sábado, 6 de junho de 2020

O CANTAR OCULTO DOS PÁSSAROS


Vale Deus pelo cantar que não espera, que é cântico de manhã
De um pássaro ou outro, de dois, de quatro de tantos
Que não esperamos por alguma anunciação da primavera
Mas, sim, do canto a que nos dê uma outra canção,
Que seja, a de escutar e colocar significado nos trinos!

Como a veste de uma haste de grama, onde o mesmo Deus
Soletra sua existência, e não adianta esperarmos por tudo isso
Se a Presença Magnificente já ocorre, não como esdruxulidade,
Mas como a materialização do mundo espiritual no escol
De nossa consciência, como um grande painel sonoro de vida.

Deus não faz as coisas que se apresentam em alguma redenção
Posto fazermos parte Dele, em uníssona voz, a construção a Seu lado!

A parte anímica, o espírito está na música e sua matemática de dedos
Que dançam sobre um teclado de piano, reverbera na síncope dos violinos
E traduz na cultura o símbolo indescritível do mesmo animismo que tão cedo
Nenhum profeta bíblico ousaria imaginar, nem mesmo em uma Terra planificada…

Rege a orquestra de mais um dia, e no sul do Equador esquadrinha-se um verso
Que não remenda e nem justifica o mesmo cantar, mas talvez fosse crível
Uma explicação qualquer que tente ao menos descrever a justiça da beleza,
Essa razão de querermos em um figural, traçando rumos, escutar uma rebeca!

Nisso de pensar no mundo contemporâneo, que tenhamos paciência para ouvir
Toda uma peça de Mozart, uma fuga inteira de Bach, ou, se não encontrarmos,
O inverno que segue em Vivaldi, pelas mãos generosas e lindas das solistas
Que certamente revisitam mais o caminho da arte do que as proféticas carnes!

De não se entender tudo ouçamos os sons dos pássaros, mesmo diante
Do gutural farfalho de uma gaivota distante, aos de escolha múltipla e,
Inevitavelmente, o poeta encontra mais uma musicista maravilhosa
Que o faz ficar apaixonado pelas mãos precisas da violonista…

Quantos anos demandariam, por Deus, para se distinguir uma boa música
Com toda a técnica, qual não fosse a alma do compositor, um leitor assaz
Costumeiro das partituras, e no dilúvio de notas esparsas consegue a ordem…

Essa ordem que não poderia ficar sem o soletrar do verbo, pois por mais que
Desfaçam, a ordem da harmonia e da melodia ponteia cada instrumento,
Seja de cordas ou de sopros, seja de percussão, seja clássico ou popular,
No invisível de nossos convites, para um arauto ou para um mendigo.

A música não pede passagem, a quem tenha ouvidos para ouvir
Ou a quem tenha olhos para ver, posto é raro ver quem não tenha
Aos sentidos o mínimo por saber, naquilo que temos no mundo,
Os pássaros são o tato, o de se revestir de certeza quem ao menos imagina!

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