domingo, 25 de outubro de 2020

UM ROTEIRO PARA UM FILME INACABADO

 

            Viriam atores bufões para um quase cenário… Tantos e tantos como um contrato de telemarketing. Cada qual com a liberdade de atuar como quisesse, falar o que viesse na telha, redarguir de modo consoante com significados vários. Seria um filme imenso, não só apenas pela tripa de película como na amplitude do áudio. O diretor ficaria com um ego de dar inveja de si mesmo, sabendo que nem sempre teria essa liberdade. Sempre a liberdade, essa palavra que não põe freios em nada, de dizer bobagens, de construir um filme inacabado. O roteiro, marcado por um tempo de alguns dias, no seu principiar, tenderia a ser mais lógico do que sentimental, mais Goethe do que Shakespeare, mais de sombras do que de luzes, mais Hegel do que Descartes. Adão seria o primeiro ator na tela e Eva seria no plano teórico a última a sair de cena, devidamente enamorada de Sancho Pança. E Quixote, amigo de uma Comédia Humana faria de Dante e Cervantes uma amizade inquestionável, estreitando o tempo entre os dois. Tudo pontuado, tudo remarcado com cortes de cena, com as antigas montagens no acetato, e com a revelação indescritível nos cristais de prata, assim como ser, um filme P&B. Destarte, não fosse por essa ordem haveria também uma hierarquia um pouco mais flexível, onde uma patente mais baixa marcaria o tom de toda uma parafernália questionável, ou não…
            Seria um filme de produção meio dependente de alguns recursos, estes que viriam dos orçamentos do absurdo, antes mesmo do projeto sair do papel: começando o orçamento, começando o absurdo. A mais de não dizer que o filme seria inacabado como Viva México, rabiscado e não concluído. Nas tentativas de se fazer o melhor, outros atores entrariam em cena para atrapalhar com um humor algo sinistro o trágico desfecho do roteiro, posto drama, posto equívoco! Outra história bateria no coração de Cartola, renascendo um morro outro: sem milícia e sem tráfico. Desse morro os moradores teriam bons sapatos, boas rendas e bons trabalhos.
           Viria esse roteiro depois das doenças, depois do vírus, no cantar de uma esperança para toda uma população que visse na arte uma saída para o infinito de surpresas e boas novas. Sem erradicar as sementes transgênicas, mas sedimentando o acesso ilimitado aos orgânicos, como uma boa e nova horta multinacional, no ótimo sentido, ao livre consumo planetário, sem que para isso esqueçamos que estamos em um filme. A vida pediria passagem, e a construção inacabada de um roteiro quase inexistente aos olhos vulgares seria o modo mais circunflexo de pedir ajuda aos órgãos internacionais de cultura – se é que isso pudesse existir – para erradicar a fome de finalmente olharmos para um entretenimento como se olha para um ser amado... Um dos sem nome que seja, mas não com a patifaria excludente que verte dos olhos de uma esmeralda falsa e sem expectativa de fazer deste mundo um lugar melhor para se viver. E para cada câmera, em cada nicho da cidade, que se somassem esforços para erradicar o crime e suas intenções nefastas! No mais de sabermos que todo o filme inacabado termina às vezes no flagrante que condiz com a realidade, e que toda a ficção remeta a uma grande paz em que a vertente do significado da existência participe a todos um clímax de tranquilidade. Com a finalidade de nos sentirmos mais seguros com a boa qualificação, com cenas de teor libertário, com os significados primeiros da palavra ação, e o mote de se resolver contendas com diálogos de bom entendimento… Esse pode ser um filme inacabado, digital ou de celuloide, trigonométrico ou na álgebra, científico e amoroso, posto todas as centenas de atores estarem de máscara, apenas esperando da ciência e do bom senso a hora de rodarem o roteiro original!


Nenhum comentário:

Postar um comentário