Estávamos na
praia, Irene e eu, como tantas eram as águas, o recanto da
proximidade, e a anuência em se permitir assim, juntos, como se diz,
de alguma forma quase no mesmo idioma solar… Era antes de tudo um
reflexo de uma acalorada pertinência, e nos achávamos
particularmente e quase presentes em nós mesmos, dentro quase do
pensar de uma sereia que sequer acreditaríamos, mesmo não podendo
ver tal aparição fantástica de uma lenda esquecida sobre a
areia.
Algo de mítico permitia a alguém que gostasse de ler
nas pedras daquele mar o respirar das gaivotas, todas em seus tempos,
quase batendo as asas, e por vezes planando no sorriso do vento. Não,
não seria aquele arremedo de história quase sem o nexo descritivo
que talharia a forma de tempos que não se repetissem, de um casal
espalhado sobre uma esteira de vime que não fora a vertente máxima
do ato, mas apenas deitar-se sobre o conforto da vida…
Na
máxima de uma história, talvez, um sentimento de areias perenes, o
sentimento dessas areias, quem dera, as areias e seus universos, os
pares de seus grãos, o infinito que se espalhava em seus fragmentos
pelos corpos daqueles dois seres, um homem e uma mulher. Um típico
desfecho nos saltaria aos olhos desse confortável dilema de sequer
pensar, e efetivamente estávamos, que nos amamos quase sempre… No
que o sempre nos fora quaisquer lados, o lado que nos ditava, quando
nos virávamos para ver nosso filho brincando com o seu pequeno
caminhão que compráramos no brechó, o nosso filho, dentro da
esperança de que não a tínhamos necessariamente, pois estávamos
dentro do espectro do azul de uma água que vertia suas escumas pela
tez do olhar da Natureza. Quando aliviados com nossos pequenos
beijos, quando eu a beijava um pouco, antes de passar a voz em suas
narinas quentes, não sabia que nossos sentidos se mesclavam dentro
do universo mesmo da expressão do carinho, nas frentes em que não
pensamos muito na questão.
Nosso poderes clamavam em esboçar
a atitude do afeto, tão faltante antes em mim, em não externar a
capacidade que não observara antes no corpo daquela mulher, que a
mim seria tal que não estaria dentro de um mapa de astrologia, posto
não haver ausência de estrelas, mas todas estavam fora das medidas
dos signos, assombrando a mim, que já convivia com ela fazia mais de
década, década de descobertas, dia após dia. Nada do que
pretendíamos falar diria menos do que podíamos dentro do universo
das palavras. Um toque fraterno nos tornava meros irmãos por vezes,
mas a sutileza de quando nos encaminhávamos juntos ao mar
transcendia mesmo o amor quase ausente de outros que não possuíam a
faculdade do despertar da flor de cada qual em sua serena primavera.
Não chamávamos atenção de ninguém, nenhum gesto nos
confeccionava, e a minha felicidade era descobrir que o nosso filho
estava feliz, esse era o meu gesto factual, essa era igualmente a
minha questão, o filho que escolhíamos por quase decretar o
intangível ato que nos lembrava o tempo em que a fecundação
acontecera, dentro do mar maravilhoso daquela mulher, que prossegui
amando todo o tempo, incluso no término do parágrafo final.
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