Viriam atores bufões
para um quase cenário… Tantos e tantos como um contrato de
telemarketing. Cada qual com a liberdade de atuar como quisesse,
falar o que viesse na telha, redarguir de modo consoante com
significados vários. Seria um filme imenso, não só apenas pela
tripa de película como na amplitude do áudio. O diretor ficaria com
um ego de dar inveja de si mesmo, sabendo que nem sempre teria essa
liberdade. Sempre a liberdade, essa palavra que não põe freios em
nada, de dizer bobagens, de construir um filme inacabado. O roteiro,
marcado por um tempo de alguns dias, no seu principiar, tenderia a
ser mais lógico do que sentimental, mais Goethe do que Shakespeare,
mais de sombras do que de luzes, mais Hegel do que Descartes. Adão
seria o primeiro ator na tela e Eva seria no plano teórico a última
a sair de cena, devidamente enamorada de Sancho Pança. E Quixote,
amigo de uma Comédia Humana faria de Dante e Cervantes uma amizade
inquestionável, estreitando o tempo entre os dois. Tudo pontuado,
tudo remarcado com cortes de cena, com as antigas montagens no
acetato, e com a revelação indescritível nos cristais de prata,
assim como ser, um filme P&B. Destarte, não fosse por essa ordem
haveria também uma hierarquia um pouco mais flexível, onde uma
patente mais baixa marcaria o tom de toda uma parafernália
questionável, ou não…
Seria um filme de produção meio
dependente de alguns recursos, estes que viriam dos orçamentos do
absurdo, antes mesmo do projeto sair do papel: começando o
orçamento, começando o absurdo. A mais de não dizer que o filme
seria inacabado como Viva México, rabiscado e não concluído. Nas
tentativas de se fazer o melhor, outros atores entrariam em cena para
atrapalhar com um humor algo sinistro o trágico desfecho do roteiro,
posto drama, posto equívoco! Outra história bateria no coração de
Cartola, renascendo um morro outro: sem milícia e sem tráfico.
Desse morro os moradores teriam bons sapatos, boas rendas e bons
trabalhos.
Viria esse roteiro depois das doenças, depois do
vírus, no cantar de uma esperança para toda uma população que
visse na arte uma saída para o infinito de surpresas e boas novas.
Sem erradicar as sementes transgênicas, mas sedimentando o acesso
ilimitado aos orgânicos, como uma boa e nova horta multinacional, no
ótimo sentido, ao livre consumo planetário, sem que para isso
esqueçamos que estamos em um filme. A vida pediria passagem, e a
construção inacabada de um roteiro quase inexistente aos olhos
vulgares seria o modo mais circunflexo de pedir ajuda aos órgãos
internacionais de cultura – se é que isso pudesse existir – para
erradicar a fome de finalmente olharmos para um entretenimento como
se olha para um ser amado... Um dos sem nome que seja, mas não com a
patifaria excludente que verte dos olhos de uma esmeralda falsa e sem
expectativa de fazer deste mundo um lugar melhor para se viver. E
para cada câmera, em cada nicho da cidade, que se somassem esforços
para erradicar o crime e suas intenções nefastas! No mais de
sabermos que todo o filme inacabado termina às vezes no flagrante
que condiz com a realidade, e que toda a ficção remeta a uma grande
paz em que a vertente do significado da existência participe a todos
um clímax de tranquilidade. Com a finalidade de nos sentirmos mais seguros com
a boa qualificação, com cenas de teor libertário, com os
significados primeiros da palavra ação, e o mote de se resolver
contendas com diálogos de bom entendimento… Esse pode ser um filme
inacabado, digital ou de celuloide, trigonométrico ou na álgebra,
científico e amoroso, posto todas as centenas de atores estarem de
máscara, apenas esperando da ciência e do bom senso a hora de
rodarem o roteiro original!
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