terça-feira, 15 de maio de 2018

A QUEDA

            Que bom seria se um enfermo mental lúcido ou propriamente tentado a ser, nessa tentação imperdoável para um ser “especial” caísse nas ruas como vítima de si próprio a se afirmar que fora a simples equação do surto... Nada é mais confortável para o establishment ver que um homem que busca a consonância com a verdade, quando enfrenta as feras vazias e inexistentes do exterior o reflexo do que seria, quiçá a outra parte do que não se sabe, ou se argui nas aparências algo desferidas pela indução, pela mídia, pela espetacularização de um inocente frente aos ataques incontinentes de uma sociedade devastada por si mesma. Não, não seria bom ver um enfermo mental feliz enquanto com capacidade crítica acima dos outros mortais, qual não seja capaz apenas de desferir flechas certeiras com as palavras, exatamente no coração da tirania! Que Camus nos perdoe, mas esta é a história não da queda de um qualquer, mas da queda da humanidade como um todo.
            A princípio, tantos são os amores da vida, que não sabemos ao certo a quem amar verdadeiramente, e se Gogh fosse vivo e afamado como quando depois de sua morte, talvez houvera uma petúnia linda e aberta para ele. Mas não. Seu caminho foi o da Queda. Foi o caminho longo, dos santos, dos inocentes, dos mártires. Não tenhamos agora que tecer proximidades com algo que acontece agora, pois é fato que nada está realmente acontecendo no mundo, a não ser o impacto global e a destruição do Ser, porquanto não apenas o humano, como seus consortes outros. Essa atávica perseguição não diz respeito à enfermidade psíquica, mesmo sabendo que nosso estigma põe a mesa dela para que sejamos caídos por antemão, apenas pelo fato de não termos o direito de existir sem o preconceito que consome nossos poros. Não se cite a relação entre o macho e a fêmea, pois esta está escrutinada em cadernos mais recentes, o voto sacrificado e duro de se redimir é a tentativa irredutível de fazer com que a nossa população – os enfermos dessa natureza – seja negada a possibilidade de termos olhos que vejam, bocas que falem, mãos para a nobreza dos gestos e ouvidos para a necessária compreensão.
            Esperem, que mais algumas palavras e ei-la: a loucura! Tão presente e tão ausente, meus camaradas da terra do nunca... Quem é de qualquer partido de esquerda sabe que nunca foi tão fácil nulificar qualquer liderança que venha dessa fonte, pois seu trabalho “assistencialista” só permite a participação dos funcionários da “saúde”, em progressos de mesmice, em atalhos do descrédito. Sabendo-nos vulneráveis nos chamam ao partícipe gesto, para depois fincar ciclópicos gostos ao entendimento de uma psicotrônica que não faz qualquer sentido, pois nunca resulta algo desse micro panorama analítico. Resta saber que os ganhos de tais feitos passam pela desconstrução de possíveis lideranças, a saber, contextualizar medicamentos como algo que não seja próprio, apenas uma ideia consignada de um psiquiatra, que encontra no rebatimento dessas pseudo instituições um tipo de parceria congênita, por vezes. Na verdade, a ciência da psiquiatria é para quem entende, e um profissional gabaritado obviamente possui em seus caminhos na ciência mais resultados humanos do que a fantasia de se preocupar com os movimentos sociais de fachada, onde o orçamento alimenta de ócio a burocracia. Creditar uma palavra que seja a respeito de um tipo de revolução é o mesmo que encontrar nas costas de um enfermo dessa ordem a cruz que ele não é obrigado a carregar.
            Por essas questões – repito – a queda não significa muito quando vem de um a preocupação do outro, por ventura seja esse outro estranho ao que se passa com aquele que sofre e sempre sofreu da psique e seus tormentos, justo por não ser aceito em qualquer tipo de organização, principalmente as de cunho ideológico, partidário, social, etc, pois o que pega no couro de nossa infelicidade é a velha pergunta de sempre: você está bem? Como se a própria humanidade não pudesse dizer o mesmo de si própria, quando se preocupa apenas em pegar o poder e permanecer com seus interesses intactos, cooperativados com antigas e oxidadas concessões, no moto contínuo de uma história em que só os loucos levam a verdadeira culpa: sistêmica e inexorável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário