sexta-feira, 8 de abril de 2016

PANORAMAS E CONFLITOS

Lucidez extremada, se me compete abraçar-te
De um caldo de ternura no amplexo de vivermos
Talho-me à ressonância da poesia
Como de tanto de sobreviver comemora-se a vida...

Paz que nos resta, não me falo de ausências
Posto que em minha vida não guardarei ressentimentos
Nem dos algozes que abusaram de minhas fraquezas
Quando me pus fraco no ocaso de minha fortaleza.

Verta-me, poesia, pois que a musa são tantas,
Inclusive as que não possuem a vertente concreta do se dizer
Quando apenas tentam ao se dizer algo
Do que se tentar a mim estar amando igualmente a Verdade!

Amamos a Verdade, e do amor se tece a serena virtude
Da cor púrpura à semente de uma outra cor, que seja,
Que amamos a todos os instrumentos que somos a soprar na arte
O recurso indefinível dos significados.

Me sobra a arte, solidão compartilhada dos signos,
Vertente em que me sobra na outra literatura
Que fará despertar no cunho dos povos
A uma grande escola em que ensinamos o que aprendemos.

Teço agora uma poesia mais simples,
Como é simples a atitude, o verso, a palavra,
Como tecida na superfície cristalina de uma mulher,
Como nos tendões duros que um homem tem por seu material.

Sei quem sou, sei onde estou, apenas não sei dos meus nomes
Que, da realeza opaca de um vídeo, da manchete oculta de uma revista
Traço paralelos em que minha loucura é de vantagem
Pois que me é duro de cair na engrenagem louca da ilusão!

Vivo em uma felicidade tremenda onde tremo ao olhar consonante
Quando falamos de um poeta que não esquece sua condição...
Da flor há que se abrir as pétalas em seu próprio gineceu
Para que os homens possam falar da dignidade de seu amor.

Esta palavra, consubstanciada na vereda de uma corredeira
Onde aranhas tecem solitárias as suas teias
Enquanto os peixes comemoram a sua vitalidade
Correndo por sobre a corrente, de sua força ígnea!

Prata, ouro, turmalina, quais serão as superfícies do nosso povo
Se há um minuto deste computador saí para presentear
Obreiros que recolhem o lixo em minha rua
Enquanto eu consinto em embalar todos os ressentimentos.

Estes que vêm quando vejo o desfalecer da própria loucura
De saber a alguns que caem em sua fraqueza nos extremos
De uma parte a outra, condição patológica exposta e crua
A ver que não expõe o antagonismo inerente à Natureza.

Posto não existir a força em seu diálogo,
Não existir sombra sem a luz,
Classe de objetos sem conflitos
E dos homens temos a prosseguir em nossos progressos.

Não me é dada essa cunha, mas que do amor se nos absorve,
Não tolero certas coisas que se passam no planeta,
Como o óleo nos peixes e nas gaivotas
Ou as bombas de fósforo na terra Palestina.

Talvez o poeta esteja perdido, pois ama demais
E a crucificação está em seu peito há várias décadas,
Já não sabe do toque, mas que o toquem em seu intelecto
Que para isso estará de se fazer sempre a sua presença...

Poesia longa, de longo o se esperar, quiçá um beijo o faça esquecer
De si mesmo a um caudal rumoroso da própria carne
Posto que do espírito já se faz presente algo de sua pretensão
E no pampa deseja apenas de um ótimo cavalo.

Talvez morrer de amores, mas não, que me quero velho,
De um velho de longas barbas, pois a barba já não faz sentido
Em que estivermos realmente velhos na longa parcela do existir,
Na corrente imanente da oralidade e do conhecimento.

Se uma mulher me fala de amor, poderá ser de um amor gigante,
Como Martí, de donde cresce la palma,
Como Martí, deixamos os versos de nossa alma,
De uma pretendida atitude gigante: somos em nossos sonhos...

Tento simplificar, talvez tente alcançar uma rainha
Sabendo que nem tudo que alcançamos é a gênese de uma relação.
Qual flor de Beauvoir, vejo na semântica cristalina de um sentido
Um gesto vivo de uma mulher, paradigma, padrão, lucero.

Poesia suficiente, talvez alguns minutos a mais
A tecer uma significação no que me vem diretamente do éter
Que seria uma vila, uma aldeia, uma índia
Que reside por vezes na aldeia, e outras partes na cidade.

Sabe-se, que na douta literatura, não há sempre a conformidade
De meus passos sobre os quartzos que encontrei em Grão Pará
Em que as montanhas são rochedos milenares
Onde apenas as cabras tecem suas altitudes...

Apenas em se falar mais um pouco
Do que seria o suficiente na calha onde a chuva falta
E a água segue silenciosa por pequenos córregos
A silenciar as estrelas em seu brilho irrequieto do destino!

Tento, tateio, verso o meu próprio significado
No contraditório, na luta sagrada de dentro e de fora
Que o fora fôra dentro e o dentro o amálgama
De ser de si mais um pouco no quilate da compreensão.

De se construir a filosofia da existência
Sinto um prazer sem par, sem lugar, sem tempo,
Pois este inumerável tempo
Também navega pelo oceano dos significantes...

Ouro de viés, conceda-me a concretude
De dizer-me o prumo de meu pensamento
Ao que estamos por consolidar
A passagem mesma – esta – dos ventos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário