sábado, 3 de junho de 2017

UM SER DO ESCÁRNIO E DA FAMA

          Trata-se de um mesmo doar-se que não se doa muito, um dizer algo para se dizer, como quem não fosse um objeto memorável na dissensão de uma sociedade… Da fama, a se dizer, com uma alta escada rolante onde belas e corrompidas panças sobem sem dificuldades, e ao lado um elevador carregado de pedras girantes por uma manivela tracionada por braços cansados que não se leva a nenhum lugar, mas que este seria o mesmo das rolantes, quais não fossem algumas posições no tabuleiro do escárnio dos games inquietos… Não se vai a lugar nenhum e outros braços expatriados cansam de envelhecer seus tônus gastos pela patibular enfermidade coletiva. De travas, do escarnecer um irmão, de vender-se a um centavo de ilusão, de achar melhor um super herói do que a imagem mesma tecida pelas plenas indústrias da aculturação dos idiotas. De um prescrever de filmes caros gastos sem mensagem, a não ser um festival de flores de plástico enfeitiçadas pela nova ordem. Mas que a ordem já não é a mesma, e um movimento crítico de um peão estica outra fornada de pães substanciais, por horas. Nas horas do sem tempo, em que pese a fantasia plena, o imaginar-se meio insano, a terapia surreal.
          Na fantasia plena da fama, o afamado cria seu pequeno mundo algo partícipe, com seus tempos de fazer sabe-se lá o que, que seja, pois sim, que lhe é dado pelo seu sistema individual de vida, alicerçado em seu coletivo que ignora, mas que é. Assim, digamos, nos são dadas as forças, a energia que se recobra, uma arma virtual de um aplicativo de entretenimento, uma caça a si mesmo e a seu ego, o padrão que se renova como um lixo reciclável, a noção dita elementar do que seja a esquerda, do que seja a direita, no mesmo non sense de não sermos capazes de discernir uma questão booleana com mais entendimentos funcionais, de não sermos técnicos, de sermos “gestores”, de vermos, por fim, finalizarem com os líderes que efetivamente deveriam ter usado melhor essa investidura popular. Escárnio, fama, dois irmãos siameses: grudados pela mesma substância, vivendo simbioticamente, antes da cirurgia que os deixa sem os braços, direito e esquerdo, anencéfalos, no entanto pensantes. Qual monstro que emergiria, a fama e o escárnio residem no mesmo planalto nada diamantino, em que um arquiteto magistral pousou suas estruturas na mãos de um famoso presidente. Mas que não poderia ser totalmente, os que passaram veem em pífias tentativas um quase eterno retorno, nas mãos de um super-homem que ao filósofo poria inveja. Das lojas não se sabe quais estão ativas, quem mete a colher aonde, se empresas faraônicas sabem melhor do que os serviços de inteligência externos aonde está a próxima bola negra. Mais uma partida na caçapa. E ainda brinca-se de amar, quanto mais, se um ama realmente, já não pode mais…
          No entanto, caros administradores do caos “gerenciável”, estaremos fadados ao fracasso que inelutavelmente já está nos anais em andamento dessa incrível e recriada República do farnel vazio. Ao menos por enquanto. Virá talvez o caos do fracasso? Possivelmente, pois nossa imensa população não sabe ou não pode – em virtude de seu cansaço – ler um parágrafo de um jornal de segunda, mas compreende o nada apaziguador bate boca das novelas. Dos escárnios e das intrigas são fartos, usam bandeirinhas mas não conhecem a história de sua pátria, usam a pátria mas não conhecem a história igualmente das outras bandeiras, tecem o desrespeito quanto lutam contra o racismo, erguem muralhas de preconceitos quando se dizem humanos e – quiçá – religiosos.
          Para escapar de fama, para aconselhar um escarnecedor, saibamos que o escárnio ainda vence, pois simplesmente é a ferramenta para desmontar as famas e, como talvez, ou seria melhor se tivesse dito Cortázar, os Cronópios são mais raros…

Nenhum comentário:

Postar um comentário