A ordenação de um jogo
estratégico supõe dois contendores à altura, e grau de
complexidade crescente, como no xadrez uma boa abertura, seus
desenvolvimentos e a finalização maestrina. O GO prossegue sendo um
jogo de refinamentos especiais em sua territorialidade, com a busca
dos espaços, a redução das vidas simbólicas e a ocupação nas
áreas… Dois jogos extremamente antigos que buscam na habilidade da
inteligência seus mais refinados aspectos, nem tanto por serem quase
perfeitos em sua concepção como na beleza estratégica de suas
vertentes.
Criar um game board não é fácil pois preza pela
área onde acontece, mas não estremeçamos com o fato pois é
possível criar os jogos que ainda não foram concebidos. Não
digamos que seja um tipo de parto, um heureca de Arquimedes, a
lâmpada de Thomas Edson, pois a ciência gosta quando se encontra a
possibilidade de se criar algo lúdico para crianças e adultos, na
progressão correta do bom ensinar e do bom aprender. Uma equação
matemática pode ser igualmente estratégica se chegamos a um ponto
qualquer do espaço, se vemos que dois pontos em uma reta pode gerar
um terceiro, formando uma área, acrescendo o mesmo espaço nas três
dimensões, para depois dessa base surgir mais um ponto recriando um
objeto no espaço, que obviamente será um tipo de pirâmide, a saber
que pode surgir perfeita e conceitualmente em uma forma – um shape
– perfeita. A matemática da área em suas diagonais, no L do
cavalo, na limitação relativa do peão e suas inquestionáveis
funções, na força longitudinal de uma torre, e todas as variantes
de um jogo que demonstra suas infinitas possibilidades estratégicas,
na combinação racional e aleatória, quando esta se baseia em uma
distração do jogador. A estratégia da batalha campal do futebol, e
como isso instiga jogadores e plateia, como isso leva por vezes um
homem a ficar nos extremos da felicidade ou tristeza. Esse “ter um
time”, esse “participar”, essa catarse vai muito além da
cultura como modalidade de fato: no canto, no violino, no piano.
Quando se estabelece igualmente na poesia, nas artes visuais, no
teatro e na literatura, o jogo requer mais conhecimentos e
habilidades intelectuais, onde o goal mostra que os resultados
fazem parte de um animismo, de um tipo de catarse estética onde a
vanguarda é a própria estratégia, e onde a contestação
inteligente passa pela ordem semântica da criação. Muitas coisas
são um tipo de jogo inevitável, como a política, a economia, a
ciência, a educação e, por vezes, a própria saúde em suas
modalidades de tentativa e erro.
Quando
bem elaborados no plano cultural, os diversos modais do jogo podem
ensaiar climas saudáveis para encontrarmos a paz, no tocante a não
acreditarmos nos conflitos – externos ou internos – que não
estejam de acordo com o desejo daquela pois, quando passamos a crer
que a guerra é algo de se jogar interessantemente, passamos a
refutar de modo imbecil toda a fé em um mundo onde jogos saudáveis
e construtivos possam realmente elucidar os mistérios de nosso
mundo, tão afeito ao ludens de nossa percepção não
necessariamente tão estrita como pensamos… É por esse viés que
podemos conduzir a viabilidade da coexistência de uma ordem
pacífica, estável e generosa e que toda a forma de algum tipo de
competição seja compatível com um jogo, pois não é apenas
parafraseando Paulo Coelho, mas este estava certo quando afirmou na
canção que é de batalhas que se vive a vida.
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