Quantos de nós nos perguntamos sobre
o tempo? Que fator é esse, quando apenas o medimos e acompanhamos sem sequer
sabermos se é uma entidade criada, se é convenção ou fato? O nome foi nossa
criação, certamente, mas que esse conceito que dele temos é eterno, isso é uma
condição inequívoca. O poeta Vinícius falava: que seja infinito enquanto dure.
Mas falava do amor... E o tempo com amor, com amantes, seja lá como empregamos
essa mesma duração, mas parece que a relação do amor com o tempo é um diálogo
em que por vezes nos tornamos apenas atores em cenários que desfazem, em entornos
sutis, em uma cenografia confusa, que pode nos deixar mais ansiosos. Visto a
trilogia: o tempo, o amor, a propriedade. Se formos muito societários nas
nossas relações amorosas acabamos por não nos doarmos por receio de não obter o
retorno, e nos acostumamos com as respostas imediatas, dentro de um
funcionamento mecânico que acaba por durar por vezes muito, em um
arrependimento que acaba faltante no diálogo que não tivemos a coragem de
possuir com o cônjuge, ou a relação qualquer em que nos dispomos, que tantas
são as relações “relativas” nas gôndolas de nossas escolhas.
Uma vida com reservas é
necessária... Reservar nosso tempo. Contemporizarmos a ilusão quando espelhada
com a realidade que com ela se encontra. Tentarmos dissuadi-la no aspecto em
que a ficção não nos mescle com a concretude de uma forte pilastra onde
amarramos nossas existências, como quando em um barco temos que parar um pouco
no cais e sentir a terra firme sob nossos pés. Temos que compreender o certo do
errado, saber que por vezes não estamos apenas em um novo mundo, pois por vezes
podemos contestar aqueles dogmas que os insights aparentemente incontestáveis
possuem rebatimento espiritual necessário, anímico, existencial. Por exemplo,
uma sociedade baseada em imagens, perfis, ícones, palavras curtas, funções de
programação em nossas vidas, acabam por ajudar a diluir a história que deixamos
para trás, por não termos mais um espaço, uma reserva, dentro de nossas mentes
que trabalhe melhor a questão do passado, de nossas civilizações, de modais que
não eram os mesmos antes da realidade virtual, e que podem ser vivenciados se
dermos mais valor àqueles que viveram outras gerações, mais antigas. As coisas
não funcionam sempre do jeito que imaginamos, pois a própria imaginação é um
artifício assoberbado, em que o existencialismo passa a pedir um pouco a
passagem para que nos manifestemos enquanto seres partícipes da Natureza.
Talvez não seja suficiente sabermos
apenas o superficial dos sistemas que vivenciamos, ou que são as ferramentas de
suporte para que possamos ser os cidadãos vinculados à eletrônica tão
fortemente, pois o conhecimento desses sistemas de forma cabal e aprofundada
cria os gêneros humanos controladores, e serviços extremamente específicos que
criam riquezas muito mais facilmente do que o trabalho convencional, de
serviços essenciais e rotineiros ao funcionamento da sociedade, como as tarefas
de manufaturar e vender o pão. Esse modo de só encontrar a vida do consumo na
interligação de processos de informação nos faz serem consumistas sem
experimentarmos as ruas como vivência cotidiana, segregando a cidadania e
mecanizando-a ao extremo. Saber desmembrar certas vivências, ou melhor, certas
engrenagens, acaba por manufaturarmos nosso conhecimento a partir de raízes
que, mesmo que pesquisemos, tornam-se raras enquanto não soubermos os pontos de
partida, o imput da questão.
Entrarmos no Google será menos rápido do que termos uma biblioteca onde podemos
folhear por vezes a esmo certos livros que lembrará ao revés a importância
daquela de Alexandria, posto haver sapiens que creem que estão lendo enquanto
abraçados apenas ao conteúdo digital.
No viés deste nosso sistema que já é
internacional, e que no entanto na pátria latino-americana ainda não é
plenamente funcional – e nunca será, por aqui – vemos lugares onde querem
certos governantes instalar no que chamam de paraísos a disposição de seus
pretensos projetos. Se a máquina vale tanto assim, se os sistemas integrados de
computação são tão valorados, porque não nos utilizarmos deles para começar a
sanear o esgotamento sanitário, a fiscalizar realidades como orçamentos e
obras, ou mesmo humanizar o planeta? Nada disso, nos parece, a rede social é
intensa, sem as reservas de questionarmos se caminhamos ou não, as
universidades recebem poucos livros, a medicina vira privilégio de poucos, as
guerras recrudescem cada vez mais. Dentro do novo funcionamento, muito mais
efetivo e preciso, e as prisões superlotam, a violência torna-se usual,
corriqueira.
Em uma realidade meio ausente,
podemos afirmar que a burguesia mais esclarecida nos termos técnicos açambarca
esse poder para mostrar a sua competência dentro do sistema que exclui aqueles
que não se prepararam. Qualquer adolescente – aliás, geralmente com mais
proficiência do que um adulto – sabe utilizar e fazer funcionar com mais giro
as redes sociais, entende melhor dos aplicativos e games, é da geração da
ponta, nasceu nesse idílio tecnológico. No entanto, é nas melhores escolas que
reside o conhecimento que mais tarde segrega aqueles que não o possuem por não
terem tido a oportunidade de navegar sobre o mesmo sistema enquanto acadêmicos
de ponta. A separação se faz e as elites continuam com essa extremada vantagem,
no viés tecnológico, que vai desde a USP até o Congresso ou o Supremo Tribunal.
As Arcadas de São Francisco formam os melhores advogados. Se formos observar o
índice de negros que se formam nessa universidade veremos melhor o que é a
compatibilidade entre oportunidade e “berço”. Temos que reservar espaço dentro
de nós mesmos para poder contestar aquilo que é fato. A desigualdade, a
ignorância, a segurança, o saneamento, todas as questões que levam a
compreendermos realmente que um país de todos seria um país sem pobreza, mas
efetivamente as casas que foram construídas acabaram por ruir por falta de
competência, no mal uso público-privado, em não se questionar o sistema
financeiro beneficiado pelo protecionismo ou a relevância de se questionar as
concessões de uma mídia que coloca como vítima a criança brasileira, tal a
exposição de sexo e violência. Uma simples questão, que qualquer governante,
seja de “esquerda” ou “direita” deveria perceber o dolo a que todos somos
submetidos por esses gigantes oligopólios de dimensão estreita e parcial. Na
reserva necessária de um questionamento mais amplo devemos torcer para tudo
aquilo que a Globo não deseja... Então, que fique, Temer!!
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