Uma
possibilidade de conhecermos um caráter mais autêntico, por incrível que
pareça, reside na humildade de um religioso, um asceta. Desde que seja uma
possibilidade, este coloca em uma divindade o crédito pelas existências
maravilhosas... Por vezes, construímos nosso eu com predominância de
acreditarmos estarmos com consciência majorada, situando-nos como em uma
posição de um tabuleiro, consentindo ao jogo. A razão não abraçaria tanto
quanto de nos observarmos melhor, sabendo-nos signatários de nossas vestes,
enquanto corpo material. O reflexo do que pensamos vem no pórtico imenso que a
mente gera, em que em muitas razões outras vestimos a imagem ou as imagens que
muitos nos colocam, sendo o corpo material – mente incluída – em última
análise, o mesmo self que devemos desconstruir paulatinamente para que sejamos
ao menos autênticos, sem deixar de abraçar pensamento crítico e filosófico,
obviamente. A ciência espiritual é muito mais do que sequer imaginamos. Há um
grande livro da Índia religiosa chamado Bhagavatam, que retrata um conhecimento
milenar da civilização oriental, e para quem segue a religião o processo de re-ligare se dá com naturalidade, em uma
tomada de consciência sobre a vivência de um mundo transcendental, que dê
resguardo para uma perspectiva que vai além do fracasso dos homens sobre este
planeta. Sempre podemos explicar o porquê ou as causas do fracasso humano, mas havemos
muito a questionar sobre coisas que são básicas para que nos aprofundemos em
certas questões, mesmo que estas digam respeito à Natureza Material. Um misto
de matéria e espírito nos une, e a questão é sabermos que essencialmente temos
diversos corpos que vão mudando conforme nossa existência, desde bebês,
adultos, até a nossa velhice. No entanto, o espírito é sempre o mesmo, e a
nossa identidade mais verdadeira é a espiritual, o que nos anima e dá vida ao
nosso corpo. Essa identidade florescerá cada vez mais quando usarmos da
inteligência no comando da nossa mente, e esta no comando de nossos sentidos –
estes quais cavalos inquietos – para trilharmos a vereda que nos coloque em
contato com a realidade mais plena. Sermos inteligentes é termos esse nível de
consciência: que somos atma –
espírito – e não matéria. Obviamente cada qual possui seu próprio processo
existencial, e não é fácil desenredar a ilusão que abarca praticamente toda a
nossa realidade perceptível, e os sentidos nos arrastam para questões materiais
de importância capital, como a carestia, as profissões que nos envolvem
diuturnamente, e a recorrente falta de tempo no mundo contemporâneo para que
possamos parar e pensar um pouco a respeito. No mais das vezes, queremos
esquecer a semana de duro trabalho saindo e nos divertindo para compensar
nossos sacrifícios de jornadas tão exaustivas e pressões diárias a que são
submetidas as populações do planeta. A meta é situarmo-nos na plataforma
material de desapego e austeridades que nos ajudarão a singrar o oceano da
Natureza Material com mais serenidade e competência, fazendo de nossa missão o
cotidiano de nosso caminho nos valores da espiritualidade.
Quando
nos envolvemos nas questões de transformação da matéria, sendo engenheiros,
cientistas, ou mesmo trabalhadores em diversas outras ocupações, temos a
impressão de que somos os controladores, mas na verdade não há sequer uma
máquina que não tenha um controlador que ao menos aperte o botão para que
funcione. Esse controlador pode ser efetivamente um ser humano, mas quem
controla esse ser é algo superior, uma força superior. Efetivamente, por vezes
estamos à mercê de um gerente ou diretor ou chefe que nos diz o que fazer, como
trabalhar, como nos portar, a educação como um todo, mas não é a realidade de
que alguém ou o nosso “superior” tenha controle sobre nós, pois isso é ilusão, já
que em um dia um grande empresário, por exemplo, pode estar comandando milhares
de pessoas, e no outro pode estar na miséria. Como na vida política o poder é
extremamente relativo, e as leis criadas pelos homens acabam virando falácia no
jogo de interesses que ocorre com a frequência do mesmo rotor que devemos
relativizar, pois que realmente manda é a consciência de cada qual: sempre a
primeira, de Deus, e a segunda, da Natureza Material, e por fim como
decorrência – quando justa – a consciência que emana das leis da sociedade.
Sermos
seres pensantes, críticos, sempre nos ajudam a questionar a natureza do
Universo, das coisas manifestas, do que se manifestará, e do nada em si. Afora
isso, outras inúmeras questões que participam cada qual de uma face do mundo em
que vivemos, as questões ilusórias das fronteiras, as culturas diversas, e a
razão suprema de não podermos exigir que cada qual pense conforme um padrão,
pois a diversidade manda a que cada qual possua o seu próprio nicho
existencial, mas há um pensamento coletivizado e comum a todos que se refere aos
direitos humanos essenciais, que são simplesmente o desejo que a humanidade
esteja melhor situada e, portanto, em uma relação mais próxima e coerente com a
justiça social. Se crermos com uma fé agigantada e de luz que todos tem direito
às suas crenças, à liberdade de gênero, à uma real manifestação da liberdade da
imprensa – e não esta controlada por grandes monopólios –, a uma política
realmente democrática, e não centralizadora e corrupta, e etc, estas são as
veias por que passa um fluxo de uma sociedade em que os homens podem discutir
seus casos. No entanto, para que se compreenda a Natureza Material, há que se
levar em conta a mesma preservação de seus mananciais, dos questionamentos a
respeito de energias limpas, de uma posição consolidada nos países sobre o
cessar da poluição, sobre a contestação a respeito da matança das vacas, porcos
e aves, sobre a despoluição progressiva e tantas questões recorrentes que, se
não forem levadas a termo, assistiremos apenas a consolidação de uma Era de
Ferro já descrita nos Shastras se
revelando ano a ano. A humanidade ainda possui tempo para ter esperança... Pois,
que a tenhamos justamente na construção de uma consciência que nos revele o
nosso estado espiritual adormecido pelas garras da energia ilusória de Maya, e
que sejamos fortes o suficientes para manter em atividade nossos atos no
caminho da bondade e da não violência, pois cada vaso com terra é suficiente
para compreendermos o milagre da vida...
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