Um motor
possui uma história. Quando esta passa a ser uma engrenagem, meio que “funcionamos”
em termos de respostas a estímulos, aos testes, a uma performance que só faz
ressaltar o fato de que quando a máquina humana está velha e gasta
biologicamente, muitos caem a supor que a juventude vale mais do que os tempos
além da – ou na – meia idade. As coisas não procedem desse modo... O que era
não se dissocia do que é, o devir ocorre como pano de fundo, no projeto de uma
vida, mas que agir em si sabendo muito de história pode ser mais confortável e
propriamente humano, em termos de navegabilidade na selva material, do que
estarmos confiando nas nuances superficiais que a água faz no encontro ao casco
do barco, quando ignoramos que há um motor, há gente tripulando, e a existência
inequívoca do leme e seus instrumentos. Se considerarmos com profundidade o que
existe por baixo da água em relação com o barco, estaremos mais conscientes na
previsão – daí parte o projeto – de uma possibilidade de um mar revolto, da
crítica questão das tempestades. No status de inteligência, quando sabemos que
o homem dispõe caracteristicamente, com mais largueza do que os outros seres,
da matéria, seu uso mínimo traduz uma palavra que seja a de sempre atual: a
sustentabilidade. Mas a vanguarda do conhecimento não será a sustentabilidade,
mas o próprio mínimo de ação citado acima. Jactar-se de bons resultados com o
mínimo de óleo de mamona é superior às queimas do óleo mineral, com o usufruto
máximo naquilo que pode ser advertido como sociedade de consumo na geração de
desejos que são criados pelas indústrias de manufaturas, ou mesmo de alimentos
maquilados em suas embalagens, por excesso. A relação entre o barco e essa
especulativa maneira de pensar é justamente pensar em alimentos como o barco
todo, pensar no trem como transporte, pensar no asfalto como gasto desnecessário
no sem fim dos tapa-buracos para carros velozes e vazios. Pensar na não conotação
ideológica quando imaginamos sermos realmente criativos ao questionar nesse
processo de criação que um presente como um barco de brinquedo com motor a ser
compartido em uma comunidade infantil talvez seja melhor e mais lúdico do que
um minion individual. Não que a
imaginação seja o segredo, pois está longe disso. Ler um romance e entrar na
história é um fator de educação, um modo de se aculturar, a percebermos desde
crianças as épocas, a análise, a arte, como saber o que está por trás de uma
confiança algo suspeita em relação a um veículo de informação, e qual a nossa
situação de país na realidade comparativa em termos de qualidade e
independência em relação a outros, mais ricos ou não.
Considerarmos
a história como um grande motor talvez fosse o equívoco em pensarmos em um
barco sem o mar, e pensarmos o mar sem suas criaturas, naturalmente seus
habitantes consuetudinários, por direito da própria Natureza, e que o homem não
pode intervir, como vem como ator de um grande estrago – há séculos. Dá uma
impressão que querem tornar a vanguarda existencial uma arena onde a “antropofagia”
do mercado se torna quase natural. A ponto de negociarem invasões a terreiros
de umbanda como ações justificadas pela bíblia, ou a palavra do “Senhor, seja
este um profeta ou o próprio Javé”. Não que se discuta a validade ou
importância do texto sagrado, mas uma questão mais urgente de se solucionar que
é a intolerância religiosa, que faz frente a outras igualmente desprezíveis e
passíveis – dentro de uma sociedade onde a Justiça existe na prática – de imputabilidade.
Possivelmente a mescla entre religião e política tenha dado alguns estopins
nesse processo, já que algumas teorias políticas são contra a existência de
Deus e o Espírito, processos anacrônicos com a realidade de um país
extremamente religioso como o Brasil. Mesmo porque a ciência não tem encontrado
soluções para o planeta, a não ser colaborar para a sua destruição, e as
guerras mostram a patifaria e a hipocrisia de quem só quer a riqueza alheia
através da força, ou no embate em torno de territórios que muitos consideram
serem parte de um dito credo, em detrimento do sofrimento de imensas populações
vulneráveis em termos de força que sofrem políticas armadas segregacionistas.
São esses os
resultados onde os barcos engendrados na barbárie coletiva ou não tendem a
fracassar na imensa navegação a que se propuseram quando se posicionaram em
meio a um grande oceano. Por esse caminho a tendência é não terem planejado a
volta, não terem descoberto que o óleo não vai ser suficiente para trazer a
embarcação a um porto seguro, em que a tripulação tende a sair para montar-se
em barcos mais inteligentes como navegadores – quiçá com grandes e enfunadas
velas, quiçá com bons tanques de óleo, considerando os comburentes da vida, que
somos todos nós que singramos nosso próprio oceano, sejam um homem ou uma mulher,
sejam a coletividade: o grupo, a equipe, o país, todo o mundo. Chegará o dia em
que veremos um grande navio, e outro, e outro, já cruzando os oceanos, já donos
do mar – em respeito – ao redor de terras consagradas por união e bondade, de
forma inteligente, lógica, humana. Mas para isso algumas embarcações renitentes
e orgulhosas de que possuem o poder para tal, saberão que seu fracasso é o
resultado de achar que podem depender do óleo que incluso roubam de outros, mas
que possuem um motor cansado da negação em si mesma, que não gostará do esforço
a que querem submeter o tipo de máquina à qual seguem interpretadas a atitude e
a ação dos homens.
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