sexta-feira, 5 de maio de 2017

O VERBO NÃO SE SITUA EM UM

          Qual não fosse a primeira letra de um parágrafo que não fosse esta. A letra do Quem, a letra do Qual, a letra do Quer, não necessariamente nessa ordem, pois é apenas uma letra, e suas palavras uma abstração, mesmo concatenada: quem quer qual, quer qual quem, qual quem quer, ou as possíveis combinações onde uma linguagem mais subjetiva poderia adjetivar ou colocar advérbios de intensidade, que não seja essa conjunção em que o verbo modela e complementa as ordens… É urgente uma proposta que gere uma consonância com o que dizemos ou queremos dizer e aquilo que sublime, nesse diálogo interno, apenas os interesses de estímulos e respostas: tudo o que nos faz achar que somos ágeis enquanto inteligentes, com respostas rápidas, prontas, os recortes hedonistas, e a ilusão de estarmos vivendo um mundo futurista, apenas ele uma cópia de histórias já corroídas por seus erros.
          Quando estamos a ponto – depois de fazermos tremendos estragos na ordem política do país – de falarmos apenas do amor, de coisas singelas, queremos ser perdoados por termos (em um quase monólogo da humanidade em que me posto) da compaixão pelos miseráveis, desde que estes não saiam dessa condição. Até certo ponto podemos escolher dar banhos e pratos de comida, mas o ato em si é pontual como nossas postagens, mas ignoramos o fato de devermos muito mais ao sistema. As mensagens que mandamos àqueles que pensamos vulneráveis seguem pelas tabelas de organogramas esquecidos e nunca executados. Ao pensarmos em uma sociedade melhor fazemos o pacto inexistente com a sociedade, mas não esquecemos daquelas nem tão anônimas, pois jogamos nossas cartas nas redes. Até aqui chegamos a um consenso, o fato exposto e dissecado como tanta é a falta de mistério no modal construído até então e, se não procuramos, não encontramos, mas se solitariamente ou em grupos pesquisamos encontramos algum alicerce, mesmo que se rotule algo que sempre não sabemos de onde vem e nem para onde segue: quais seus alvos ou interesses… Passamos a ter uma motivação não propriamente produtiva, mas de serviço si ne qua non com órgãos e pressupostos organizacionais. Talvez seja válido, pois criamos a nós mesmos uma interface de consciência, utilizando o computador como instrumento cabal e imprescindível, mesmo na história de um pensamento ou nas hachuras de um rabisco certeiro. Acabamos por encontrar o verbo não situado em terceiros, nem em quadrantes maiores, mas maiores ainda, a ponto de sermos a mensagem do ultramar. A garrafa lançada de uma ilha, e que corra essa palavra pelos continentes, e na realidade isso já é um fato incontestável. Da luz do poste o escritor vê tudo amarelo, e de seu note a versão mais clara de uma luz em suas palavras, a luz que emana de algum significado.
          Não precisamos nos ater ao funcionamento de uma máquina extensa e interligada, mas do verbo que não se situa no braço de quem emerge de uma cinza, fumando o tabaco que faz parte dos seus dias. Se essa pequena amostra do que pode ser uma palavra, cabe a que seja de mais satisfação a quem a produz, mesmo sabendo que não obtém quaisquer lucros admissivelmente impossíveis diante da ousadia em se pretender pensante. O figural brinca, os adjetivos não pertencem à pena do poeta, e que a poesia se faça pensar, pois que quando lemos temos que brincar com a história… O mundo está fechado em uma concha em que à distância nos vemos nos terrenos propícios a um diálogo, mas não se surpreendam se tropeçamos em nós mesmos quando acreditamos em um midcult que nos atravessa os canais perceptivos para avisos digitais na intenção de isolar a autenticidade, que seja, a simplicidade de viver sem sócios.

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