Poderíamos passar infinitos tempos debatendo
causas, ou casos em questão, mas isso não seria quiçá producente.
Uma vida instantânea seria mais fisiológica talvez, seria mais
rápida, sem os contratempos da razão, em uma lógica rápida, mas
com sentimentos um tanto atravessados e avassalados pelos caldos da
intuição brotada à flor da pele… Os instintos seriam chefes e a
certeza o imediatismo, e isso nos leva à reflexão: mesmo que o
imediatismo nos leve a conclusões precipitadas sabemos que isso só
pode gerar conflitos internos e arrependimentos rápidos como um
relâmpago. A vida tem seu tempo melhor, e as veias da contemplação
são o caminho mais rápido para tomarmos decisões acertadas. Para
vermos melhor um problema temos que nos debruçar sobre ele e estudar
suas variantes, pesar soluções e verificar melhores equações que
o resolvam. O comprometimento com o imediatismo só conclui
precipitações nos fatos e nos remete a um despotismo na arguição
do que por ventura possa ocorrer na manifestação de qualquer ordem.
Esse imediatismo conclui antes de uma conclusão mais racional,
antecipa conceitos e reitera erros de medição e deformações
equivocadas do caráter nas decisões importantes.
Vemos o tempo como
medida, mas, na verdade, o tempo mais longo ou mais curto pode ser
apenas a necessidade de um caminho mais longo, como nossos passos,
medidos ou não entre minutos ou segundos… E não necessariamente
medidos, pois, como tal, a eternidade nos alcança dentro de qualquer
átimo ou mensuração. Temos o tempo eterno, relativizado ou não,
newtoniano ou einsteiniano. O conceito nos alcance, dentro das
possibilidades do cru pensamento, dentro mesmo das propostas
inquisitivas de pensarmos, como na limitação de um gomo de laranja,
como uma fatia concreta, existente, o próprio nome que o diga: o
conceito, o paradigma do pensar! Esse seria o tempo da vida, aquilo
que passa a ser real por medições, ou na virtual realidade, nenhuma
mensuração, apenas a existência do sopro vital. Essa existência
cardíaca quase, isso de se respirar que nos deixa vivos e que não
percebemos instantaneamente, mas apenas quando estamos mais
contemplativos. Como o tempo de uma palavra, antes, uma letra e uma
sílaba depois de se refletir um pouco: um livro ou mais, um texto,
um excerto, uma manivela que nos faça o cérebro trabalhar.
Tradicionalmente a rocha mais premente da filosofia, algo que nos
remeta ao sem tempo do passado e a uma projeção do futuro, dentro
da mesma frase, locada no presente! Algo útil que nos faça refletir
ao menos, uma concatenação lógica, um arremedo de significado, um
puxamento simbiótico frasal.
A partir do instante supremo em
que se faça o trabalho do escritor com galhardia, tudo de nefasto
perde o sentido, pois as letras remetem à lucidez do mesmo trabalho…
Não há mais lugar para rancores e o solitário trabalhador das
mesmas letras prossegue isolado dos viventes no seu trabalho, ele e
sua máquina que escreve, ou ajuda, ao menos, imprimindo suas ideias.
Como em um exílio solitário o escrevinhador trabalha em meio a uma
pandemia que o faz publicar para um pequeno mundo, como um padre a
seus fiéis devotos. E, portanto, que faça o padre seu trabalho,
arregimentando forças em sua igreja, comungando em suas missas,
passando o credo e dando suas orientações pertinentes ao clero que
vem de longe, espelhando no Vaticano suas orações mais solenes…
Assim reza a sociedade boa, assim vem ao largo das vertentes dos
inocentes um tempo eterno em que os do bem não precisem se preocupar
com futuras faltas. O coro canta alto uma peça de Bach chamada A
Paixão Segundo São Mateus, e isso é de um tempo antigo que
prenuncia o ontem no hoje e no amanhã como registro indelével de
música maravilhosa.
Estes tempos idos que por vezes não
recuperamos por vezes vêm de fracassos que o homem tem cometido ao
longo de sua vida, vidas por vidas, e por gerações a se fazer
circunflexo o erro humano. Por essas tantas, por todos os seus erros,
não pode haver capitulação por parte da Natureza, pois esta apenas
vê no tempo dos erros os ajustes dos resultados das estultícies. E
por aí vão os requisitos em que tenhamos uma noção dos erros e
acertos com relação ao planeta, por não nos preocuparmos com os
estragos a longo prazo cometendo atrocidades repentinamente, como se
o que nos alcance não alcançará mais tarde a outras gerações,
deixando para depois o que podemos fazer na atualidade. O tempo da
vida está minguando para várias espécies, incluso a nossa que
passa a sofrer a consequência dos abusos que comete contra si mesma
e seu habitat: a nossa Terra.