sábado, 17 de junho de 2017

MADE SELF OUT

            Uma possibilidade de conhecermos um caráter mais autêntico, por incrível que pareça, reside na humildade de um religioso, um asceta. Desde que seja uma possibilidade, este coloca em uma divindade o crédito pelas existências maravilhosas... Por vezes, construímos nosso eu com predominância de acreditarmos estarmos com consciência majorada, situando-nos como em uma posição de um tabuleiro, consentindo ao jogo. A razão não abraçaria tanto quanto de nos observarmos melhor, sabendo-nos signatários de nossas vestes, enquanto corpo material. O reflexo do que pensamos vem no pórtico imenso que a mente gera, em que em muitas razões outras vestimos a imagem ou as imagens que muitos nos colocam, sendo o corpo material – mente incluída – em última análise, o mesmo self que devemos desconstruir paulatinamente para que sejamos ao menos autênticos, sem deixar de abraçar pensamento crítico e filosófico, obviamente. A ciência espiritual é muito mais do que sequer imaginamos. Há um grande livro da Índia religiosa chamado Bhagavatam, que retrata um conhecimento milenar da civilização oriental, e para quem segue a religião o processo de re-ligare se dá com naturalidade, em uma tomada de consciência sobre a vivência de um mundo transcendental, que dê resguardo para uma perspectiva que vai além do fracasso dos homens sobre este planeta. Sempre podemos explicar o porquê ou as causas do fracasso humano, mas havemos muito a questionar sobre coisas que são básicas para que nos aprofundemos em certas questões, mesmo que estas digam respeito à Natureza Material. Um misto de matéria e espírito nos une, e a questão é sabermos que essencialmente temos diversos corpos que vão mudando conforme nossa existência, desde bebês, adultos, até a nossa velhice. No entanto, o espírito é sempre o mesmo, e a nossa identidade mais verdadeira é a espiritual, o que nos anima e dá vida ao nosso corpo. Essa identidade florescerá cada vez mais quando usarmos da inteligência no comando da nossa mente, e esta no comando de nossos sentidos – estes quais cavalos inquietos – para trilharmos a vereda que nos coloque em contato com a realidade mais plena. Sermos inteligentes é termos esse nível de consciência: que somos atma – espírito – e não matéria. Obviamente cada qual possui seu próprio processo existencial, e não é fácil desenredar a ilusão que abarca praticamente toda a nossa realidade perceptível, e os sentidos nos arrastam para questões materiais de importância capital, como a carestia, as profissões que nos envolvem diuturnamente, e a recorrente falta de tempo no mundo contemporâneo para que possamos parar e pensar um pouco a respeito. No mais das vezes, queremos esquecer a semana de duro trabalho saindo e nos divertindo para compensar nossos sacrifícios de jornadas tão exaustivas e pressões diárias a que são submetidas as populações do planeta. A meta é situarmo-nos na plataforma material de desapego e austeridades que nos ajudarão a singrar o oceano da Natureza Material com mais serenidade e competência, fazendo de nossa missão o cotidiano de nosso caminho nos valores da espiritualidade.
            Quando nos envolvemos nas questões de transformação da matéria, sendo engenheiros, cientistas, ou mesmo trabalhadores em diversas outras ocupações, temos a impressão de que somos os controladores, mas na verdade não há sequer uma máquina que não tenha um controlador que ao menos aperte o botão para que funcione. Esse controlador pode ser efetivamente um ser humano, mas quem controla esse ser é algo superior, uma força superior. Efetivamente, por vezes estamos à mercê de um gerente ou diretor ou chefe que nos diz o que fazer, como trabalhar, como nos portar, a educação como um todo, mas não é a realidade de que alguém ou o nosso “superior” tenha controle sobre nós, pois isso é ilusão, já que em um dia um grande empresário, por exemplo, pode estar comandando milhares de pessoas, e no outro pode estar na miséria. Como na vida política o poder é extremamente relativo, e as leis criadas pelos homens acabam virando falácia no jogo de interesses que ocorre com a frequência do mesmo rotor que devemos relativizar, pois que realmente manda é a consciência de cada qual: sempre a primeira, de Deus, e a segunda, da Natureza Material, e por fim como decorrência – quando justa – a consciência que emana das leis da sociedade.
            Sermos seres pensantes, críticos, sempre nos ajudam a questionar a natureza do Universo, das coisas manifestas, do que se manifestará, e do nada em si. Afora isso, outras inúmeras questões que participam cada qual de uma face do mundo em que vivemos, as questões ilusórias das fronteiras, as culturas diversas, e a razão suprema de não podermos exigir que cada qual pense conforme um padrão, pois a diversidade manda a que cada qual possua o seu próprio nicho existencial, mas há um pensamento coletivizado e comum a todos que se refere aos direitos humanos essenciais, que são simplesmente o desejo que a humanidade esteja melhor situada e, portanto, em uma relação mais próxima e coerente com a justiça social. Se crermos com uma fé agigantada e de luz que todos tem direito às suas crenças, à liberdade de gênero, à uma real manifestação da liberdade da imprensa – e não esta controlada por grandes monopólios –, a uma política realmente democrática, e não centralizadora e corrupta, e etc, estas são as veias por que passa um fluxo de uma sociedade em que os homens podem discutir seus casos. No entanto, para que se compreenda a Natureza Material, há que se levar em conta a mesma preservação de seus mananciais, dos questionamentos a respeito de energias limpas, de uma posição consolidada nos países sobre o cessar da poluição, sobre a contestação a respeito da matança das vacas, porcos e aves, sobre a despoluição progressiva e tantas questões recorrentes que, se não forem levadas a termo, assistiremos apenas a consolidação de uma Era de Ferro já descrita nos Shastras se revelando ano a ano. A humanidade ainda possui tempo para ter esperança... Pois, que a tenhamos justamente na construção de uma consciência que nos revele o nosso estado espiritual adormecido pelas garras da energia ilusória de Maya, e que sejamos fortes o suficientes para manter em atividade nossos atos no caminho da bondade e da não violência, pois cada vaso com terra é suficiente para compreendermos o milagre da vida...  

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