quarta-feira, 11 de agosto de 2021

VIDA E TEMPO

 

          Poderíamos passar infinitos tempos debatendo causas, ou casos em questão, mas isso não seria quiçá producente. Uma vida instantânea seria mais fisiológica talvez, seria mais rápida, sem os contratempos da razão, em uma lógica rápida, mas com sentimentos um tanto atravessados e avassalados pelos caldos da intuição brotada à flor da pele… Os instintos seriam chefes e a certeza o imediatismo, e isso nos leva à reflexão: mesmo que o imediatismo nos leve a conclusões precipitadas sabemos que isso só pode gerar conflitos internos e arrependimentos rápidos como um relâmpago. A vida tem seu tempo melhor, e as veias da contemplação são o caminho mais rápido para tomarmos decisões acertadas. Para vermos melhor um problema temos que nos debruçar sobre ele e estudar suas variantes, pesar soluções e verificar melhores equações que o resolvam. O comprometimento com o imediatismo só conclui precipitações nos fatos e nos remete a um despotismo na arguição do que por ventura possa ocorrer na manifestação de qualquer ordem. Esse imediatismo conclui antes de uma conclusão mais racional, antecipa conceitos e reitera erros de medição e deformações equivocadas do caráter nas decisões importantes.
          Vemos o tempo como medida, mas, na verdade, o tempo mais longo ou mais curto pode ser apenas a necessidade de um caminho mais longo, como nossos passos, medidos ou não entre minutos ou segundos… E não necessariamente medidos, pois, como tal, a eternidade nos alcança dentro de qualquer átimo ou mensuração. Temos o tempo eterno, relativizado ou não, newtoniano ou einsteiniano. O conceito nos alcance, dentro das possibilidades do cru pensamento, dentro mesmo das propostas inquisitivas de pensarmos, como na limitação de um gomo de laranja, como uma fatia concreta, existente, o próprio nome que o diga: o conceito, o paradigma do pensar! Esse seria o tempo da vida, aquilo que passa a ser real por medições, ou na virtual realidade, nenhuma mensuração, apenas a existência do sopro vital. Essa existência cardíaca quase, isso de se respirar que nos deixa vivos e que não percebemos instantaneamente, mas apenas quando estamos mais contemplativos. Como o tempo de uma palavra, antes, uma letra e uma sílaba depois de se refletir um pouco: um livro ou mais, um texto, um excerto, uma manivela que nos faça o cérebro trabalhar. Tradicionalmente a rocha mais premente da filosofia, algo que nos remeta ao sem tempo do passado e a uma projeção do futuro, dentro da mesma frase, locada no presente! Algo útil que nos faça refletir ao menos, uma concatenação lógica, um arremedo de significado, um puxamento simbiótico frasal.
          A partir do instante supremo em que se faça o trabalho do escritor com galhardia, tudo de nefasto perde o sentido, pois as letras remetem à lucidez do mesmo trabalho… Não há mais lugar para rancores e o solitário trabalhador das mesmas letras prossegue isolado dos viventes no seu trabalho, ele e sua máquina que escreve, ou ajuda, ao menos, imprimindo suas ideias. Como em um exílio solitário o escrevinhador trabalha em meio a uma pandemia que o faz publicar para um pequeno mundo, como um padre a seus fiéis devotos. E, portanto, que faça o padre seu trabalho, arregimentando forças em sua igreja, comungando em suas missas, passando o credo e dando suas orientações pertinentes ao clero que vem de longe, espelhando no Vaticano suas orações mais solenes… Assim reza a sociedade boa, assim vem ao largo das vertentes dos inocentes um tempo eterno em que os do bem não precisem se preocupar com futuras faltas. O coro canta alto uma peça de Bach chamada A Paixão Segundo São Mateus, e isso é de um tempo antigo que prenuncia o ontem no hoje e no amanhã como registro indelével de música maravilhosa.
          Estes tempos idos que por vezes não recuperamos por vezes vêm de fracassos que o homem tem cometido ao longo de sua vida, vidas por vidas, e por gerações a se fazer circunflexo o erro humano. Por essas tantas, por todos os seus erros, não pode haver capitulação por parte da Natureza, pois esta apenas vê no tempo dos erros os ajustes dos resultados das estultícies. E por aí vão os requisitos em que tenhamos uma noção dos erros e acertos com relação ao planeta, por não nos preocuparmos com os estragos a longo prazo cometendo atrocidades repentinamente, como se o que nos alcance não alcançará mais tarde a outras gerações, deixando para depois o que podemos fazer na atualidade. O tempo da vida está minguando para várias espécies, incluso a nossa que passa a sofrer a consequência dos abusos que comete contra si mesma e seu habitat: a nossa Terra.


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