Começar
uma história parece representar um teatro com palavras, um episódio que poderia
ser infinito, como é a semântica da criação ao nos aproximarmos, através da
arte, da vertente e manufatura dos conhecimentos humanos, sem esquecer que não
estamos sozinhos na empreitada... A cada ofício esquecido, possuímos a memória
ancestral – quando de raízes – ou mesmo as técnicas que muitos creem obsoletas
e que originaram outras: contemporâneas e do que ainda há por vir. Se muitos
preferem viver em meio à sombra de fontes que acreditam prosaicas, ignoram que
é dessa força de relermos os nossos erros e acertos diante da História que virá
o processo de mudanças realmente urgentes nas humanidades, e não através da
técnica pela técnica, vertical, aplicada quando muito em poucos arremedos
criativos, mas que seja, sejamos um século de luzes, ou ao menos tentemos.
Obviamente o Brasil é o grande país do planeta, com suas riquezas inesgotáveis,
ao menos por enquanto. Mas a frase quebra, perde-se, encontra outro
significado, um embate, em que as classes da burguesia ainda se encontram com
mais conforto, mas com igual sensibilidade de caráter, no que este infelizmente
nunca é sempre bom, vai da escolha pessoal, e muitos há que se metem em apuros.
Os papéis não se trocaram, são os mesmos retratos quiçá, mas não se entendem
muitos, em todas as frentes, e tornar a luta algo muito desigual é manter a
renitente separação entre os servidores e o serviço. Não devemos jogar a vida
entre naipes que se escondem em mãos que nem conhecemos, pois no blefe não está
o montante, o valor. Este se encontra em superfícies e nas profundezas de
nossos solos, e não adianta invertermos os papéis e ficarmos admirando nossos
retratos como um selfie produzido a
cada dia, como um ego construído e mal costurado com os anteriores a cada hora,
a cada minuto, em que a validade dos nossos afetos se alicerça cada vez mais no
serviço, e tornamo-nos servidores encaixados cada qual em sua geração e
memória, desconstruindo a relação que deveria ser inequívoca com as outras.
A
vida pede passagem, e portanto gostaríamos de vê-la desfilar incólume dentro de
nossas existências para que se veja o que fomos e o que somos. Aí sim, com
essas duas prerrogativas seremos algo, sem semear muito, com carinho, pois a
terra necessita desse afeto desgastado. A busca insana a degrada, e nós com
ela. Falta espaço em uma imagem digital, e nossas mãos digitando tornam-se
garrinhas quando não ouvimos nossos dedos, ou ao menos queiramos que nosso
esforço valha a pena, esta, que imputamos a nós mesmos e ao consorte máximo até
mesmo de nossas crianças: o gadget, o display, a conformidade dos impulsos,
estímulos, respostas, feedback, insight, ou seja lá o que descobrem na mesma
plataforma que varia em intensidade a cada ano, a cada mês ou dia. Quisera
falarmos de papéis genuínos, de obras primas do cinema, ou melhor, a que a
população em geral tivesse amplo acesso à arte. Quem dera, mas nos fechamos em
copas e deixamos rolar a gravidade insana dos tijolos culturais que nos causam
apenas acréscimos de uma indústria rota. Esse mesmo perfil que deixamos ao
relento de nossos propósitos, fazendo com que a cultura de escol seja aquela em
que deixamos aos grandes estúdios a produção internacional, em que a nossa
literatura, artes, cinema, intelectualidade tornem-se ostracismo... E a fama,
uma mesmice sem caráter de produção autêntica, esta em que pudesse verter a realidade
de nossos países e nossos berços, em que o povo possa participar dos meios
dessa produção, em que se democratizem esses meios, em que os papéis não fossem
trocados, pois a maioria da população urge por se expressar, jamais deve ficar
apenas no trabalho, ou a serviço de uma hierarquia patronal, ausente de sua
participação nos anseios da comunidade a que pertença. Essa função já seria
algo mais próximo, quando da participação ativa, mas que esta seja debatida em
sociedade e, em termos de cidades, que se crie o fomento a que cresça essa
participação em todos os planos: urbanismo, segurança, arte, trabalho, lazer,
saneamento, entre inúmeros pontos necessários à mesma participação popular
autêntica.
Fazermos
deste país um lugar melhor é termos uma educação de qualidade, democrática,
participativa, crítica, com arte, com literatura, história, matemática, etc,
sem nunca nos esquecermos que um país parte de sua mesma e pontuada história, e
é essa mesma história que mostra aos alunos a vontade de mudar as coisas, de
revolucionar a vida, pois não é apenas a tecnologia a mãe desses processos de
civilização, mas justamente as lutas necessárias e inevitáveis quanto de
mudança a se propor forem, nos esteios e estruturas já arcaicas e regressivas
que teimam em trazer mais e mais atrasos para o solo pátrio. Essas questões
devem ser discutidas e viralizadas,
para citar um neologismo referente na participação ainda que incipiente dos
meios digitais, para criarmos uma massa crítica e vencermos o padrão de sermos
manobrados por outros, estranhos a todo esse processo.
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