Fazemos
por analogias um portar-se como, um dizermos como, algo que não nos faria
sentido se estivéssemos – como efetivamente estamos – parados no tempo. Algo
nos dita, se considerarmos o “algo” como a realidade de estímulos e
respostas, curtos, na evasão egocêntrica de superlativarmos o que cremos como
participação e seus displays que, enquanto realidade bruta é matéria sutil. Não
seria um erro afirmar que queremos ser escutados, mas não saímos do ponto
conquanto a matéria sutil se reafirma como um meio que alimenta engrenagens
sólidas do que passa a parecer a alguns, e a outros se oculta, como dutos
grandes e pequenos onde se passa a seiva, e grandes corações alimentadores em
que a sístole volta e a diástole avança, ou seja, passamos a não pensar mais
profundamente o embasamento do que há, quando não conectamos o passado mais
exatamente com os padrões desse modo de vida atual que emerge plácido como
pequenos movimentos sem retornos. A essa sutileza do parar-se enquanto palavras
anunciadas para que achemos que todo um movimento acontece chamaríamos a
construção de um tempo gasto em linhas que nos limitam, que outras linhas há,
na formatação mais antiga em maiores superfícies, mesmo digitais. Essa forma
traduz e encaixa o conteúdo, ou seja, dispõe a que escrevamos com uma quase
ausência da necessária adaptação ao meio em si, pois que se remonte a página de
ofício, o A4, um padrão mais antigo, que a se chegar nesse formato o que se
escreve encontra mais seu repouso e suas evidências e maior clareza, mesmo
quando o assunto é árduo.
No
surgimento dos ofícios da computação, houve quem se antecipasse montando seus
escritórios de desenho gráfico, como tudo o que se monta a negócios, e aqueles
que mais lucram acabam sofrendo investidas de concorrentes, diluindo ganhos e
quebrando os mais fracos. Esse fenômeno que antes facilitava o meio de produção
a que as peças gráficas possuíam o encantamento por meios digitais, agora
tornam-se mais e mais complexos, ou seja, para se ganhar o equivalente a uma peça
gráfica importante em sua confecção mais simplificada e com a devida ciência e
arte, agora necessita de muito mais preparação do conteúdo, migrando
verdadeiras levas para equipes externas no ganho equivalente aos principiares
mais artesanais, em questão de décadas do desenvolvimento dessas inchadas
estruturas. A predação é grande, e enquanto não encontrarmos a similaridade com
a Natureza e suas interações, não é possível que compreendamos o que se chama
economia de mercado, visto esse já não ser uma entidade, mas praticamente uma
estrutura estanque e nada dinâmica, já traçada e mapeada, já organizada pelos
grandes especuladores e principal responsável pelo atraso nas relações de ordem
social e econômica.
A
princípio, podemos afirmar que a mercadoria passa a ser também o comércio quase
ingênuo de nossos afetos, porquanto passamos a vincular nossas existências
dependendo de máquinas que fazem florescer – nos seus usos ineptos e
inconcludentes – a aceitabilidade social e associações sinistras. Nos embates grosseiros,
na possibilidades de eventos criminosos, basicamente em uma parafernália algo
linear em nossos tempos, onde nosso acesso ao primeiro mundo nos é dado como
espectadores, girando a engrenagem em favor da produção externa, submetendo-nos
ao que é ilusoriamente interessante, com as montagens e construções de nossos selfies, ainda baseados no ganho
paulatino de uma aceitabilidade, na sedimentação dos nossos afetos mal
encaixados no sistema, dia após dia, post após post. Demandamos trabalhos a
partes que afetam fundamentalmente o mesmo sistema, preservando nossos erros,
dando aos controladores o capital girante das informações, o principal fator de
lucro do mundo contemporâneo. Girando o planeta na questão de que todos querem
estar inseridos em algum contexto, passando a construir na rebarba do que antes
poderia ser um ofício do artesanal de uma máquina surgida com todo os seus
encantos, a mesma rebarba que nos faz ficarmos cada vez mais distantes dos
processos produtivos das faraônicas equipes de capital gigante dos grandes
estúdios, em um tipo de passividade onde redescobrir o meio como sustentação do
homem fabril, torna-se impossível, enquanto o gesso acaba por revestir aqueles
trabalhadores que expões seus perfis para quem – inclusive seus patrões – possam
ver quem são e controlar mais de perto suas vidas.
Há
possibilidades de ao menos nos distanciarmos um pouco da questão da
participação equivocada, porquanto tentemos nos aproximar mais da natureza das
coisas, seus objetos, seus materiais, nos aplicarmos em termos nosso trabalho
enquanto parâmetro de conscientização necessária, pois se nosso olhar está
diretamente vinculado a uma área quadrada, se sairá sempre melhor aquele que vê
o mundo com maior plenitude: olho a olho, mano a mano.
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