quarta-feira, 14 de junho de 2017

O ESFORÇO DO PAPEL

O papel tange o nada, pois é tangido a ser o que nunca fora
De tantos e tantos quilates que a humanidade o devora fera
No modo mais ancião do que nunca ela mesma imaginou...

O papel fera fora, o que veio, veio na surdina do jamais sabermos
Se o que está fosse papel, mas simples alimento de um chip no pistão.

Os poetas ensaiam a publicação, os homens não a publicam nos jornais
E os que são impressos saem a se dizer escribas dos velhos processos,
Enquanto o que mais não está não se compreende na cavalar situação.

A forma é veio, é substância, de um carinho ausente de mulher na vitória
E de um torpor incandescido de outras nas derrotas de não se ver viva alma!

Negro é o poeta, um poeta branco de medo de não ser o que deveria
Quanto que à revelia muitos não se mostram mais na grande e turva salada
Em que nos metemos ao grande banquete ainda morno das decepções...

O papel se esforça, pois que nele não seja o vernáculo de toda a gente
Posto não nos entreguemos a sermos meros papeis de bancos de dados
Que não são lançados, pois estão fixos nas algibeiras dos falsos profetas.

Do branco do papel que não nos ressintamos, pois ainda há um lume pleno
De tantas as vozes que se escutam nos caminhos de uma normalidade aceite
Em que não confundam vozes com o esquizofrênico sintoma do mundo atual.

Das veias que nos dizem, posto artistas, seremos melhores antenas de todas
Àquelas todas que tentam por fazer da arte matéria enferma, ou quaisquer cios
Que agora demandam primaveras tardias no coração de muitos que não se amam...

Sentimos a dor no peito de vermos agora um país que nega os seus poetas,
Que deixam o vermífugo silencioso adular a própria e molusca mídia alta e baixa
Nos que nos estudamos em baixo e por cima nos jogam chumbo de cultura inútil
Quando quanto o melhor a fazermos é prosseguir lutando contra a hostil cidade
Que ponteia seus míseros canais de pontos às avessas na grande barca ilusória!

A grande luta é a dos massacrados por tentar sobreviver se expressando
Nas vertentes algo famélicas e desesperadas por ao menos conseguir 11 mãos
De signos curtidos na salada grega do que nos tornamos sendo escravos dos dígitos.

Saber que não será neste século que ganharemos o pão por merecimento de afago
Nos arredios melindres da falsa fama, no que saibamos torcer para que o mundo
Não esteja caindo mais do que já caiu, pois se salvam apenas os devotos mais caídos...

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