terça-feira, 13 de setembro de 2022

UM PEQUENO CONTO DE UMA AREIA

 


         Estávamos na praia, Irene e eu, como tantas eram as águas, o recanto da proximidade, e a anuência em se permitir assim, juntos, como se diz, de alguma forma quase no mesmo idioma solar… Era antes de tudo um reflexo de uma acalorada pertinência, e nos achávamos particularmente e quase presentes em nós mesmos, dentro quase do pensar de uma sereia que sequer acreditaríamos, mesmo não podendo ver tal aparição fantástica de uma lenda esquecida sobre a areia.
         Algo de mítico permitia a alguém que gostasse de ler nas pedras daquele mar o respirar das gaivotas, todas em seus tempos, quase batendo as asas, e por vezes planando no sorriso do vento. Não, não seria aquele arremedo de história quase sem o nexo descritivo que talharia a forma de tempos que não se repetissem, de um casal espalhado sobre uma esteira de vime que não fora a vertente máxima do ato, mas apenas deitar-se sobre o conforto da vida…
         Na máxima de uma história, talvez, um sentimento de areias perenes, o sentimento dessas areias, quem dera, as areias e seus universos, os pares de seus grãos, o infinito que se espalhava em seus fragmentos pelos corpos daqueles dois seres, um homem e uma mulher. Um típico desfecho nos saltaria aos olhos desse confortável dilema de sequer pensar, e efetivamente estávamos, que nos amamos quase sempre… No que o sempre nos fora quaisquer lados, o lado que nos ditava, quando nos virávamos para ver nosso filho brincando com o seu pequeno caminhão que compráramos no brechó, o nosso filho, dentro da esperança de que não a tínhamos necessariamente, pois estávamos dentro do espectro do azul de uma água que vertia suas escumas pela tez do olhar da Natureza. Quando aliviados com nossos pequenos beijos, quando eu a beijava um pouco, antes de passar a voz em suas narinas quentes, não sabia que nossos sentidos se mesclavam dentro do universo mesmo da expressão do carinho, nas frentes em que não pensamos muito na questão.
          Nosso poderes clamavam em esboçar a atitude do afeto, tão faltante antes em mim, em não externar a capacidade que não observara antes no corpo daquela mulher, que a mim seria tal que não estaria dentro de um mapa de astrologia, posto não haver ausência de estrelas, mas todas estavam fora das medidas dos signos, assombrando a mim, que já convivia com ela fazia mais de década, década de descobertas, dia após dia. Nada do que pretendíamos falar diria menos do que podíamos dentro do universo das palavras. Um toque fraterno nos tornava meros irmãos por vezes, mas a sutileza de quando nos encaminhávamos juntos ao mar transcendia mesmo o amor quase ausente de outros que não possuíam a faculdade do despertar da flor de cada qual em sua serena primavera.
          Não chamávamos atenção de ninguém, nenhum gesto nos confeccionava, e a minha felicidade era descobrir que o nosso filho estava feliz, esse era o meu gesto factual, essa era igualmente a minha questão, o filho que escolhíamos por quase decretar o intangível ato que nos lembrava o tempo em que a fecundação acontecera, dentro do mar maravilhoso daquela mulher, que prossegui amando todo o tempo, incluso no término do parágrafo final.

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