domingo, 21 de maio de 2017

A SINTAXE CULTURAL

            Deixar-se viver. Talvez fosse uma frase curta, e é no português. Mas estes não deixaram muitos viverem nas eras coloniais, ao seu modo, à sua maneira. De uma sintaxe imposta, somos um país que fala o português. Podemos assumir que o idioma faz parte de nossa cultura, e somos tantos os países latinos que – quiçá um dia – poderemos nos conhecer melhor. Não há entretanto, na modesta visão deste que vos escreve, toda essa importância de intercambiar, mas igualmente sabemos que os anglos dominam o idioma falado no mundo inteiro, como um cartão de visitas para o que se aglutina em torno de um certo trânsito cultural, ao menos o se fazer entender. Oito linhas de um parágrafo podem elucidar um fator: o dos idiomas, o que nos abre ao entendimento, e assim seja na premissa mais básica da comunicação humana...
            No entanto, vai mais além a palavra sintaxe, como compreensão estrutural, chegando a níveis da questão neurológica na medicina, bem como nas artes, na compreensão antropológica e social, no nível das humanas e, mais ainda, na compreensão das linguagens tecnológicas que sempre começam em rotinas e algoritmos. Se as sociedades conseguirem relacionar, ou ampliar o contexto da palavra acessibilidade ao ponto de aceitarmos que qualquer ser humano tenha condições de uma participação na aquisição do conhecimento tecnológico das disciplinas biológicas, humanas, e exatas, podemos pensar que essa mesma acessibilidade torna-se a própria democracia como solução de acesso ao conhecimento e know how: o como, o quando, a agenda, a programação, a defesa de um país, sua construção e fomento, e seus desenvolvimentos artísticos fundamentais...
            Uma área vulnerável como uma favela nos revela uma complexidade de como se aceita esse fato na sociedade, enquanto se olha para cima, dentro do contexto de um tipo de sonho em que o “para cima”, dos mais favorecidos, será sempre nas cabeças mais desprovidas, olhar para países ricos, e não para a melhoria de nossas habitações, como razão intrínseca de melhorar a vida de um povo, e ficar sinceramente feliz com o fato, quando vemos que temos possibilidades de sermos um país livre enquanto demandas recriadas dentro da criatividade e esforço de nossos profissionais. Um fato relevante seria como proposta alternativa levar tendas de ambulatórios para as vilas de periferia e não o inverso: relocar a saúde para dentro dela mesma em seus espaços fechados, rumo ao regresso e desmonte. Essa queda abrupta por ocasião de nossas crises internas não se resolve no labirinto economês. Mas sim, no levante de nossas consciências, em um facho necessário em nossos olhares para que possamos ver e nos perguntarmos: como, quando e por que. Por quais seremos, e por que estamos a ficar neutralizados por angústias, quando constatamos que a abertura inclemente de buscarmos em nosso hedonismo a fuga da realidade gera mais e mais a falta de nossa Paz sagrada e a ocorrência de mais sofrimentos de ordem psíquica e o recrudescimento da violência e do crime. Temos que olhar melhor, em nossos recomeços, senão o retorno de nossos problemas vira eterno. Não há espaço para pensarmos que somos super heróis, pois estes estão em profusão na vida em que se encerram nos vídeos, e o verdadeiro jogo que devemos participar sempre é aquele pontuado pela cidadania, pautado pelos Direitos Humanos Internacionais, que rezam pela prática agora muito menos vigilante por esse prisma humanitário.
            Essa é a sintaxe necessária, por uma questão de chão, de terra, de asfalto, de mar... Entre tudo o que pensamos existe o fundamento da questão de não podermos por vezes nos defender de ofensas, de muitos estarem quase em eterno litígio, mas que certamente o nascer de novas fontes tecnológicas permite a um indígena liderar seu povo e clamar pela liberdade do direito de viver em suas terras e lutar por isso, dentro das ferramentas tecnológicas e do diálogo. A sintaxe que retira os direitos básicos ou outros quaisquer conquistados por uma população gera inevitáveis conflitos, pois a injustiça contra o povo não faz parte de uma linguagem solidária ao bem comum, mas sim apenas a prospecção e concentração da riqueza nas mãos de poucos, e a venda continuada das riquezas dos recursos a que jamais algum país mereça passar. 

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