terça-feira, 12 de abril de 2016

POESIA CIRCUNFLÉXICA

De um assento onde não nos sentamos ao tornar-nos peças de andaimes,
A um que gira como um inseto atento, silente em suas próprias pernas,
E outro que fustiga sua razão ao parecer atento no movimento dos ventos,
Quando não vale que saiba-se de suas direções, a não ser do tempo...

Um homem passeia, com seu andamento de Quixote não anunciado
Nos caminhos que os levam ao sempre dos mesmos, estes que sejam
Quase como uma alfombra tecida no imantado toque de um ourives!

Não que a poesia precise disto, mas que um verso poderia fazer falta
Em se faltar a que saiba que gostar de Maquiavel é como ser órfão de ternura
Quando os ensinamentos encontram ecos nos atos em seu paradigma louco.

Será de loucura maior que o poeta consiga retornar ao breve som
De uma música que entorpece uma semântica quando se percebe
Apenas mais um homem entre uma multidão, um que tem uma cor.

As cores em que a poesia encontra-se com outras razões, de per si
Quando se recai em usar de um carmim onde caberia o verde, da púrpura
Onde se outorga uma futura lei de cor fantasma onde cabe a ilusão...

E prossegue uma voz que se pronuncia nada anacrônica em seu cerne,
Mas romântica em sua forma, de forma de fazer tijolos em carne crua
Em que ressente-se o poeta ao ver que deposita sua alma na própria vida!

A voz que pronuncia o tom seleto do ritmo das palavras segue por fim
A se dizer que nunca o parafraseado destoou tão consonantemente
Quanto os sentimentos que se tornam mantos obscuros de desejos vãos.

Na voracidade de outros desejos, em que não recriamos sequer outros mitos
Sabe-se que as multidões de cores são o emblema de uma arte esquecida
Quando nos apercebemos que sob a cor cinza pode residir uma esmeralda...

Concretude que se nos revele algo, se é para termos de nós mesmos o amor
Que plange aos sinos de uma grande catedral, e que não nos ressintamos
Quando Quasímodo pintou uma linda história de um gótico renascido.

Por que não dizer algo, porque muitos temem amar, se é no pressuposto
Mesmo este em que estaremos melhor se amássemos a todos, mesmo no viés
Em que o ódio se aplaca sob o olhar terno de uma bondade nascitura!

Talvez ao trecho de um caminhar poético, vamos ver que uma estrofe erra
Por vezes em pregar uma união quando do sorriso se faz uma fera
Em que possivelmente nasçam outros hoje a ver que a história seria outra.

Mas que não se rotule um andar de um andarilho nos trilhos de um tempo
Em que o despotismo vira qualidade em um capítulo de uma novela
Ou em outra, o fundamentalismo do ódio recria monstros adormecidos.

Que se nos pega a garra de um pássaro de aço que não vemos, com as pinças,
Só vemos de relance o aproximar-se soberbo de um calota de plástico
Que se assemelha com a engrenagem ameaçadora da imitação do mesmo aço.

A que uns poderia inquirir algo, ou proferir um sinal ameno de amizade,
Ou ao menos parabenizar um louco por sua lucidez acantonada na superfície
De uma ampla esfera de água marinha e seus continentes virados pátria!

Ou deixa-se o gérmen de uma outra lucidez em eternos jogos de conflitos
Desde o raiar da infância, passando por um futuro tíbio enquanto grotesco
Nas páginas incrustradas de esperas monolíticas do que se nos espera.

Há que girar o mundo em seus cristais de outros mundos, que não deixa de ser
O mesmo em que pontuamos no game virtual e imaginário, ao menos, que seja,
A esperança de que no mínimo tenhamos a igualdade, a fraternidade e a liberdade.

E a poesia versa mais um verso em que o acento do poeta há que circunscrever
Uma miríade de fatos que não correspondem ao acentuado desejo de um povo
Que viu no resultado de seu escrutínio a gênese mesma da própria democracia.

A esse porém, de fartarem-se certos homens que ambiguamente estreitam laços
A ver com o poder de quem quer, os que mais querem abertamente querer o poder
Mesmo que para isso tenham que cooptar o que a mídia não conseguiu fazê-lo.

Os Mandamentos são muito fortes, para não se dizer que emanam de um texto
Único de ser o Velho alfarrábio que serve em seu escopo histórico e sagrado
A um povo de origens históricas, e a um povo recriado nas religiões recentes.

Tudo tem origem, tudo passa um pouco no verbo, mas ler um romance pode ser
Ainda uma pequena consagração, quando vemos que o que o status quo
Se torna aos poucos, é que leiamos apenas das linhas pretensamente consentidas...

Quiçá o que se torne necessário é que o corpo jurídico de um país continental
Saiba ler não nas entrelinhas, pois isso não é justa literatura, nem passa por lei,
Mas que leiam sabendo escrever no mínimo o mote consequente do que aprendem.

Não há pretensões delirantes nestes versos, pois estes são de pretexto cômico,
Mas a ordem de uma mente que sente não apenas o setor que lhe compete existir
Mas o mesmo de um sentimento que nutre por todo o existir com naturalidade.

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