segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O JOGO DA ESTRATÉGIA COMO ORDEM

 

         A ordenação de um jogo estratégico supõe dois contendores à altura, e grau de complexidade crescente, como no xadrez uma boa abertura, seus desenvolvimentos e a finalização maestrina. O GO prossegue sendo um jogo de refinamentos especiais em sua territorialidade, com a busca dos espaços, a redução das vidas simbólicas e a ocupação nas áreas… Dois jogos extremamente antigos que buscam na habilidade da inteligência seus mais refinados aspectos, nem tanto por serem quase perfeitos em sua concepção como na beleza estratégica de suas vertentes.
          Criar um game board não é fácil pois preza pela área onde acontece, mas não estremeçamos com o fato pois é possível criar os jogos que ainda não foram concebidos. Não digamos que seja um tipo de parto, um heureca de Arquimedes, a lâmpada de Thomas Edson, pois a ciência gosta quando se encontra a possibilidade de se criar algo lúdico para crianças e adultos, na progressão correta do bom ensinar e do bom aprender. Uma equação matemática pode ser igualmente estratégica se chegamos a um ponto qualquer do espaço, se vemos que dois pontos em uma reta pode gerar um terceiro, formando uma área, acrescendo o mesmo espaço nas três dimensões, para depois dessa base surgir mais um ponto recriando um objeto no espaço, que obviamente será um tipo de pirâmide, a saber que pode surgir perfeita e conceitualmente em uma forma – um shape – perfeita. A matemática da área em suas diagonais, no L do cavalo, na limitação relativa do peão e suas inquestionáveis funções, na força longitudinal de uma torre, e todas as variantes de um jogo que demonstra suas infinitas possibilidades estratégicas, na combinação racional e aleatória, quando esta se baseia em uma distração do jogador. A estratégia da batalha campal do futebol, e como isso instiga jogadores e plateia, como isso leva por vezes um homem a ficar nos extremos da felicidade ou tristeza. Esse “ter um time”, esse “participar”, essa catarse vai muito além da cultura como modalidade de fato: no canto, no violino, no piano. Quando se estabelece igualmente na poesia, nas artes visuais, no teatro e na literatura, o jogo requer mais conhecimentos e habilidades intelectuais, onde o goal mostra que os resultados fazem parte de um animismo, de um tipo de catarse estética onde a vanguarda é a própria estratégia, e onde a contestação inteligente passa pela ordem semântica da criação. Muitas coisas são um tipo de jogo inevitável, como a política, a economia, a ciência, a educação e, por vezes, a própria saúde em suas modalidades de tentativa e erro.
          Quando bem elaborados no plano cultural, os diversos modais do jogo podem ensaiar climas saudáveis para encontrarmos a paz, no tocante a não acreditarmos nos conflitos – externos ou internos – que não estejam de acordo com o desejo daquela pois, quando passamos a crer que a guerra é algo de se jogar interessantemente, passamos a refutar de modo imbecil toda a fé em um mundo onde jogos saudáveis e construtivos possam realmente elucidar os mistérios de nosso mundo, tão afeito ao ludens de nossa percepção não necessariamente tão estrita como pensamos… É por esse viés que podemos conduzir a viabilidade da coexistência de uma ordem pacífica, estável e generosa e que toda a forma de algum tipo de competição seja compatível com um jogo, pois não é apenas parafraseando Paulo Coelho, mas este estava certo quando afirmou na canção que é de batalhas que se vive a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário