terça-feira, 23 de junho de 2020

VIDA E JOGO


          A vida se sustém com a prerrogativa de regras. Não importando a etnia ou a cultura, sempre há parâmetros civilizatórios que permeiam o viver das gentes em sociedade, com suas leis consuetudinárias, com suas Cartas Magnas, ou uma organização societária que pode até mesmo revelar similitudes com os clãs das eras primitivas. Sem um mínimo de respeito e certa hierarquia não há um processo de convivência que seja compatível com a sustentabilidade das relações humanas. Sempre há uma questão do lúdico nas fronteiras das criaturas humanas. Passamos a viver em um jogo que vai desde o brincar de uma criança até um entretenimento costumeiro na terceira idade. Muitos passam suas horas de lazer jogando com algum esporte, na tela do computador, ou em uma simples palavra cruzada, como quando se educa os filhos brincando, ou mesmo nos desafios na cátedra de uma Universidade. Mesmo nós não percebendo o que é o significado lúdico quase oculto em muitas atividades diárias, mesmo em cotidianos duros como o militar, nesse caso, os jogos de estratégia se transformam muitas vezes em realidade. Um barco de pesca joga literalmente a rede, contando com a habilidade da tripulação e a sorte em que a mesma rede não seja rompida por feras aquáticas… Em muitos casos a sorte vira uma gama de possibilidades, transcendendo o simples sim ou não, onde o significar da aleatoriedade é mais complexo e mais amplo. O contexto mais simples ou mais complexo não significa o signo do positivo ou negativo, do 1 ou do 0, que faz funcionar uma máquina computacional, mas uma diversidade infinita na qual o olhar do homem e da mulher podem pousar sem compreender o Todo, posto os sentidos serem limitados e, a cada ser, a idiossincrasia de sentir, sua percepção, é distinta a cada qual, mesmo sendo da mesma espécie… Um exemplo distinto é um olhar de uma águia quando adulta ou uma águia jovem, ou a relação da família da águia com seus consortes, e a reação de cada leão quando sofre a ameaça humana, que mostra clara e individualmente o grau de interferência no mundo de nossa espécie. Um índio convive e protege as araras, e outros – que fazem disso um negócio – exportam aves em tubos para países “desenvolvidos” com alto nível de IDH. Enquanto houver a Natureza no planeta, saibamos que nada demoverá nada, a não ser a espécie invasora, que somos nós, os seres humanos: nos jactamos superiores, mas nada importará à soberba humana quando nos dermos conta de que somos vermes nas entranhas dos sistemas habitados por Todos no planeta, vermes que nos alimentamos de óleo, e por causa dele matamos milhares de outros seres “humanos”, quais nós mesmos. Óleo da guerra, do sexo e da paz, tanto fizesse, na verdade o óleo da hipocrisia que quer apenas que mais nos apropriemos da Natureza e seus recursos, suas terras, seus minérios, seu sexo, suas flores, e seus excrementos, como o guano, a se citar um literal. Um jogo que não necessariamente fosse uma Startup deveria ensinar novamente a Evolução das Espécies até comprovarmos de Galápagos para o mundo que carecemos de uma superioridade em função de sermos sempre os maiores predadores e que jamais haveremos de cometer novamente os erros de que – à medida que o futuro nos chega – saberemos nos portar melhor do que aparentemente a maldade se renova suas roupas a cada ano que alcançamos, e que o perdão já não faz mais parte de nossos sinistros planos… Notemos sempre que quem ama o combate não gosta da paz, e aquele que não gosta dela jamais deixará o fluxo das injustiças teimarem em ocorrer nas nações, incluso com ressalvas de catástrofes naturais ou endêmicas que possam nos acometer. Quem não sabe perdoar jamais conseguirá alcançar o amor, que se revela equidistante dessa justiça fluida, natural, quando olhamos para um pássaro feliz.
         Nisso tudo percebe-se porque o jogo exerce tanto fascínio para nós, justamente quando jogamos sempre para ganhar, e a competição serve como alavanca de nossos propósitos, indicando que muitas vezes a coletividade perde a razão em virtude até mesmo do jogar das religiões, onde o embate é tornar o próximo crédulo de crenças de cada qual, onde a harmonia se perde quando a fissura que divide as diferentes crenças se revela inevitável, na modalidade de uma ignorância sem tamanho e o fanatismo intolerante. É nessas horas que há que se ter o respeito supracitado, e a razão que nos leve a uma autocrítica suficiente para sabermos discernir entre a realidade e a fantasia, ficção da não ficção, unindo a arte com a engenharia, a ciência com a fé, para começarmos a ter noção de que nada sabemos a respeito da Verdade Suprema, apenas algumas escrituras que devam ser relidas para que saibamos sobre a Universalidade da Fé, da Ciência e do Progresso Humano. Tornar uma sociedade extremamente competitiva, onde uns já largam na frente com todos os recursos, inevitavelmente deixa para trás aqueles que apenas tentam sobreviver no tabuleiro da Vida.

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