sábado, 9 de abril de 2016

OCULTAR-NOS

Vivemos em um palco de desditas
Enquanto se soçobra o tempo,
Nos dias, nas horas, despertamos mais um pouco
A se assenhorear-se do vento.
Nada mais a importar a um poeta
Do que ver, a cada linha desperta em sua crisálida
O serenar plangente das músicas noturnas
Que se vão no amanhecer do que ainda
É tão cedo que se dormem os pássaros...

Não há mais a prosa em meu punho,
Não há, não existe, posto que não insiste
Por fartar-se a poesia em seus cristais
A dizer do enunciado em que as memórias
Turvam-se nas pisadas do córrego
Em que antes nos esquecemos de beber da água.
O mesmo córrego que canta o seu borbulho
De pássaro incandescente no lavor da floresta
Em seus seres cristalinos de riacho,
Na sua doçura em que navegamos nossos olhos!

Pois, sim, diremos a palavra que sentimos no próprio olhar
Que permanece inquieto sobre a superfície do portal,
A se fechar em um dia em que nos visitamos
Por dentro das arquiteturas dos corais.

Verta-me, palavra, tecido de minha própria vértebra,
No caudal silencioso de minhas letras
Ao que sereno a mais um dia de lutas
No episódio iridescente do destino.

Não há mais a sedução dos versos
A quem do interesse verá nos tempos
As páginas curiosas de um homem abstrato
Em meio a certos significados de pétrea tecnologia.

A nós escribas inumeráveis por sermos enfermos do amor
A urdidura dos conceitos não prescreve grandes receitas!

O que antes era uma literatura de doutores e mestres
Nas forjas intelectuais dos vetos
Hoje grandes somos aqueles que não concursaram
Algum posto na alfombra onde dorme nossa própria razão.

Algum passo em falso talvez me espere na mesma alcatifa
Onde residi no leito do papel os versos,
Buscando significados na temperança de uma fonte
Quando escuto os primeiros pássaros da manhã...

Quando os escutamos já é a hora de vestirmo-nos
A buscar sementes dos estranhos ninhos de outrora
Sabendo que estaremos em uma corrente da água festiva
Em que as nuvens em noites anteriores
Tecem as coberturas azuis escuras de Krsna.
E que vêm as mesmas sementes
Na lavoura por vezes árida de nossas vidas.

Tênues são por vezes as esperanças das gentes
E há sorrisos que são sinceros
Por mais que a humanidade não aceite
As autenticidades dos fatos.
O de se sentir que as mudanças
Significam muito mais do que um simples termo
Ao término que se ressente de todo o significado.
E, agora, escorados na razão crescente
Talhamos as nossas vertentes distantes
De uma ilusão férrea que se apresenta
Nos veículos, trazendo à tona o ocultar-se da mesma realidade
Posto palavra que – circunflexa – traduz o destino da igualdade.
Los negros y los blancos? Será essa a verdadeira ponte do imaginário
A transubstanciar uma conquista forjada na têmpera que se constrói
Na espada nada imanente de uma justiça comprada
Através dos papeis merecedores de um bom ganho financeiro?
Será que trilharemos a farsa merecedora em que o tempo ganho
É daqueles a se arregimentarem forças que coíbem
E comprar a educação do povo vendendo nossos níqueis do solo?

Será que não basta termos um aplauso sempre presente em uníssono
Quando a platéia já se cansa do refrão e gírias pobres
De algum ressentimento de realmente não possuirmos cobertura
Enquanto a cultura de todo o nosso povo se traduz
Em um saco de confetes espalhados pelas lixeiras da vida...
A um se lhe dá uma esmola, a outro se lhe dá um carro;
A um terceiro se lhe dá uma novela
Quando este terceiro vê em seus milhões de seres
O pontificado confusionista das mentiras!

Aumenta-se a picardia agressiva dos diálogos em novelas traçadas
Enquanto a massa sente a ferroada do marimbondo da maldade,
Pois quer também um pouco daquela agressividade
Posto guerra que não somos, posto animais que não somos:
Tornados assim por deixarmos nossos sacos pendurados
Em alguma oficina mecânica de la mercancia...

Que lindo! Todos conectados e plugados...
Aquele é um chip com mania de perseguição.
Talvez um chip esquizofrênico, pois não quer
Participar do face, meu caro amigo face em que não há books.

Irrequieto é o vôo dos morcegos em sua simpatia noturna.
Vejo tristeza nos olhos, vejo mulheres rotas, e o que queremos?
Senzalas brotam pelos quatro cantos...
E grandes líderes caem aos poucos, de gatinhas,
Sabendo que no abraço de certas gentes
Essa certeza de fazer a coisa certa
Mostrará o arrependimento cruento e covarde
Depois de sentir que aqueles que iniciam
São indispensáveis em seu tosco modo
De mostrar que a Verdade reside em um tronco
Que segue adiante, sem derivativos.

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