos, e as greves, e os protestos
tornam-se uma aparente saída, sempre no viés político. Um
artista ainda é uma grande antena para o mundo, e encapsularmos sua
vida trazendo-o
para o mundo digital, funcional, como profissão, tirá-lo do lápis,
dos pincéis e transferir a vida da expressão para algo chamado de
design, ou utilitarismo, é no mínimo desprezar
a leitura que muitos poderiam fazer com um talento maior sobre os
problemas, as felicidades, ou a consciência mesma da vida, das
formas, da estética e do fruir maior e mais espiritual que a
carestia cerca para uma questão onde não encontraremos todas as
respostas, pois mesmo um governo mais voltado ao aspecto social por
vezes carece de deixar espaço a essa tão importante falta que nos
faz a arte: sua expressão, seus
modos.
Resta
a nós sabermos que não basta sermos preocupados com o andamento
social, se dentro de um desenvolvimentismo exacerbado não deixarmos
espaço tão necessário à arte, à poesia e à literatura. Esse é
um grande alimento quando pudermos nos situar em qualquer lugar, uma
sociedade totalitária revela por vezes a perseguição implacável a
quem tenta criticar ou expressar o que sente ou pensa de seu entorno,
na expectativa de não necessariamente ter que recorrer à política.
Por esse encontro com a
arte devemos saber que qualquer cidadão do mundo deveria ceder
espaço a ela, já que há pessoas que se tornam enfermas por não
possuírem o escape natural de sua alma artística quando lhe tolhem
a expressão, ou reprimem a arte e os artistas de modo a que sofram a
segregação e o preconceito, que são da natureza mais brutal à
existência cultural de qualquer nação.
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