quinta-feira, 25 de maio de 2017

DAS MATÉRIAS SUTIS

            Fazemos por analogias um portar-se como, um dizermos como, algo que não nos faria sentido se estivéssemos – como efetivamente estamos – parados no tempo. Algo nos dita, se considerarmos o “algo” como a realidade de estímulos e respostas, curtos, na evasão egocêntrica de superlativarmos o que cremos como participação e seus displays que, enquanto realidade bruta é matéria sutil. Não seria um erro afirmar que queremos ser escutados, mas não saímos do ponto conquanto a matéria sutil se reafirma como um meio que alimenta engrenagens sólidas do que passa a parecer a alguns, e a outros se oculta, como dutos grandes e pequenos onde se passa a seiva, e grandes corações alimentadores em que a sístole volta e a diástole avança, ou seja, passamos a não pensar mais profundamente o embasamento do que há, quando não conectamos o passado mais exatamente com os padrões desse modo de vida atual que emerge plácido como pequenos movimentos sem retornos. A essa sutileza do parar-se enquanto palavras anunciadas para que achemos que todo um movimento acontece chamaríamos a construção de um tempo gasto em linhas que nos limitam, que outras linhas há, na formatação mais antiga em maiores superfícies, mesmo digitais. Essa forma traduz e encaixa o conteúdo, ou seja, dispõe a que escrevamos com uma quase ausência da necessária adaptação ao meio em si, pois que se remonte a página de ofício, o A4, um padrão mais antigo, que a se chegar nesse formato o que se escreve encontra mais seu repouso e suas evidências e maior clareza, mesmo quando o assunto é árduo.
            No surgimento dos ofícios da computação, houve quem se antecipasse montando seus escritórios de desenho gráfico, como tudo o que se monta a negócios, e aqueles que mais lucram acabam sofrendo investidas de concorrentes, diluindo ganhos e quebrando os mais fracos. Esse fenômeno que antes facilitava o meio de produção a que as peças gráficas possuíam o encantamento por meios digitais, agora tornam-se mais e mais complexos, ou seja, para se ganhar o equivalente a uma peça gráfica importante em sua confecção mais simplificada e com a devida ciência e arte, agora necessita de muito mais preparação do conteúdo, migrando verdadeiras levas para equipes externas no ganho equivalente aos principiares mais artesanais, em questão de décadas do desenvolvimento dessas inchadas estruturas. A predação é grande, e enquanto não encontrarmos a similaridade com a Natureza e suas interações, não é possível que compreendamos o que se chama economia de mercado, visto esse já não ser uma entidade, mas praticamente uma estrutura estanque e nada dinâmica, já traçada e mapeada, já organizada pelos grandes especuladores e principal responsável pelo atraso nas relações de ordem social e econômica.
            A princípio, podemos afirmar que a mercadoria passa a ser também o comércio quase ingênuo de nossos afetos, porquanto passamos a vincular nossas existências dependendo de máquinas que fazem florescer – nos seus usos ineptos e inconcludentes – a aceitabilidade social e associações sinistras. Nos embates grosseiros, na possibilidades de eventos criminosos, basicamente em uma parafernália algo linear em nossos tempos, onde nosso acesso ao primeiro mundo nos é dado como espectadores, girando a engrenagem em favor da produção externa, submetendo-nos ao que é ilusoriamente interessante, com as montagens e construções de nossos selfies, ainda baseados no ganho paulatino de uma aceitabilidade, na sedimentação dos nossos afetos mal encaixados no sistema, dia após dia, post após post. Demandamos trabalhos a partes que afetam fundamentalmente o mesmo sistema, preservando nossos erros, dando aos controladores o capital girante das informações, o principal fator de lucro do mundo contemporâneo. Girando o planeta na questão de que todos querem estar inseridos em algum contexto, passando a construir na rebarba do que antes poderia ser um ofício do artesanal de uma máquina surgida com todo os seus encantos, a mesma rebarba que nos faz ficarmos cada vez mais distantes dos processos produtivos das faraônicas equipes de capital gigante dos grandes estúdios, em um tipo de passividade onde redescobrir o meio como sustentação do homem fabril, torna-se impossível, enquanto o gesso acaba por revestir aqueles trabalhadores que expões seus perfis para quem – inclusive seus patrões – possam ver quem são e controlar mais de perto suas vidas.
            Há possibilidades de ao menos nos distanciarmos um pouco da questão da participação equivocada, porquanto tentemos nos aproximar mais da natureza das coisas, seus objetos, seus materiais, nos aplicarmos em termos nosso trabalho enquanto parâmetro de conscientização necessária, pois se nosso olhar está diretamente vinculado a uma área quadrada, se sairá sempre melhor aquele que vê o mundo com maior plenitude: olho a olho, mano a mano.

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