sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

MOTORES E VANGUARDA

            Um motor possui uma história. Quando esta passa a ser uma engrenagem, meio que “funcionamos” em termos de respostas a estímulos, aos testes, a uma performance que só faz ressaltar o fato de que quando a máquina humana está velha e gasta biologicamente, muitos caem a supor que a juventude vale mais do que os tempos além da – ou na – meia idade. As coisas não procedem desse modo... O que era não se dissocia do que é, o devir ocorre como pano de fundo, no projeto de uma vida, mas que agir em si sabendo muito de história pode ser mais confortável e propriamente humano, em termos de navegabilidade na selva material, do que estarmos confiando nas nuances superficiais que a água faz no encontro ao casco do barco, quando ignoramos que há um motor, há gente tripulando, e a existência inequívoca do leme e seus instrumentos. Se considerarmos com profundidade o que existe por baixo da água em relação com o barco, estaremos mais conscientes na previsão – daí parte o projeto – de uma possibilidade de um mar revolto, da crítica questão das tempestades. No status de inteligência, quando sabemos que o homem dispõe caracteristicamente, com mais largueza do que os outros seres, da matéria, seu uso mínimo traduz uma palavra que seja a de sempre atual: a sustentabilidade. Mas a vanguarda do conhecimento não será a sustentabilidade, mas o próprio mínimo de ação citado acima. Jactar-se de bons resultados com o mínimo de óleo de mamona é superior às queimas do óleo mineral, com o usufruto máximo naquilo que pode ser advertido como sociedade de consumo na geração de desejos que são criados pelas indústrias de manufaturas, ou mesmo de alimentos maquilados em suas embalagens, por excesso. A relação entre o barco e essa especulativa maneira de pensar é justamente pensar em alimentos como o barco todo, pensar no trem como transporte, pensar no asfalto como gasto desnecessário no sem fim dos tapa-buracos para carros velozes e vazios. Pensar na não conotação ideológica quando imaginamos sermos realmente criativos ao questionar nesse processo de criação que um presente como um barco de brinquedo com motor a ser compartido em uma comunidade infantil talvez seja melhor e mais lúdico do que um minion individual. Não que a imaginação seja o segredo, pois está longe disso. Ler um romance e entrar na história é um fator de educação, um modo de se aculturar, a percebermos desde crianças as épocas, a análise, a arte, como saber o que está por trás de uma confiança algo suspeita em relação a um veículo de informação, e qual a nossa situação de país na realidade comparativa em termos de qualidade e independência em relação a outros, mais ricos ou não.
            Considerarmos a história como um grande motor talvez fosse o equívoco em pensarmos em um barco sem o mar, e pensarmos o mar sem suas criaturas, naturalmente seus habitantes consuetudinários, por direito da própria Natureza, e que o homem não pode intervir, como vem como ator de um grande estrago – há séculos. Dá uma impressão que querem tornar a vanguarda existencial uma arena onde a “antropofagia” do mercado se torna quase natural. A ponto de negociarem invasões a terreiros de umbanda como ações justificadas pela bíblia, ou a palavra do “Senhor, seja este um profeta ou o próprio Javé”. Não que se discuta a validade ou importância do texto sagrado, mas uma questão mais urgente de se solucionar que é a intolerância religiosa, que faz frente a outras igualmente desprezíveis e passíveis – dentro de uma sociedade onde a Justiça existe na prática – de imputabilidade. Possivelmente a mescla entre religião e política tenha dado alguns estopins nesse processo, já que algumas teorias políticas são contra a existência de Deus e o Espírito, processos anacrônicos com a realidade de um país extremamente religioso como o Brasil. Mesmo porque a ciência não tem encontrado soluções para o planeta, a não ser colaborar para a sua destruição, e as guerras mostram a patifaria e a hipocrisia de quem só quer a riqueza alheia através da força, ou no embate em torno de territórios que muitos consideram serem parte de um dito credo, em detrimento do sofrimento de imensas populações vulneráveis em termos de força que sofrem políticas armadas segregacionistas.
            São esses os resultados onde os barcos engendrados na barbárie coletiva ou não tendem a fracassar na imensa navegação a que se propuseram quando se posicionaram em meio a um grande oceano. Por esse caminho a tendência é não terem planejado a volta, não terem descoberto que o óleo não vai ser suficiente para trazer a embarcação a um porto seguro, em que a tripulação tende a sair para montar-se em barcos mais inteligentes como navegadores – quiçá com grandes e enfunadas velas, quiçá com bons tanques de óleo, considerando os comburentes da vida, que somos todos nós que singramos nosso próprio oceano, sejam um homem ou uma mulher, sejam a coletividade: o grupo, a equipe, o país, todo o mundo. Chegará o dia em que veremos um grande navio, e outro, e outro, já cruzando os oceanos, já donos do mar – em respeito – ao redor de terras consagradas por união e bondade, de forma inteligente, lógica, humana. Mas para isso algumas embarcações renitentes e orgulhosas de que possuem o poder para tal, saberão que seu fracasso é o resultado de achar que podem depender do óleo que incluso roubam de outros, mas que possuem um motor cansado da negação em si mesma, que não gostará do esforço a que querem submeter o tipo de máquina à qual seguem interpretadas a atitude e a ação dos homens. 

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